5.9.14

No ônibus


O cara que vende bilhetes dentro do ônibus - 3 reais por pessoa - explica-me que criança não paga, não. Mas dois dias no Rio e eu já sei que é aleatório.
Diz-me que não vai para as praias de Copacabana, Ipanema, Leblon, aquilo é uma porcaria cheia de gente e de ladrões. Ladrões, os caras que roubam, ladrões, os caras que vendem. 2 reais umas mangas ? Vai para Angra e tira a manga da árvore. Não sai mais barato ? 
Aqui, as praias cheias de gente, de pivetes, de moleques, ali não, tem cachoeira, gente boa, natureza.
O pior do Rio, explica-me, aparte os morros, os tiros, as drogas, o tráfico, a corrupção, são os moleques. Os moleques. Os pivetes. Aquilo não tem lei. No outro dia passamos com o ônibus perto da Central e estavam dando porrada a uma grávida, imaginou ? Ela ali grávida e eles dando porrada. Uma senhora estava falando no celular perto da janela e eles pegaram o celular dela. Ela estava falando! A policia a correr atrás. Tem cuidado, é melhor não facilitar. Muito perigoso.
Olho para as janelas dos prédios todas cheias de grades, algumas varanda têm grades até ao sexto andar.
Vista para o Pão de Açúcar e as varandas têm grades. Não sinto insegurança nenhuma, inclusivé na Central. Você sabe como é que aqui no Rio chamamos à Central ? O esgoto do Rio. Se o Rio fosse uma casa a Central era o esgoto.
Na Central tem o Campo Santana, onde os meus filhos quiseram entrar para ver de perto as Cutias. Perguntei a uns moços se aquilo eram capivaras, convencida que ia impressionar os meus filhos com a minha vasta cultura. Eram cutias, foram muito educados, quase não gozaram comigo. Com a minha cara.

No ônibus entra um senhor de casaco. Cuidado, muito perigoso, fica atenta, não pergunta direcção a moleque, cuidado com o saco. A menina não tem casaco ? Está frio muito lá fora.
Verdade que a temperatura tinha descido vertiginosamente de 27° para 25°. Ri na cara do senhor.
Amanhã sou assaltada. Acredito no karma.
No quatro meia quatro, entretanto, o meu filho acorda e tenta convencer-me que não precisa de livros - muito pesados na mochila, que pode muito bem treinar a leitura a ler o que vai encontrando no caminho. No mundo, diz abrindo os braços. Para mostrar, escolhe ao calhas um cartaz :
Fuck FIFA. 
O pior é que nem sequer fez de propósito.

Vamos para o boteco ao lado da "nossa casa", as malas devem chegar a qualquer momento. Um chopp gelado. Uns bolinhos de feijão preto. De presunto. De abóbora.
Aproxima-se o senhor da portaria : "Oi, beleza ! Estas malas são para você ?"
Beleza. Fiquei duplamente satisfeita, já podia usar o meu vestido preto e o meu novo creme facial estava a fazer efeito. As malas eram para chegar durante o jogo Ceara-Botafogo, não quero ser má língua adiantado este pormenor, mas a verdade é que só chegaram na manhã do dia seguinte, com uma vantagem de 4 a 3 para o Botafogo.

3 comentários:

  1. ahahaha
    isto agora é que vai ser material para usar....contem...contem sempre....

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  2. Caraca .... O Rio , aos teus olhos e palavras é foda !!! ;-)

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  3. Vou contando, vou contando. Tô fazendo o qui posso, genti!
    O motorista do ônibus muita chateado com um cara começa a enervar-se e quando vai para chamar nomes o mais que consegue dizer é animal. Depois para falar com um amigo sobre não sei quê : foda para aqui, foda para ai, cara. Uma outra lingua, meu irmão.

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