Um dia organizo isto 3

Este ano vou festejar o dia de São Valentim. Mas mais tarde, quando realmente estiver para isso. Não me vou lembrar que o estou a fazer, não vou evocar um santo que desconheço. Mas, mais tarde, deverei festeja-lo. Com certeza. Inevitável e inconscientemente. Ao que tudo indica, é melhor assim. Mais apropriado, menos forçado. Sem duvida melhor. Ritual por agua abaixo, foi bom enquanto durou. Assim, fica tudo esclarecido e organizado, como muita gente gosta. E às vezes eu também.

Não acredito que vá correr hoje. Não me apetece menos nada ir para a floresta sozinha. Apetecia-me que fosse dia de Santo António, que houvesse o dobro das flores em papel nas ruas de Alfama e metade das pessoas. Hoje era marchar, com arco e balão. Mas que, desta vez, fosse alguém ao meu gosto a compor as canções. Mais dia menos dia, eu também existirei e a minha vontade contara. Fica o voto : uma espécie de Happy (WE ARE FROM PENHA DE FRANCA) a descer a avenida da liberdade. Uma comunhão.

Mais banal, e a minha existência morre. A culpa é sempre dos outros.

O meu filho é a pessoa no mundo, que eu conheço, que menos quer que o deixem em paz. Tem cinco anos, idade para ter juízo e querer brincar de manhã à noite. Mas em vez disso, hoje de manhã, entre o leite e a torrada com manteiga, pediu-me para lhe ensinar a tabuada, foi buscar um papel e uma folha e ficou à espera. Foi a irmã que o acudiu.
Eu olhei para o céu. Onde foi que errei ? 

Apesar dos pesares, hoje é um dia bom. Amanhã vamos embora. Uma semana e duas promessas de postais ilustrados. O meu presente é muito melhor, quando o meu futuro me leva daqui para fora.