Estamos a viajar pela Tailândia aos flashbacks, Bangkok, Ayutthaya, Sukothai - parecemos actores de um Citizen Kane a cores. O que estamos a viver, explica-se na etapa a seguir, que começou nas ruas da cidade que vamos visitar depois. E a seguir e a seguir, sempre em frente até ao passado. O inicio do principio. Antes de Tailândia, antes do império do Sião, antes dos reinados que nem sabia que existiram, antes de viajar.
Dos arranhas céus de Bangkok, das ruas onde todos falam no IPhone com quem esta longe, entramos no século 18, na cidade velha do rei Rama I. Sentamo-nos na posição do lotus em frente ao Buda de esmeralda. Recebemos massagens no Wat Po. Navegamos no Chao Phraya. Provamos o sticky rice com manga, feitos em cozinhas de dois séculos atrás e que aparentemente nunca sofreram renovações. Vai acontecer-nos, o que tiver que acontecer. E, no meio, ganhamos muito tempo com os murais da saga do deus-homem Rama, que veio da Índia. De onde nos também vimos.
No museu do Sião, explicam-nos como era a vida em Ayutthaya. Ayutthaya, século 14, rei U-Thong. Apanhamos um rickshaw que nos leva através de um trafico impossível até aos mini bus ligeiramente ilegais que nos levam a Ayutthaya. Ar condicionado e passageiros simpáticos que nos ajudam com as bagagens. Chegamos de noite, sem reservas, como juramos nunca fazer quando viajamos com crianças. Mas sabotamos varias vezes esta resolução. Juro que é involuntária, mas confesso que é a minha maneira preferida de chegar a um sitio novo.
A noite não esta muito escura, existem luzes cor de rosa e laranja a decorar as ruas e enormes cartazes anunciam um Happy 2558 ! As ruas estão cheias de decorações chinesas. E comida. E gente. E um dragão verde. Aproximamo-nos de um enorme wook, pedimos quatro doses de pad thai ao travesti que gere o stand. Delicioso. Encontramos um quarto rapidamente, tentamos que as crianças não vejam a piscina e saímos para assistir ao concurso de talentos, aos concertos e às corridas de carrinhos telecomandados.
No dia a seguir acordamos para visitar as ruínas de Ayutthaya. Passeamo-nos pelas ruínas de Chedis, de stupas khmers e do que restou de estátuas de Budas. Pensamos em Bangkok. Imaginamos como seriam. Visitar o que já foi, parece-nos uma viagem melhor do que visitar o que é. Existe espaço para muito mais e nenhum cidade é melhor do que uma cidade que se deixa imaginar. No museu nacional, vemos os tesouros que resistiram aos roubos e entramos em templos não vigiados. Um dos meus filhos aproveita para vestir a pele de um arqueólogo e procura tesouros escondidos que vão enriquecer o património cultural tailandês, outro, mais atento à necessidades da vida material, veste a pele de um ladrão de tesouros, se tiver sorte, vamos todos ficar ricos.
Promessas.
A noite vamos a um mercado para jantar. Uma menina, ainda de uniforme de escola recolhe os pedidos, distribui pratos, vai buscar molhos. De vez em quando, senta-se e choraminga. Não percebo o que diz, mas posso adivinhar. Um cliente chama e a avo manda-a ir ver o que é. Mais molho. Choraminga. Vê-se se esta cansada. O pai, que esta a cozinhar o nosso fried rice farta-se e começa a bater-lhe. Tira o cinto. Nunca tinha visto ninguém tirar o cinto para bater numa criança, até hoje tinha apenas ouvido historias.
De repente, um homem e uma mulher farangs estão entre a criança e o homem. This is not a way to treat a child. Tínhamos, portanto, prometido que não iríamos intervir durante esta viagem. O mundo continua sem nos, tínhamos sabiamente concluído.
Decidi há já algum tempo, não intervir em discussões sobre usar-se a força física para educar. Discussões inférteis sobre este sujeito pululam frequentemente na internet. Estamos em 2015, num pais civilizado. Os intervenientes são pessoas educadas, com facilidade de acesso à informação, mas continuam a julgar que antigamente é que era. Antigamente, quando não havia tempo, educação, conhecimento de outras maneiras mais eficazes de se chegar a um final melhor.
Tenho paciência com os meus filhos. Mas não devo ter muita, ou devo-a ter utilizado toda, porque não tenho com quem tem todas as ferramentas para evoluir, mas não evolui. Decidi não intervir nas discussões, que cada um faça o que pretende com os seus filhos. Eu faço o que acho melhor com os meus. Mas uma coisa é ouvir e ler. Outra é assistir. E assim me encontrei no meio de uma discussão, num pais que não é o meu. A falar numa língua que não é a minha. No meio de uma família que não conheço. Felizmente, a mãe aproveitou a estranha situação que tínhamos criado, agarrou na criança e levou-a de mota. Voltamos para o pé dos nossos filhos, que estavam excitados. a querer sair daquele pais onde os pais batem nos filhos e em que as outras pessoas se riem da situação. O riso asiático. Explicamos o que podemos. Que onde vivemos, também existem pais que batem nos filhos. Com cinto ou com a mão, com marcas ou sem marcas : a tudo se pode chamar de "palmada", depois usa-se nuances, mas a confusão fica instalada. Este homem, também estava apenas a dar uma palmada. A educar. E que o riso nem sempre quer dizer que estamos a gostar, às vezes é sinal de desconforto. Que na Tailândia, perder-se as estribeiras, gritar, deixar-se levar pela raiva é sinal de falta de controlo e de um estado não-evoluído. Pensamos que não ouvimos ninguém gritar, a voz é sempre baixa nas ruas. Que, se calhar, o riso foi a forma de se distanciarem do que estavam a assistir. Mas admito não saber interpretar o que me rodeia.
