3.2.11

Malabarismos

Hei ! hei ! hei ! Acordem o vizinho de lado, os scones chegaram, escolham a vossa tisana preferida e preparem os teclados que hoje se vai falar de circo, do trapézio sem rede que pode ser a maternidade, do malabarismo dos horários, tarefas e vidas opostas, da palhaçada em que se transformam os nossos projectos sérios e ambiciosos e da falta de um chicote, que não doa muito, para domesticarmos a nossa vida às vezes mais selvagem do que no National Geographic.
Como não deverá ser novidade para ninguém atento, a administradora deste blogue capotou. Deixou cair as várias bolas marabalistas amarelas e vermelhas e dedicou-se ao rugby e ao tudo ao molho, esqueceu-se foi que não tinha fé em Deus, mas isso é para outro workshop, ou loja de trabalho para as puristas da língua massacrada.
Ordem de trabalhos para hoje :
Possível/provável/contornável capotamento "profissão / maternidade"
Parto do princípio, talvez errado tendo em conta as tiragens das revistas do género, que não haja ainda quem caia na esparrela da mulher perfeita, mãe extremosa e presente, carreira de topo, sexy, cinturinha de vespa, casal sem zangas ou tédio, com todos os sapatos da série em voga, blogue no ranking dos mais lidos e patati e patata os meus filhos são educadissimos e dormem a noite toda e de todas as formas são melhores que os teus, mas muito tolerantes com as diferenças. Parto também do principio, mais falível, que não exista muito leitorado que nunca culpabilize e que viva perfeitamente bem na sua pele depois de uma sessão introspectiva com o psi, consciência, amiga do peito ou cartinhas dos anjos.
Basicamente o que estou a tentar, com muito custo, dizer é que a maternidade não é algo anti-natura, mas que é difícil, é.
Pelo que capotei.
Pelo que não consegui conciliar um emprego com o que queria dar aos meus filhos. E, bolas, nem com o que eu queria receber dos meus filhos.
Pelo que não consegui concentrar-me nos objectivos mensais profisionais, nos deadlines, nas antecipações das tácticas da concorrência, nos novos argumentários irresistíveis, no new business, sabendo que os minúsculos precisavam de mim e depois, sim, e depois que são tão preciosos (a ver se encontro uma palavra menos kitsh antes de publicar isto ..) e efémeros que não queria que fosse uma ama que os visse a andar pela primeira vez, que os adormecesse com ou sem muita paciência que eles podem ser mesmo muito chatos nestas alturas, que os ajudasse a construir um circuito de comboio que não descarrilasse, a participar numa média mínima diária de três gargalhadas sem controlo, a ajudá-los a construir cabanas, a fazer espectáculos, a fazer pinturas que envolvesse a folha, a cara, a mesa e 85% da casa,  a dançar e a saltar com a melhor música que se faz yeah!, a andar de trotinette pela sala, a jogar futebol no corredor, a dar banho com espuma e com o barco playmobil, a aproveitar o pretexto do creme para lhes fazer festinhas, para os ver jogar aquelas brincadeiras estranhas entre eles em que dão gritinhos e risadas e que de fora não parecem ter piada nenhuma e que parecem mesmo tolinhos, a aturar birras descomunais de sono, a limpar a comida que voou em toda sala e cozinha, a explicar que o xixi ficava melhor na sanita do que em cima da garagem...
Não consigo parar a escrita automática. Estou tão feita ao bife mais estes minúsculos, a lista não tinha fim e a minha vida ainda está tão em suspensão... não faço ideia quando é que vou conseguir retomar as entrevistas de trabalho à killer onde o mais importante é o amor à camisola e a realização profissional.
Bom, se conseguiram manter-se até aqui sem mudar de blogue e se entretanto se perderam no raciocínio, mas mesmo assim querem participar contem-me como é que conseguem. Como é que é se aguenta o trânsito na ponte, os colegas/clientes/concorrentes malentencionados e a distância de minúsculos microscópicos quando eles choram ou  mesmo quando eles não choram, mas não têm tempo de partilhar grande coisa connosco porque já está quase na hora de ir dormir. Espero não vos ter deprimido com este texto tipo "como a minha vida é melhor do que a vossa", e se tiverem necessidade de assistirem ao dark side da vida em casa posso-vos remeter a post com títulos como Help ! ou Estou fechada na casa de banho, porque já não sei o que fazer com  tanta birra, quando é que é a pausa para o almoço ?

