14.9.14

Luto e luta de Santa Teresa


Passeio no Rio atrás dos meus filhos. Nunca chamaram tanta atenção. Gatos, riquezas, lindos pô, uns anjos. Sigo à risca os conselhos de segurança, não uso jóias, relógios, câmaras fotográficas caras. Chinelo no pé, sacola de praia. Mas ostento a minha riqueza a cada minuto. Discrição : faço o que posso com as crianças.
As crianças em Santa Teresa.
Não sei se vai ser sempre assim, neste nosso ano extraordinario, mas dou por mim a pensar como seria morar no Rio. Escolho Santa Teresa.
Ipanema, Copacabana, Leblon, Flamengo, Botafogo, com as avenidas que acabam na salva e começam no mar. Prédios altos, cimento, funcionalidade, i-phones, modernidade.
Você só pensa em riqueza, tudo o que você vê, você quer.
Estranho, admito facilmente que um dia entranhe. Mas eu queria morar em Santa Teresa, o que faria eu com um Ferrari amarelo ? Santa Teresa com as suas moradias mais baixas que as árvores, o seu declínio, os seus botequins que já se queixavam nos jornais a preto e sépia, da baixa de poder de compra em 1890.
Podia fazer a volta ao mundo de Santa Teresa. Conhecer melhor a simpatia dos senhores dos armazéns que viraram bar, o pé descalço dos moleques que jogam à bola, o seu meio caminho entre a favela e o betão do centro de negócios.
Santa Teresa é o chinelo para o meu pé. O cereal para o meu Açai.
Em Santa Teresa, os macacos sagui balançam-se à frente da escola. Eu, à espera dos meus filhos, partilhando o que podia com um mico menos tímido, num centro de um mundo qualquer. Tão fácil de imaginar, que só pode ser possível.
Preciso de um chopp gelado no bar do Gomes, rapido. Preciso organizar uma manifestação pelo regresso prometido do bondinho. O Paulo chamou-nos quando passávamos na rua, venham ver o museu do Bondinho, as crianças vão gostar. 
Precisamos que o bondinho volte, ele é muito importante para as gentes de Santa Teresa.
Eu vou voltar de certeza. Colar aquele cartaz com um bonde com lágrima. Gritar.Reclamar. Se der até vou chorar.
E colher aquele mamão quando estiver maduro. O mamão. Esta ideia.

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