8.8.14

Postal ilustrado do Norte dela


Depois dos moliceiros, dos porcos das muitas índias que afinal existem, dos holandeses que não se queixam do nevoeiro, das piscinas sem ninguém cheias com os meus filhos, chegámos a lugar seguro. A casa dela.
Correram as crianças neste porto emprestado. E correu o tempo.
Ao chegar, abri as portadas, para a luz entrar, enquanto eles jogavam ao lado do espigueiro de dois séculos atrás.
O final do dia. A "hora de ouro" dos fotógrafos e de quem tem olhos para ver.
E eu tive.
No Minho dela. Um passado alheio ali à frente. As pedras. Os vestígios do fogo. Os jogos das crianças que, entretanto, deixaram de o ser.
E as gentes com os meus filhos. As ofertas de doces. As festas nas cabeças. Os elogios. As ajudas. As informações. Este é o Adrão. Ali vão encontrar uma piscina natural, vão ficar bem. Ali come-se como deve ser. Queres um chupa ? O que querem ? O que procuram ?
As discussões sobre o gárgula da igreja de Caminha. As reflexões sobre os pintos e os patos na feira de Barcelos. A excursão de hipsters no mercado do Bolhão.
E sempre o vinho. Verde. Branco. Fresco.
Aproveitámos, como se tenta fazer nos dias de hoje.
Comemos a carne que ela nos tinha dito, num almoço às 4 da tarde. Falhámos, às 11, as bolas de Berlim. E, portanto...
Seguimos as instruções, perdemos-nos no Poço Negro. Não mais nos queríamos encontrar.
Nunca mais. Abraçámos o fatalismo.
Mas o nunca durou o que teve de durar. Como muitas vezes o nunca dura.
E quisemos ir embora, de onde para sempre tinhamos querido ficar.
Quisemos ou tivemos ?

Vamos em breve para longe, mas fizémos planos para depois. Eu prometi, e ele ouviu, que ao voltar, vamos criar. Criar algo para regressar. A terra faz-me falta. Faz-nos. Mas eles ainda não o sabem.
Se não for a minha. Se não for a dos meus pais. África. Se não for a dos meus avôs. África. Nem a dos meus bisavôs. África. Vai ser a dos trisavôs. Nas terras do Zêzere. Ou em Santos, aqui ao lado.
Uma casa de emigrante ao contrário. Não para lembrar a terra onde emigrei, mas para descobrir a terra de onde vim.

8 comentários:

  1. Planos. Planos. Planos... Fazemos tantos, sonhamos... Os nossos sonhos, os sonhos deles, os sonhos dos avós e dos trizavós. Eu sonho com os teus. Que sejam muitos, que sejam bons e que sejam motivo para quereres voltar, desse longe para onde vais.
    Gosto muito do Minho, só tem um defeito: é tão longe do Algarve!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu acho que é tão pertinho. Já foste de carro até à Alemanha, isso devia dar para relativizar mais as distâncias. O Minho é já ali.

      Eliminar
  2. boas noticias, vizinha! :) e tanta cor nestas fotografias...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Viva ! E quando é que tiramos fotos do céu de Lisboa J ?

      Eliminar
  3. Tão bom sonhar esses planos, com pés assentes na terra, é tão forte o apelo da terra.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, é bom sonhar e sentir apelos. Estamos vivos.
      Agora é ver se alguma coisa vai sair daqui, mas isso são outros quinhentos.

      Eliminar
  4. Uma coisa de cada vez, cara amiga apressada. Um ano por esse mundo fora pode fazer germinar outros planos, apesar de me parecerem perfeitos esses que já combinaram.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pode, pode. E espero bem que sim.
      Mas deves saber bem, que nada como uma cabeça desarrumada e com muitas ideias em cima, para que as coisas aconteçam. :)

      Eliminar

Pessoas

Nomadas e sedentarios