45 comentários:

  1. Então é assim, básicamente posso dizer que também capotei. Neste momento não consigo/não se justifica/não me apetece conciliar a confusão que é ser mãe e trabalhar fora de casa. Estou completamente apanhada pelos meus "minusculos" e só me apetece é estar com eles. Também tem dias em que me fecho, eu é mais na cozinha, porque me acontece sempre qundo estou a tratar do jantar. Ainda ontem...
    Resumindo, esta semana voltei para casa, porque a função que estava a desempenhar não compensava perder isto tudo.
    Óbvio que a nossa vida é melhor do que as outras, pelo menos das que não existem! Entretanto vou ver se descubro um talento escondido para me entreter.
    E ainda, gostei do tema ;)

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  2. Consegui ler o texto até ao fim, sim, e deu-me vontade de rir e vontade de chorar ao mesmo tempo :)

    Como é que se consegue? Bem, não é facil mas sei que só o consigo porque tenho condicionantes na minha vida que me facilitam as coisas.

    Então é assim: profissionalmente divido-me por 2 locais, uma empresa e uma faculdade, e o meu horário de trabalho é das 9 as 5. Muitas vezes não tenho hora de almoço e saio de um lado e já estou a entrar no outro, mas no máximo trabalho até as 5.30. Isto permite-me ir buscar os meninos a horas de ainda conseguirmos brincar um bom bocado sem os stresses dos horários e das birras por causa do sono ou da fome. Claro que isto só acontece porque trabalho a recibos verdes, só por isso posso "impor" determinados horários. Outro aspecto que me facilita muito a vida é que todos os locais importantes estão num raio de 5 minutos: casa, infantario, empresa, faculdade, continente e mango (lol) Assim consigo voar de uns locais para outros. Ex. posso estar na faculdade e durante o intervalo, enquanto os meus alunos vão beber um cafe e fumar um cigarro, eu voo até ao continente, faço as compras e voo de novo para as aulas. Claro que chego ao fim do dia esgotada. Depois de deitar os meninos, ainda tenho muito trabalho pela frente, até porque também estou a fazer o Mestrado.

    Enfim, dizem que quem corre por gosto não cansa, mas cansa sim. Se tudo isto vale a pena? Olha há dias que penso que não, mas depois penso que sim, e vou andando ao sabor do vento e vivendo (tipo cliché) um dia de cada vez!

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  3. Como se concilia? Trabalhando para o Estado e tendo um marido/pai que não está obcecado com o trabalho. Os meus miúdos foram para a creche com 5 meses. Quando ficavam doentes (o que acontecia muito no primeiro ano de vida), sentia uma culpa tremenda por tê-los num "infectário". Tirando esses momentos, estou tranquila com as nossas escolhas. Mesmo que tivesse tal possibilidade, não gostaria de ficar em casa com eles. Não me sinto uma super mulher, não pretendo sê-lo. A verdade é que o trabalho dá-me gozo e equilibra-me. Mas, volto a dizer, trabalho numa instituição onde os horários são cumpridos e onde o factor mãe é considerado positivo, e não um empecilho. O meu marido trabalha numa instituição igualmente aberta às necessidades dos pais. Ontem só chegámos a casa às 8. A seguir à escola (fui buscá-los às 6 e 30 e foram os últimos miúdos a sair – culpa, culpa!), fomos buscar o pai, comer castanhas e depois ao supermercado. Quem nos visse chegar a casa àquela hora, com os miúdos visivelmente cansados e sujos, poderia criticar-nos ou compadecer-se com o caos da nossa vida. Mas, para nós, foi um dia mesmo bom, mesmo sabendo que, naquele dia (e excepcionalmente), foram para a cama às 10, ou seja, uma hora mais tarde do que eu acho correcto. Olha para mim a dizer que a minha vida é melhor do que a vossa! 

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  4. amora - bem-vinda ao clube. Li algures que o grande problema das mães que trabalham é quererem assumir a profissão e ao mesmo tempo uma presença em casa como se não fizessem mais nada, claro que é imposivel. Achas que tinhas caido nessa armadilha ?

