24.2.15

Exit

Chegados de Calcutá ao aeroporto de Banguecoque, apercebemo-nos dos higienistas que viveram dentro de nos escondidos, até aqui. Estamos admirados, tudo nos parece impecavelmente limpo e brilhante. Estamos admirados com a nossa admiração. Agora somos estes ?
Da imaculada e omnipresente fotografia do rei ao caixote do lixo, tudo luz e reluz.Não era preciso tanto, a simples presença de caixotes de lixo espanta-nos. Não vamos mais precisar de carregar as embalagens de bolachas durante todo o dia no bolso, para no final deitarmos no caixote do lixo do hotel, para finalmente ser deitado na rua pelo recepcionista. Agora podemos comer e jogar fora quase imediatamente. O luxo do lixo.
O táxi voa na autoestrada até ao centro da cidade, nas portagens para e paga a soma certa. Na Índia até nas portagens há um intermediario, um homem de pé que recebe o dinheiro e da ao senhor que esta sentado na cabine, há sempre uma conversa de 5 minutos até que fique paga a portagem. Calculamos a comissão do intermediario, o negocio feito pelo motorista, se conseguiu um preço justo ou não.
No dia a seguir estamos mortos, passamos o dia entre o buffet do pequeno almoço e a piscina.
Para provar que não estamos morto arrastamo-nos até a um tuk tuk, para nos arrastar-nos até um barco, para nos arrastar-nos até ao templo da Aurora. Um programa para a terceira idade.
Para apanharmos o tuk tuk, um homem propoem-nos "ajuda", diz-nos que o templo em questão esta fechado hoje e sugere-nos outro muito mais interessante mais longe, mas que é um privilégio porque é o ultimo dia que esta aberto para os turistas. Esta é a coisa boa com Banguecoque, os esquemas são sempre os mesmos, não há surpresas. Sempre o sitio onde queremos ir encontra-se fechado e temos que ir a outro onde alguém vai receber uma comissão. Sempre tão reconfortante, quase que damos pancadinhas nas costas deste amável e amador senhor.
Vamos ao tempo da Aurora, que evidentemente não esta fechado, subimos as escadas e no final, afinal a terceira idade não esta tão presente assim, há mulheres com vertigens a chorar nas escadas para descer, uma rapariga recusa-se a avançar e os amigos tentam leva-la à razao, esta quase a escurecer, vai ser pior quando for de noite. E nos andamos a fugir destas cenas para que não percebamos que tudo não é assim tão normal quanto parecia. Mas é , quando os mais nervosos se vão embora, descemos sem problemas e o meu filho até aceitar ser fotografado por uma simpática chinesa que lhe chama de hansome. E tem razão.

A hora do lanche, apetece-nos almoçar e vamos a um sitio onde tínhamos jurado nunca mais meter os pés. Khao San Road. Há mais de uma década atrás, quando não tínhamos filhos, nem casa para pagar tínhamos vindo a Banguecoque e todos os caminhos levavam a Khao San Road. Tinhamos fugido o mais rápido que podiamos. Bares de prostituição, adolescentes bêbados, néon e muito ma musica. Por muito que fossemos jovens e gostássemos de cerveja, este tipo de ambientes tinha-nos repugnado. Por isso, foi a medo que voltamos ao sitio onde almoçar às 4h da tarde seria possível. Khao San Road tinha mudado.
Já não tem bares de prostituição, pelo menos não aparente. As t-shirts são mais variadas, de menor qualidade e muito mais caras. A musica mais alta. Temos que pedir pauzinhos para comer, porque a comida vem já com garfos e colheres. Fazem-se massagens na rua a quem bebe cerveja e olha para o Iphone ao mesmo tempo. Mas ainda se vê quem faça tatuagens bêbado e o Pad Thai continua a dominar o cardápio. Os bons valores.
Estamos no nosso dia de descompressão. A Índia ainda esta em todo o lado. Passamos por um templo de Ganesh para chegarmos ao restaurante e agora estamos a ouvir gritos histéricos de um grupo de homens. Viram uma ratazana. Os meus filhos começam a rir. Tanta coisa por causa de uma pobre ratazana. Uns homens tão grandes. Enquanto continuam a descrever dez vezes seguidas o tamanho do bicho, começamos a enumerar tudo o que passou por nos nestas ultimas semanas. As baratas nos quartos em Tamil Nadu. O esquilo, que se calhar era um rato que nos comeu o saco, as bolachas e a embalagem. A vacas. A bosta de vaca que quase nos caiu em cima. O xixi de macaco que eu pisei, pés nus, num templo de Hanuman, as cabras, os porcos que nos atropelaram num cruzamento em Varanasi, os ratinhos, os ratos, as ratazanas, o cão que corria nas ruas de Udaipur com o que eu pensei ser um frango, mas que era uma ratazana, na boca, os vários tipos de macacos, o que nos roubou a casca das bananas no castelo de Moonson, o que nos atacou na estrada sem razão aparente. E agora uma ratazana. Tanta coisa por causa de um bicho que esta apenas a fazer pela vida.
Estávamos a sentir-nos assim, um certo tipo de família Indiana Jones, quando um prestavel senhor nos apresenta um tabuleiro com espetadas suculentas : one scorpio for the kids, sir ?

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