Varias pessoas, artigos de revistas e livros tinham-me dito que a Índia, minha cara, ou se ama ou se detesta. Mas eu tenho lido tanta mentira, que não liguei. E a bom tempo o fiz.
E se nos deixássemos de slogans fáceis e verdades absolutas de uma vez por todas, ou pelo menos, uma vez por semana ? Imaginem as terças feiras da ponderação, relativismo e dos nossos pés nos sapatos dos outros. Acredito que viesse a ser um belo passo para a humanidade. E às sextas era vegetariano.
A Índia, para começar nem sequer é a Índia. Existem não sei quantas Índias na palavra Índia.. Se mesmo o Alentejo tem o baixo e o Alto, agora pensem bem na Índia. Aquele pais, que mais parece um continente inteiro. Que quase pareceria um mundo, estivesse eu dada a exageros realistas.
Penso, por exemplo, por Estados, que deve ser a maneira mais aborrecida que se pode pensar de um pais - notem o esforço. Nesta loucura que foi planificar um itinerário espontâneo, durante um mês e meio, passamos por vários Estados. Cinco. Com alguma batota sete. Não podiam ser mais diferentes.
Um ponto da situação.
Tamil Nadu. Não contem com Tamil Nadu para exibirem os vossos conhecimentos linguísticos, os meus pobres filhos chegaram a pensar que Namasté era uma palavra inventada por mim. Só no final da viagem, quando chegamos ao Rajastão, os indianos começaram a mostrar alguma motivação para cooperarem. Até la, iam mudando de língua, como se tudo o resto não fosse por si só suficientemente difícil para quem os esta a visitar pela primeira vez. Tamil Nadu, por exemplo, foi uma escola bizarra para quem visita a Índia pela primeira vez. Os templos e os rituais são completamente diferentes de tudo a que um viajante debutante poderia estar habituado. As cidades são caóticas, a poluição sonora pode-se tocar, a visual consegue-se cheirar e a geral, para dizer a verdade, é bastante generalizada. As pessoas pedem-nos para tirarem fotos de nos mesmos, que somos a peça menos interessante desta imagem. As vacas, ao menos, as vacas assumem correctamente o seu papel. São sagradas e não se fala mais nisso. A comida é picante, tudo bem, mas não existem pratos, nem talheres e por um pouco quase não existem copos. A comida é servida em folhas de bananeira, a mão direita leva-a à boca e bebe-se sem tocar com a boca no copo.O memorial a Gandhi. Gandhi transformado em herói aos olhos dos meus filhos. Aos meus olhos também. Tamil Nadu seria um grande choque, não fosse Pondicherry. E depois ainda tenho que falar de Auroville. Gostei de Tamil Nadu. Muito. Mas foi complicado, como certas relações nas redes sociais.
Depois veio o Kerala. Tão fácil o Kerala. Quase que fiquei em choque quando vi as pernas das mulheres à mostra, depois de tanto tempo a transpirar com lençóis a tapar isto e calças a tapar aquilo, parecia que todos andavam nus. Cochim do Vasco da Gama. As ruas direitas e asseadas. O mercado judeu onde se pode acreditar que se fez bons negócios, por muito ilusório que esta crença possa ser. O palácio holandês, que afinal era o da família real, que afinal foi construído pelos portugueses. O forte. As redes de pesca chinesas e os backwaters. Dias de calma numa ilha só para nos, com coqueiros e pescadores a virem mostrar-nos o peixe ainda a nadar, que depois íamos comer à noite. Os templos com elefantes a benzer quem queria ser benzido. Quanto mais rico o templo, mais elefantes no seu festival. Passamos por um com quinze. Quinze elefantes gigantes, como os elefantes têm por habito ser, acorrentados, como os elefantes nunca deveriam estar. O meu filho a chorar. Os indianos a fotografar. Nos a fugir. Munnar e as plantações de chá. Pegadas de elefante nas plantações, passam sem estragar, não gostam de cha. Um safari nocturno onde nos prometeram elefantes selvagens e onde vimos veados. 6 horas de viagem à procura.