    Rita - oh, Rita, assim é quase batota. Um dos meus grandes problemas é ter trabalhado quase sempre em empresas em que horarios flexiveis queria dizer nunca sair antes das 19h. Acredito que seja uma trabalheira, mas conseguindo ir busca-los à hora em que tu consegues é, pelo menos para mim, que estou de fora, a situação ideal.

    Anonima - Trabalhar em empresas compreensivas é essencial, nunca trabalhei para o Estado e a competitividade que existia nunca deixava a compreensão tomar o lugar de cima, por muito humano que às vezes fossem, bolas, e eu até compreendo, por isso é que optei por sair do jogo. Agora tenho é que mais tarde procurar uma equipa de segunda divisão que acredite no slow live ou coisa do género. Confesso que o que tu descreves como dia mesmo bom, para mim seria dificil de gerir, não estou a fazer julgamentos de valores, juro, somos diferentes e é tudo.

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  5. eu meditei um bocado antes de comentar-porque aposto que me vão atirar todos os ovos podres da zona....mas considero-me sortuda PORQUE tenho uma grande rede de apoio-para começar infantário a dois e trabalho a um minutos de casa a pé sem filas nem trânsito.
    Nunca saio de casa antes das nove-como trabalho sozinha e sem patrão-de estão doentes fico com eles -ou tenho a sogra que apoia.
    às cinco h vou buscá-los ou vá a avó- e ficam lá um bocado ou vamos logo para casa -e aí é o normal -com tudo para fazer em casa e mais birras, brigas por brinquedos , parvalheiras e tudo e tudo-depois por vezes a avó faz sopa para eles -menos uma coisa.
    As horas de almoço são aproveitadas para-fazer compras, adiantar jantar,almoçar com a amiga,estender roupa ou ir arranjar o cabelo.
    O sabado trabalho e por vezes ao domingo de manhã-vida perfeita não tenho, mãe perfeita pior-muitas vezes perco a paciência-e será pior com três sem duvida-O trabalho não me realiza mas paga as contas e para alem disso dá-me liberdade horários para me dedicar a mais a eles -e sinto-os felizes -é ou não o que mais importa

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  6. Sonia - O que mais importa não é que eles, a mãe e o pai estejam felizes ? é que a questão é também essa, não são apenas eles que devem ser felizes...

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  7. Eu caí nessa armadilha sim.
    e agora o trabalho já não tem a qualidade de que devia ter, de que esperam que tenha.
    De que os outros esperam, que eu já não espero nada.

    Fiz até onde queria fazer, que era o Doutoramento. E agora se tivesse dinheiro deixava tudo para trás.

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  8. A minha vida prosissional tem sido inconstante, ora tenho trabalho, ora apanho a "crise" e como chego sempre mais tarde que os outros sou das primeiras a dispensar, ora tenho trabalho outra vez, ora apresento a carta de demissão, ora me farto de estar em casa e vou trabalhar para uma área completamente diferente da minha experiência profissional. E correu diferente do que esperava, porque para passar o tempo, passo-o com quem gosto e a fazer o que gosto, nem que invente! E porque o valor que acrescentava ao rendimento familiar não compesava. E nem tenho sogra nem mãe por perto para nos ajudar. A armadilha poderia ser viver atrás de uma carreira que não se vislumbra. No momento tenho muito mais para viver. Também me cansei de trabalhar para os outros...

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  9. Quando era pequenina pensava que ia crescer e ser mãe a tempo inteiro. Cresci e percebi que não tenho encaixe para isso, sou muito pior mãe a 24/7. De modo que a solução é tentar o malabarismo, apanhar muito depressa do chão as bolas que passam a vida a cair e sonhar com os (raros) dias em que chego a casa, arrasei no trabalho, são 4h45 e ainda tenho tempo para desenhos, cantorias, estórias, mimos e fazer um jantar com 3 pratos. Dias raros, mas existem.
    Ah, AMQC, a prova que os teus posts são deliciosos é que li isto tudo apesar da média de 4 horas de sono diárias na última semana... Obrigada pelo serviço público!