Tudo isto é estranho de perceber. 2015. 2558. Analfabetos sem tempo, a fazer por sobreviver. Graduados com inteligência, com dinheiro para lazer. Os mesmos métodos. As mesmas mentalidades. Não vai ser com uma simples viagem à volta do mundo que se vai resolver o puzzle.
Chegamos a Sukothai outra vez de noite. Sem reservas. Na primeira guesthouse tinham apenas um quarto pequeno livre. O senhor do tuk tuk, disse-nos que so nos largava quando tivessemos onde dormir. Foi tão duro a negociar no terminal de autocarro, que agora quer-se ver como o motorista exemplar. Na segunda paragem encontramos um bugallow de familia. Pagamoso tuk tuk com baths e sorrisos. Somos gente facil. O lema de Sukothai tem as palavras liberdade e felicidade. Não sei o que realmente se passou nesta cidade, chegam-nos ecos de um rei justo, de paz, da invenção da escrita tai e as ruínas não nos dizem o contrario. Alugamos bicicletas e conseguimos passear durante um dia inteiro a acreditar que a historia de Sukothai é verdade. Vários séculos de distâncias e agua de coco fresca, tornam tudo possível.
Na hora do calor, reclamamos quando as sombras de arvores não nos acompanham no caminho e dirigimo-nos ao museu com ar condicionado. Pelas minhas contas, os povos do sul deviam ser ainda muito mais cultos do que são. Onde se refugiam ao meio dia ? Com a temperatura a aumentar desta foma, ainda nos arriscamos a acabar peritos da Asia do Sudeste.
Dos arranhas céus de Bangkok, das ruas onde todos falam no IPhone com quem esta longe, entramos no século 18, na cidade velha do rei Rama I. Sentamo-nos na posição do lotus em frente ao Buda de esmeralda. Recebemos massagens no Wat Po. Navegamos no Chao Phraya. Provamos o sticky rice com manga, feitos em cozinhas de dois séculos atrás e que aparentemente nunca sofreram renovações. Vai acontecer-nos, o que tiver que acontecer. E, no meio, ganhamos muito tempo com os murais da saga do deus-homem Rama, que veio da Índia. De onde nos também vimos.
No museu do Sião, explicam-nos como era a vida em Ayutthaya. Ayutthaya, século 14, rei U-Thong. Apanhamos um rickshaw que nos leva através de um trafico impossível até aos mini bus ligeiramente ilegais que nos levam a Ayutthaya. Ar condicionado e passageiros simpáticos que nos ajudam com as bagagens. Chegamos de noite, sem reservas, como juramos nunca fazer quando viajamos com crianças. Mas sabotamos varias vezes esta resolução. Juro que é involuntária, mas confesso que é a minha maneira preferida de chegar a um sitio novo.
A noite não esta muito escura, existem luzes cor de rosa e laranja a decorar as ruas e enormes cartazes anunciam um Happy 2558 ! As ruas estão cheias de decorações chinesas. E comida. E gente. E um dragão verde. Aproximamo-nos de um enorme wook, pedimos quatro doses de pad thai ao travesti que gere o stand. Delicioso. Encontramos um quarto rapidamente, tentamos que as crianças não vejam a piscina e saímos para assistir ao concurso de talentos, aos concertos e às corridas de carrinhos telecomandados.
No dia a seguir acordamos para visitar as ruínas de Ayutthaya. Passeamo-nos pelas ruínas de Chedis, de stupas khmers e do que restou de estátuas de Budas. Pensamos em Bangkok. Imaginamos como seriam. Visitar o que já foi, parece-nos uma viagem melhor do que visitar o que é. Existe espaço para muito mais e nenhum cidade é melhor do que uma cidade que se deixa imaginar. No museu nacional, vemos os tesouros que resistiram aos roubos e entramos em templos não vigiados. Um dos meus filhos aproveita para vestir a pele de um arqueólogo e procura tesouros escondidos que vão enriquecer o património cultural tailandês, outro, mais atento à necessidades da vida material, veste a pele de um ladrão de tesouros, se tiver sorte, vamos todos ficar ricos.
Promessas.