A seguir Goa, com as suas praia hipnotizantes, de onde cheguei a pensar nunca mais sair. O zen dos turistas yoggis. A simpatia dos emigrantes nepaleses. Goa velha, com as igrejas portuguesas. O corpo de São Francisco Xavier. A estadia inspiradora de Camões. O racismo de algumas estátuas. A cólera. O abandono da cidade. Paniji e as ruas com nomes portuguesas. As igrejas. O cantinho dos Afonsos. O monte das Fontainhas. A cruz da Inquisição presente numa igreja e não num museu. A falta de senso. A falta de vergonha. O absurdo das conversões forçadas. As igrejas a abarrotar.
O dinheiro de antigamente e de hoje do Rajastão. A falta de dinheiro de antigamente e de hoje do Rajastão. O futuro do Rajastão. A cidade azul de Jodpur. O cor de rosa de Jaipur. A pobreza na grande cidade de Jaipur. A mãe que da o banho ao filho na rua. Os dentes do filho a tiritar. Um elefante colorido que passa na rua. O palácio do vento. A astronomia.
Uttar Pradesh e o Taj Mahal. Os macacos de Agar. E Varanasi. Vários parágrafos para Varanasi e não seria suficiente. Preciso de fôlego e tempo, voltarei mais tarde a Varanasi. Aqui para escrever e depois para la voltar. Tantas Índias dentro de Varanasi. Tantos homens, tanta vida, tanto de nos.
A Índia não se ama, não se detesta. A India ama-se e detesta-se. Não sei o que se faz na Índia. Não sei o que tenho a aprender com o que vi e sobretudo com o que ainda não digerir. Não tenho conclusões rápidas, nem lentas para acabar este texto. E nem sequer tenho nada a lamentar. Vivi e, por enquanto, basta-me. O que, convenhemos, é raro, por estes lados.
E se nos deixássemos de slogans fáceis e verdades absolutas de uma vez por todas, ou pelo menos, uma vez por semana ? Imaginem as terças feiras da ponderação, relativismo e dos nossos pés nos sapatos dos outros. Acredito que viesse a ser um belo passo para a humanidade. E às sextas era vegetariano.
A Índia, para começar nem sequer é a Índia. Existem não sei quantas Índias na palavra Índia.. Se mesmo o Alentejo tem o baixo e o Alto, agora pensem bem na Índia. Aquele pais, que mais parece um continente inteiro. Que quase pareceria um mundo, estivesse eu dada a exageros realistas.
Penso, por exemplo, por Estados, que deve ser a maneira mais aborrecida que se pode pensar de um pais - notem o esforço. Nesta loucura que foi planificar um itinerário espontâneo, durante um mês e meio, passamos por vários Estados. Cinco. Com alguma batota sete. Não podiam ser mais diferentes.
Um ponto da situação.
Tamil Nadu. Não contem com Tamil Nadu para exibirem os vossos conhecimentos linguísticos, os meus pobres filhos chegaram a pensar que Namasté era uma palavra inventada por mim. Só no final da viagem, quando chegamos ao Rajastão, os indianos começaram a mostrar alguma motivação para cooperarem. Até la, iam mudando de língua, como se tudo o resto não fosse por si só suficientemente difícil para quem os esta a visitar pela primeira vez. Tamil Nadu, por exemplo, foi uma escola bizarra para quem visita a Índia pela primeira vez. Os templos e os rituais são completamente diferentes de tudo a que um viajante debutante poderia estar habituado. As cidades são caóticas, a poluição sonora pode-se tocar, a visual consegue-se cheirar e a geral, para dizer a verdade, é bastante generalizada. As pessoas pedem-nos para tirarem fotos de nos mesmos, que somos a peça menos interessante desta imagem. As vacas, ao menos, as vacas assumem correctamente o seu papel. São sagradas e não se fala mais nisso. A comida é picante, tudo bem, mas não existem pratos, nem talheres e por um pouco quase não existem copos. A comida é servida em folhas de bananeira, a mão direita leva-a à boca e bebe-se sem tocar com a boca no copo.O memorial a Gandhi. Gandhi transformado em herói aos olhos dos meus filhos. Aos meus olhos também. Tamil Nadu seria um grande choque, não fosse Pondicherry. E depois ainda tenho que falar de Auroville. Gostei de Tamil Nadu. Muito. Mas foi complicado, como certas relações nas redes sociais.