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  10. Lembro-me de deixar os filhos no infantário e ir "descansar" para o trabalho. Naquela época, foi fundamental para mim poder arejar a cabeça, comportar-me como uma pessoa adulta e livre durante algumas horas do dia, sem ouvir permanentemente apelos começados por "mãe! mãe! mãe!" ditos com insistência.
    Foi bom para mim, que andava mais equilibrada e realizada, e foi bom para eles, porque a mãe deles andava mais equilibrada e realizada.
    Mas paguei um preço muito alto no emprego: como só trabalhava a meio tempo, perdi todos os comboios possíveis.
    Parece-me que esse é um dos elementos importantes a equacionar: a reentrada em cheio no mercado do trabalho, e ser levada a sério como profissional apesar de se ser mãe.
    Ainda não sei se estou contente com este rumo que a minha vida tomou. Se tivesse optado por me entregar mais ao trabalho e menos à família, hoje estaria mais feliz?
    Uma amiga minha fez exactamente o contrário (o marido passou a trabalhar a meio tempo) e tem a sensação de ter perdido o comboio dos filhos.
    Decisões difíceis!
    Em todo o caso, fica aqui um aviso: retomar a vida profissional, depois de uma pausa ou de um abrandamento, pode ser muito complicado.

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  11. acho que qualquer decisão tem sempre dois pesos e duas medidas-e sim somos felizes-pais e filhos.
    Profissionalmente não me sinto realizada mas isto nada tem a ver com filhos.
    Mas correndo o risco de me achararem um monstro digo-eu preciso sentir-me mais para alem de mãe a tempo integral.

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  12. E eu que nunca pensei ser "mãe a tempo inteiro"!! Arranjava já aqui uma depressão que era um instante :o) Sónia, não acho nada que sejas um monstro, apenas que cada um sabe a medida certa para se sentir bem consigo, que é o que importa. Se tivesse um trabalho que me preenchesse não tomaria por certo a opção de voltar para casa. Mãe a tempo integral somos todas, não há volta a dar :)

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  13. Sou a anónima de cima (também conhecida por Maria!)
    Os nossos finais de tarde costumam ser mais ligeiros do que aquele que descrevi. Tento ir buscar os miúdos à escola às 17h30. Mas nem sempre consigo e, por vezes, são mesmo os últimos a sair.
    Raramente (quase arrisco a dizer nunca) sinto que eles precisam de mais tempo connosco. Tomamos sempre o pequeno-almoço juntos, sentados e a falar. Vamos os 4 juntos para a escola e o trabalho e regressamos juntos. Jantamos tranquilamente e não há televisão ou aparelhos electrónicos. Antes do jantar conseguimos fazer um jogo ou um desenho. Vão para a cama com uma história, ora lida pelo pai, ora lida pela mãe. Imagino que para uma mãe a tempo inteiro tudo isto soe a muito pouco (e se calhar é e eu estou em negação e a causar graves danos aos meus filhos que vão precisar de anos de terapia para vencer o abandono a que foram votados!).
    Mas é a nossa realidade e eu gosto dela.
    Falei do final da tarde de ontem porque, para mim, é representativo de que “o essencial é invisível aos olhos”. Apesar do cansaço e do caos, nós estávamos bem, divertidos, “enturmados”, tranquilos. Às vezes, apesar de os ir buscar mais cedo e de chegarmos a casa a horas decentes, tal não acontece (porque, sabe-se lá porquê, não estou, não estamos, com disponibilidade uns para os outros).
    Na conciliação entre filhos e trabalho sinto que os filhos não têm ficado prejudicados. O trabalho não progride como eu gostaria, claro. Há desafios que não aceito. Gostaria imenso trabalhar no privado, mas nesta fase não arrisco mudar. Se não mudo agora, não mudarei provavelmente nunca. Será que vou arrepender-me? De qualquer modo, o trabalho que tenho dá-me os desafios suficientes para me sentir realizada (realizadazinha, se calhar!) e, sobretudo, equilibrada. Como diz a Helena, às vezes o trabalho parece um descanso – ou uma pausa – no meio da atribulada vida familiar.