A noite vamos a um mercado para jantar. Uma menina, ainda de uniforme de escola recolhe os pedidos, distribui pratos, vai buscar molhos. De vez em quando, senta-se e choraminga. Não percebo o que diz, mas posso adivinhar. Um cliente chama e a avo manda-a ir ver o que é. Mais molho. Choraminga. Vê-se se esta cansada. O pai, que esta a cozinhar o nosso fried rice farta-se e começa a bater-lhe. Tira o cinto. Nunca tinha visto ninguém tirar o cinto para bater numa criança, até hoje tinha apenas ouvido historias.
De repente, um homem e uma mulher farangs estão entre a criança e o homem. This is not a way to treat a child. Tínhamos, portanto, prometido que não iríamos intervir durante esta viagem. O mundo continua sem nos, tínhamos sabiamente concluído.
Decidi há já algum tempo, não intervir em discussões sobre usar-se a força física para educar. Discussões inférteis sobre este sujeito pululam frequentemente na internet. Estamos em 2015, num pais civilizado. Os intervenientes são pessoas educadas, com facilidade de acesso à informação, mas continuam a julgar que antigamente é que era. Antigamente, quando não havia tempo, educação, conhecimento de outras maneiras mais eficazes de se chegar a um final melhor.
Tenho paciência com os meus filhos. Mas não devo ter muita, ou devo-a ter utilizado toda, porque não tenho com quem tem todas as ferramentas para evoluir, mas não evolui. Decidi não intervir nas discussões, que cada um faça o que pretende com os seus filhos. Eu faço o que acho melhor com os meus. Mas uma coisa é ouvir e ler. Outra é assistir. E assim me encontrei no meio de uma discussão, num pais que não é o meu. A falar numa língua que não é a minha. No meio de uma família que não conheço. Felizmente, a mãe aproveitou a estranha situação que tínhamos criado, agarrou na criança e levou-a de mota. Voltamos para o pé dos nossos filhos, que estavam excitados. a querer sair daquele pais onde os pais batem nos filhos e em que as outras pessoas se riem da situação. O riso asiático. Explicamos o que podemos. Que onde vivemos, também existem pais que batem nos filhos. Com cinto ou com a mão, com marcas ou sem marcas : a tudo se pode chamar de "palmada", depois usa-se nuances, mas a confusão fica instalada. Este homem, também estava apenas a dar uma palmada. A educar. E que o riso nem sempre quer dizer que estamos a gostar, às vezes é sinal de desconforto. Que na Tailândia, perder-se as estribeiras, gritar, deixar-se levar pela raiva é sinal de falta de controlo e de um estado não-evoluído. Pensamos que não ouvimos ninguém gritar, a voz é sempre baixa nas ruas. Que, se calhar, o riso foi a forma de se distanciarem do que estavam a assistir. Mas admito não saber interpretar o que me rodeia.
Tudo isto é estranho de perceber. 2015. 2558. Analfabetos sem tempo, a fazer por sobreviver. Graduados com inteligência, com dinheiro para lazer. Os mesmos métodos. As mesmas mentalidades. Não vai ser com uma simples viagem à volta do mundo que se vai resolver o puzzle.
Chegamos a Sukothai outra vez de noite. Sem reservas. Na primeira guesthouse tinham apenas um quarto pequeno livre. O senhor do tuk tuk, disse-nos que so nos largava quando tivessemos onde dormir. Foi tão duro a negociar no terminal de autocarro, que agora quer-se ver como o motorista exemplar. Na segunda paragem encontramos um bugallow de familia. Pagamoso tuk tuk com baths e sorrisos. Somos gente facil. O lema de Sukothai tem as palavras liberdade e felicidade. Não sei o que realmente se passou nesta cidade, chegam-nos ecos de um rei justo, de paz, da invenção da escrita tai e as ruínas não nos dizem o contrario. Alugamos bicicletas e conseguimos passear durante um dia inteiro a acreditar que a historia de Sukothai é verdade. Vários séculos de distâncias e agua de coco fresca, tornam tudo possível.
Na hora do calor, reclamamos quando as sombras de arvores não nos acompanham no caminho e dirigimo-nos ao museu com ar condicionado. Pelas minhas contas, os povos do sul deviam ser ainda muito mais cultos do que são. Onde se refugiam ao meio dia ? Com a temperatura a aumentar desta foma, ainda nos arriscamos a acabar peritos da Asia do Sudeste.
Talvez vossa intervenção faça tanto pelo mundo, como o mudo tem feito por vocês.
ResponderEliminarDuvido muito, ja tivémos muita sorte em não ter apanhado de cinto.
EliminarSabe Carla, há alguns meses numa feira ouvi um adulto de etnia cigana chamar p---- a uma menina de uns 3 anos, senti-me como se tivesse levado um estômago. Disseram-me para não ligar, que fazia parte da cultura deles, que eles eram mesmo assim, vim embora cobardemente sem intervir e recriminei-me dias a fio por ter vindo embora assim ... para dizer a verdade ainda hoje me recrimino ....
ResponderEliminarQue não se fique com a ideia que intervenho sempre que estou perante uma injustiça. Muitas vezes, também não o faço.
EliminarE não faz parte da etnia ou cultura cigana tratar-se mal as crianças, esse senhor era simplesmente mal formado.