17.2.15

Um ultimo luxo, que não posso mais


No enorme mapa da Índia entre o Rajastão e Varanasi, entre um e outro Pradesh, encontra-se Agra. A enorme jóia de marketing do turismo indiano, o suposto primeiro grande monumento romântico asiatico, uma obra inovadora de trabalho de mármore mundial, a grande mostra de poder, o Taj Mahal. Não faço ideia a quantas fotos do mausoléu branco, os meus olhos ja foram expostos, mas algo me dizia que tinham sido suficientes. Pelo que quando os meus filhos me pediram para ir ao Taj Mahal, os meus olhos reviraram e da minha boca saiu do bocêgo. Que tipo de surpresa se pode esperar, que emoções se podem sentir de algo tão familiar ?

Chegamos de noite, ao hotel onde iríamos dormir, a dois passos da entrada leste. Como em todos os monumentos famosos, na véspera fala-se de logística. Um preliminar péssimo. Por volta das 6 horas da manhã um autocarro leva-nos até à bilheteira, a um metro da porta. Uma vez o bilhete comprado, com mais ou menos fila, conforme se tenha antecipado a compra na véspera antes, volta-se a entrar no autocarro cheio de turistas e faz-se uma nova fila, desta vez para se passar na segurança. Homens de um lado, mulheres de outro. Tudo para se evitar a multidão de turistas que chegam por volta das 8h vindos de Delhi.E apanhar a melhor luz. Relaxaremos noutro dia.
A minha filha viu a sua bola saltitona confiscada e um rebuçado de laranja e o Francês voltou ao hotel para deixar la qualquer coisa que não podia entrar. Enquanto era revistado, um macaco aproxima-se da cena : se houver alguma comida, não pode entrar. E ele sabe o que fazer com ela. Abre todo o tipo de embalagens em cima do telhado, as migalhas são aproveitadas, os restos de sumo não ficaram esquecidos, os turistas que não se preocupem.
Entramos, finalmente, depois de recusar amavelmente as propostas de visitas guiadas - os meus filhos dizem-me que não precisamos de um, que devo confiar neles. Confio. Estiveram a ver um documentario sobre o Taj, enquanto que eu nem sequer ressonava e dizem saber tudo o que preciso. Confio. Confio, sou suficientemente preguiçosa para o fazer. E sei bem o que as coisas fazem aos seus egos. Sendo facil, acedo sempre.
Passamos as portas que temos que passar e à direita vemos finalmente o Taj.
Mahal.
Só as palavras inglesas com pontos de exclamação no final me parecem adequadas. Tem que se vir aqui para se perceber. Eu tive,  pelo menos, e apenas o soube depois. E não vão ser as minhas fracas palavras que poderão ajudar quem quer antever os bastidores das fotografias das revistas de viagem. As minhas desculpas. As mais humildes e sinceras. Que isso sim, seria de valor.

Taj Mahal, um hino ao amor. O conceito vende. Os turistas que se incrustaram nas nossas fotos de familia, são prova disso. Mas eu que tenho pago o dobro do preço de lenços, convencida que estou a fazer um bom negocio, que tenho entrado em supostos museus, que afinal são apenas lojas, que tenho seguido conselhos de estranhos e generosos amaveis que querem, afinal, apenas ganhar a sua comissao, estou céptica. E fico satisfeita por ter abandonado o marketing e a pubicidade, em tempo devido. Associar um monumento, que provocou a famina da região, que exigiu sacrificios a quem apenas queria alimentar a familia e que implicou viagens longas a uma mulher engravida que acabaria por morrer em trabalho de parto, o décimo terceiro, ao conceito de amor parecer-me-ia algo forçado. 
Não tenho visão para estas coisas. Viesse o emperador pedir-me um plano de comunicação e eu mostrar-lhe-ia algo saido da nave do império do mal da guerra das estrelas. The Death Palace. Também haveria de ter o seu sucesso. E ninguém se sentiria defraudado. 
Entretanto, onde jazem os amantes, fotografa-se turistas a saltar, faz-se selfies sem mudar de cara, usa-se ilusões de optica para se picar o dedo e, lamento o detalhe, nem sempre se lava os pés para se passear dentro do mausoléu.
Não quero ofender ninguém, o problema é provavelmente meu, exagerei na dose de palacios e lifestyle Maharajiano, não melhorou o contraste que vi à volta. Não estou habituada a tanto luxo. Nem a tanto contraste, ou talvez ande de olhos vendados quando não viajo. 
Devia ter feito escalas entre Jaipur, Idaipu, Jodhpur. Um exemplo que um Maraja, que tivesse edificado uma cidade e dedicado a quem a construir. No ideal, um Maraja que tivesse deixado de o ser.
Preciso de mudar de cenario, esta noite rumamos a Varanasi. 

4 comentários:

  1. Mas, portanto, aquilo é monumental mas em bom ou é só simplesmente monumental? Neste momento estou muito bem a acompanhar-vos até Varanasi mas só queria encerrar este ponto.

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  2. Estou com a gralha, as tais palavras inglesas com pontos de exclamação são única e exclusivamente para a monumentalidade da coisa?

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  3. eu por acaso, confesso, gostei do Taj Mahal. também achei que não seria nada de especial, também não ía praparada para me deixar deslumbrar, mas a verdade é que me deslumbrei. mea culpa. acabei por passar uma manhã inteira no "complexo" e senti-me profundamente siderada...
    já Varanassi, deu cabo de mim, no bom sentido. Varanassi é a "minha" India. Boa viagem! ;)

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  4. Wow ! O Taj Mahal impressiona, é lindissimo. Com detalhes a piedra dura maravilhosos, e às 6 da manhã, com o nevoeiro arrasa qualquer restia de cinismo ou resistência à pura beleza arquitectonica.
    O que (tenho que escrever isto melhor) não me convence é a associação ao amor. Um homem que mata os irmãos para não ter concorrência, aceita ou obriga a mulher a segui-lo em viagem estando gravida e que faz um monumento deste tamanho, provocando a fome em toda a região, não me inspira muitos sentimentos românticos.

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