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  14. Madame Pirulitos - A armadilha da perfeição devia ser crime, de tanta vitima que cai. Uma das pragas da humanidade, sem duvida. Mas tu estas bem, ouvi dizer que te soltaste das expectativas dos outros e dizes aqui que não esperas nada... Mas, se tivesses dinheiro o que é que acontecia ? va, vamos jogar aos euromilhões a fingir.

    amora - Então aproveita, mas de trabalhar para os outros não te livras ;)

    Gralha - Oh, que (raros) dias tão maravilhosos... 3 pratos ? vê la se convidas ! Agora senti-me mal, dormes 4 horas e vens aqui perder uns 10 minutos de sesta. Esta mal ! Isto aqui é so para gente desocupada como eu, não sabias ?

    Helena - Cada vez mais me convenço do milagre dos trabalhos parciais, mesmo com os comboios que se perdem às vezes... agora é ver se arranjo um interessante... ver passar os todos comboios é que não, de vez em quando, é bom viajar. E sim, eu ja ouvi dizer que é complicado... ai !

    Sonia - Essa coisa dos dois pesos é que me estraga a vida, bolas... eu quero tudo !!!! Estas dualidades, estas escolhas, isto sim é que é monstruoso.

    amora - pois é, é uma treta esta minha designação de mãe a tempo integral, que isso somos todas... hum... vou pensar noutro nome...

    Anonima Maria! - Acredito que pouco ou muito tempo não é o essencial, mas sim o que fazemos com o tempo em que estamos juntos, não me sinto particularmente presente e util quando eles estão a dormir, por exemplo... ou nas brincadeiras deles em que eu não entro... mas é claro que estando sempre por aqui, tenho mais hipoteses de ter momentos de enturmamento geral do que se estivesse a tarbalhar e apenas tivesse 2 horas por dia.
    Também depende muito das idades, os meus minusculos têm 2 e 4 anos e daqui a bocadinho vêm aqui para que eu entre na brincadeira... alias, agora que penso nisto, ja estou aqui quieta ha muito tempo, ja devem ter deitado fogo à cabana em cartão ou coisa do género, é melhor ir...

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  15. Hummmm.
    Não sei.
    Costumo dizer que sei duas coisas: viajava mais e deixava de trabalhar.
    Já não me completa, já não me realiza, já não me faz bem ao ego.

    Se calhar abria um infantário:)

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  16. Que post tão interessante e que comentários igualmente interessantes...

    Fiquei assim pró deprimida ao ler-te. Capotei no dia em que percebi que a minha vida ia ser uma verdadeira rotina, sempre a olhar para o relógio e que a vida dos meus filhos ia ser regida por isso.
    Às vezes (tipo sempre) pergunto-me por que razão é que continuo a aturar os filhos dos outros. E depois, vejo o papel que sai do mutibanco e lembro-me da resposta.
    Receio o dia de amanhã, de olhar para trás e pensar que as decisões tomadas foram desastrosas.

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  17. Acrescento mais dois pontos para debate:
    - Aquela sensação fantástica, quando eles choravam a meio da noite e eu me levantava para ir ver: sentir que não há mais ninguém no mundo inteiro capaz de fazer aquilo melhor que eu própria. Ou passar a noite a dormir semi-recostada no sofá em frente à janela aberta (e temperaturas negativas lá fora) com o bebé a dormir de cabecinha encostada no meu ombro, para aliviar o não sei quê que lhe ia nos pulmões. Ambos de gorro, cachecol e luvas. E no dia seguinte passar a criança à sogra e ir trabalhar, fresquinha como uma alface. Que força é essa que nos faz afrontar todas estas tempestades com segurança e até um sorriso?

    - (esta já foi mencionada num comentário) Se não precisássemos do dinheiro, continuaríamos a trabalhar apesar de ter filhos? E precisamos de "todo" esse dinheiro? Conheço famílias que não têm carro e não fazem férias porque a mãe está em casa e o dinheiro não chega.
    (Eu: nunca trabalhei pelo dinheiro, é mais pela ginástica cerebral, mas por favor não contem aos empregadores.)