Depois veio o Kerala. Tão fácil o Kerala. Quase que fiquei em choque quando vi as pernas das mulheres à mostra, depois de tanto tempo a transpirar com lençóis a tapar isto e calças a tapar aquilo, parecia que todos andavam nus. Cochim do Vasco da Gama. As ruas direitas e asseadas. O mercado judeu onde se pode acreditar que se fez bons negócios, por muito ilusório que esta crença possa ser. O palácio holandês, que afinal era o da família real, que afinal foi construído pelos portugueses. O forte. As redes de pesca chinesas e os backwaters. Dias de calma numa ilha só para nos, com coqueiros e pescadores a virem mostrar-nos o peixe ainda a nadar, que depois íamos comer à noite. Os templos com elefantes a benzer quem queria ser benzido. Quanto mais rico o templo, mais elefantes no seu festival. Passamos por um com quinze. Quinze elefantes gigantes, como os elefantes têm por habito ser, acorrentados, como os elefantes nunca deveriam estar. O meu filho a chorar. Os indianos a fotografar. Nos a fugir. Munnar e as plantações de chá. Pegadas de elefante nas plantações, passam sem estragar, não gostam de cha. Um safari nocturno onde nos prometeram elefantes selvagens e onde vimos veados. 6 horas de viagem à procura.
A seguir Goa, com as suas praia hipnotizantes, de onde cheguei a pensar nunca mais sair. O zen dos turistas yoggis. A simpatia dos emigrantes nepaleses. Goa velha, com as igrejas portuguesas. O corpo de São Francisco Xavier. A estadia inspiradora de Camões. O racismo de algumas estátuas. A cólera. O abandono da cidade. Paniji e as ruas com nomes portuguesas. As igrejas. O cantinho dos Afonsos. O monte das Fontainhas. A cruz da Inquisição presente numa igreja e não num museu. A falta de senso. A falta de vergonha. O absurdo das conversões forçadas. As igrejas a abarrotar.
O dinheiro de antigamente e de hoje do Rajastão. A falta de dinheiro de antigamente e de hoje do Rajastão. O futuro do Rajastão. A cidade azul de Jodpur. O cor de rosa de Jaipur. A pobreza na grande cidade de Jaipur. A mãe que da o banho ao filho na rua. Os dentes do filho a tiritar. Um elefante colorido que passa na rua. O palácio do vento. A astronomia.
Uttar Pradesh e o Taj Mahal. Os macacos de Agar. E Varanasi. Vários parágrafos para Varanasi e não seria suficiente. Preciso de fôlego e tempo, voltarei mais tarde a Varanasi. Aqui para escrever e depois para la voltar. Tantas Índias dentro de Varanasi. Tantos homens, tanta vida, tanto de nos.
A Índia não se ama, não se detesta. A India ama-se e detesta-se. Não sei o que se faz na Índia. Não sei o que tenho a aprender com o que vi e sobretudo com o que ainda não digerir. Não tenho conclusões rápidas, nem lentas para acabar este texto. E nem sequer tenho nada a lamentar. Vivi e, por enquanto, basta-me. O que, convenhemos, é raro, por estes lados.
Tão bem escrito que me levaste em viagem.
ResponderEliminarGosto cada vez mais da Índia. A Índia é a tua cara. Já tinha dito, não já?
ResponderEliminar:)
ResponderEliminarE eu que só passei por Goa ...
Estou exactamente assim.
Não sei o que pensar.
Mas gostava de lá voltar.