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  18. E mais outra questão - gulp! - que quase ia esquecendo: este fenómeno de mães em casa a tomar conta de um ou dois filhos - três no caso das famílias numerosas... ;-) - é relativamente recente e circunscrito a um reduzido grupo de famílias. Será que é importante para as crianças terem a mãe em casa? Será que é bom para o seu desenvolvimento?
    Às vezes parece-me uma anormalidade ver uma adulta "refém" de um ou dois pimpolhos.
    E olho para a minha própria infância: a minha mãe trabalhava, os cinco filhos eram criados pela empregada e mais ou menos em liberdade pela rua (sim, eram outros tempos), ou postos semanas a fio na aldeia, em casa da avó, com ordens de estar em casa às horas das refeições, e pouco mais. Lembro-me com saudade da liberdade que tinha. Também me lembro de alguns momentos muito especiais com os meus pais, mas não tenho a sensação de ter perdido algo realmente importante por não os ter sempre de volta de mim a controlar o que eu fazia e a querer misturar-se comigo.

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  19. Madame Pirulitos - Ora, ora, vou-te mesmo enviar o tal livro da familia que fez a volta ao mundo em 4 anos, não se pode ser paupérrimo, isso não, mas também não é preciso o Euromilhões. Se calhar os teus sonhos não são assim tão fora do teu alcance.

    Tella - Eu também receio o dia de amanhã às vezes (raramente, até porque não tenho muita tendência para a reflexão), todas as decisões podem revelar-se catastroficas, mas algures ha um feeling que nos ajuda a escolher o caminho mais adequado, ou não ? (estranho, isto pareceu perigosamente new wave, feng shui e essas orientalices...).

    Helena - Ah, ah ! Tocaste num ponto sensibilissimo. Muita gente me fala disso, da alegria e da força, eu nunca senti isso, ok mentira, senti 3 vezes e meia, de resto nada, nickles. Detesto acordar à noite, acho que o pai tem muito mais jeito, faz isso muito melhor que eu, infelizmente temos que partilhar esse esforço. Das duas uma, ou somos geneticamente diferentes e tu tens algo que eu não tenho, ou és mais motivada para o sacrificio maternal que eu ou pura e simplesmente os meus minusculos abusam. Dammit !

    Quanto a trabalhar para fora, acho que algures concordo contigo, o essencial é mesmo a realização, mas também é verdade que ganhar mais do que o nosso esforço a trabalhar é uma sensação reconfortante.

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  20. Helena - Acredito que haja inumeras maneiras de educar os filhos e que muitas delas resultem em crianças e adultos equilibrados (seja la o que isto quer dizer), acredito que crianças que passem o dia todo sem os pais, estejam lindamente e não sintam falta de nada, é assim a vida, estão bem entregues e felizes. Conheço mesmo casos em que os pais estão separados e o pai é completamente ausente e a criança parece estar lindamente.
    Falando da minha experiência enquanto filha, sempre tive uma mãe muito presente (era professora e antigamente esta profissão er aquase um part time. Atenção eu disse antigamente), adorava saber que ela estava e casa, mesmo quando passava a tarde inteira na rua a jogar à sirumba, adolescente fui quem mais confiou na mãe, quem teve um apoio importante em alturas complicadas, adulta sou das minhas amigas a pessoa mais independente, a que saiu mais cedo de casa, a que viajou mais vezes, a quem emigrou feliz da vida e sem carências ou inseguranças. Acredito que seja em parte por causa por causa da minha relação com a minha mãe no passado. O meu pai era/tentava ser presente, mas chegava a casa à hora do jantar, não estava la quando as coisas aconteciam...
    Nada é certo, vai na volta sou assim porque vi muitos episodios da She-Ra quando era pequena e estou a meter tudo nos ombros da minha mãe. Mas gosto de pensar que tenho e estou a construir uma boa e proxima relação com os meus filhos, que estamos a viver momentos unicos. Depois, é claro, a idade deles vai alterar muita coisa e a minha presença constante vai sendo cada vez menos importante.
    Em relação ao adulto orfão, claro que sofro do sindroma de Estocolmo a uma escala preocupante, mas num futuro proximo esta situação tem tendência a modificar-se, eles vão para a escola e eu irei à minha vida. Estndo sempre (espero!!) presente a horas de viver ainda momentos importantes com eles.
    Não me estou a ver ficar em casa por muitos mais anos, por enquanto vai fazendo sentido.

    E sim, ja vou sendo posta de parte de certas brincadeiras... ingratos !!! ;)
    Respeito e adoro isso. Toda a gente precisa de respirar.

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  21. Talvez sejam diferenças genéticas não nossas, mas dos nossos filhos: os nossos costumavam dormir sem crise...
    Não sei se me sentiria assim tão fresca e realizada se acordassem várias vezes por noite.

    (pequeno intervalo na discussão: a primeira dormiu sempre a noite toda - a princípio, até temia que tivesse morrido...; o segundo acordava a meio da noite uma vez, para mamar, e eu lá ia, um bocado chateada por ele não ser como a irmã. Mas - e isto é que é fantástico - no dia em que fez 8 semanas e eu recomecei a trabalhar em regime home office, ele passou a dormir a noite toda. Teria uma antena?)

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  22. No meu caso ficar em casa é mesmo impossível visto que sou eu que ganha mais, quase o dobro do marido e como o salário dele não dava.
    Mas uma coisa mudou: o horário! trabalho 8 horas e nem mais um minuto, das 8 às 17 com 1 hora para almoço ou cabeleireiro ou depilação ou compras!
    Antes das 18 já estou em casa para banhos, fazer jantar, dar jantar e brincar uma hora, às 8.30 estamos no quarto para os miminhos antes de adormecer e às 6.30 da manhã do dia seguinte estou a pé para outro dia.
    O marido ajuda pouco, sou eu que organizo a casa mas não limpo, nem passo, tenho empregada uma vez por semana e tenho os meu pais que o vão buscar às vezes.
    É dificil mas que remédio!

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  23. Helena - Eu tendo a creditar que é isso mesmo, claro que ha quem tenha mais resistência que outras, mas dormir às vezes nem 1h seguida, como foi o caso de muitas noitas nos primeiros meses, não ha quem aguente. Chama-se a isto de tortura e é utilizada por varios regimes totalitarios para extorquir verdades inconfesaveis, não é a minha ideia de amor maternal, bolas.
    A minha filha também deve ter uma antena, quando comecei a trabalhar começou a dormir ainda pior. Grrrr !!!

    mamãmarta - You're an epic warrior !

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  24. hehehe, este debate está mesmo bom!
    Gostei muito dessa antena da tua filha. Já pensaste em reinstalá-la, agora ao contrário? ;-)

    E um grande elogio às mães portuguesas, que me ocorreu por causa dessa depilação à hora do almoço: impressionante como conseguem aguentar a barra em todas as frentes, e ainda arranjam tempo para se porem bonitas!

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  25. Estive a reflectir sobre o que a Helena escreveu.

    os meus pais eram ambos trabalhadores. O meu pai estava a tirar o curso quando a mana mais velha e eu nascemos.
    Não tenho memória de sentir a falta deles.
    lembro-me com imensas saudades é da liberdade e do prazer que sentia quando era mandada para a aldeia, para casa dos avós maternos.
    Lembro-me do prazer de brincar com a minha mana que só tinha 1 ano de diferença de mim (a mais nova já pertence a outra geração).
    Lembro-me de ir deliciada passar tardes para a casa da minha grande amiga da escola primária.


    Agora vou ser controversa, claro, mas se calhar estamos a endeusar demais o papel dos pais e estamos a esquecer dos mil e um factores que contribuem para o crescimento, para o desenvolvimento, para a felicidade das crianças.

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  26. Mme Pirulitos - Não sei muito bem se estarei ao nivel desta contorvesia. A minha mãe esteve sempre presente, mas sempre me deu liberdade, e se calhar, estou a tentar reproduzir um modelo que comigo funcionou.
    Para além das vossas experiências das férias, todas as minhas amigas dos States foram para colégios internos a partir dos 14 a todas dizem que não sentiam a falta dos pais, mas a mim não me apetece nada disso. Ha mil e um factores que contribuem para o desenvolvimento da criança, claro que sim, mas eu quero ser um deles. Um importante.

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  27. madame Pirulitos,
    já somos duas. Mas: será que as crianças têm tendência a adaptar-se a todas as situações e a tratar de serem felizes custe o que custar? E será que hoje vemos com saudade aquilo que talvez nem tivesse sido tão bom como nos parece agora?
    Quer dizer: estaremos a ser realistas?

    Chegada a este ponto, não sei que mais dizer.
    Talvez isto: cada caso é um caso. O importante é que todos se sintam bem com a forma como a família se organiza.

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  28. Sim, o que eu quis dizer é que há muitos outros. E que por vezes vivemos tão obcecadas com medo de não termos um papel realmente significativo na vida deles, que esquecemos de todos os outros factores.

    Há pessoas, há mães, que por exemplo se sentem muito angustiadas e culpabilizadas quando os filhos vão para os avós.

    Era só isso que eu queria dizer.

    Deixei-te mensagem num outro sítio. Acho que está na hora de ires ao meu blog veres quão capotada eu estou. Recua uns dias atrás.

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  29. E depois ha uma canção francesa, nada de Edith Piafs (que gosto muito por sinal) mas um rap bem da pessada que diz :
    Laisse pas traîner ton fils
    si tu veux pas qu'il glisse

    Estes jovens promissores, os NTM, que nem sempre e nem todos estão na prisão, vêm nos lembrar exactamente que ha muitos factores de desnvolvimento, mas se não houver alguém a "guiar" (a ver se tiro a carta urgentemente) a coisa pode derrapar, yo!

    E eles se calhar estão a falar de drogas, de coisas da pesada. Eu falo disso também, mas também posso falar dos estudos, do amor, da amizade, ou dos tais valores que um dia aqui falamos... bolas, esses pequenos bauzinhos que são os nossos filhos, e que um dia vão pensar precocemente que ja sabem tudo, precisam de alguém (eu ! eu !) para os ajudar a ver melhor. Não vamos endeusar a nossa função (não podemos mesmo ? Nem apenas um bocadinho ??), mas também não vamos fingir que não contamos imenso, porque contamos.
    Gostava de não dizer muitas vezes no futuro "Não percebo como é que chegamos a este ponto, ele/ela era tão bom rapaz/rapariga"

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  30. Va, para as francofonas, esta é para rir :

    http://www.youtube.com/watch?v=cBfnZnRTCf4

    Yo !
    Yo !

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  31. yo.

    eu acho que o nosso papel não só é muito importante como é fundamental.
    Não fosse eu psicóloga, bolas! (yo)

    Mas acho que temos de reenquadrar. Eu tenho que reenquadrar. Já que não posso cortar os pulsos e não posso deixar de trabalhar. è que não posso mesmo. Ponto final. yo

    Portanto, é acreditar que eles vão crescer saudáveis e felizes à mesma e que quando a mãe não está há outras pessoas, igualmente fantásticas (cof, cof), a ajudar neste caminho.

    E há um princípio que eu simplesmente venero que é o princípio da equifinalidade. Já ouviste falar?

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  32. mãe capotada,
    não está tudo na nossa mão. Por muito que te esmeres (e em alguns casos precisamente por isso) eles também podem capotar à grande.
    O problema é que a gente nunca sabe qual é a dose certa, e se está a fazer bem, e tal. Vamos indo e vamos vendo, como dizia o meu instrutor de condução, e deve ser o lema da minha vida.

    Ao ler o teu comentário lembrei-me do que me disse uma vez uma amiga (mãe de adolescentes): "deitei fora todos os meus livros de teorias sobre educação de crianças no dia em que me apercebi que a única coisa realmente importante é estar bem com o meu marido. Quando estamos realmente bem um com o outro, os miúdos não dão qualquer problema."

    Pode ser uma grande simplificação, mas parece-me uma achega interessante.

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  33. Mme Pirulitos - Cortar os pulsos é anti-higiénico, não te metas nisso que depois passas a tarde toda a lavar o tapete branco, que é uma trabalheira. Yo? Fui googlar a tal da equifinalidade, encontrei uma boa explicação no Diario Economico, mas acredito ter percebido a questão. E aceito e digo que sim ao pediatra e à professora da escola, aos meus pais nas férias e mesmo à babysitter que tarda a ser chamada para um qualquer sabado à noite, mais do que isso ? Com certeza, mas la mais para a frente.

    Helena - Que as nossas amigas divorciadas não leiam isto ... Não gosto muito dessas simplificações extremas, ainda prefiro complicar demasiado do que simplificar tanto que depois a vida parece uma treta de um powerpoint. Mas sim, estou consciente (bom, não estou muito, mas ando a fazer esforços) que não controlo tudo e que nem so das minhas boas intenções serão feitas a vida dos meus filhos. Olha, vou fazendo o que posso, colocando muitas vezes em questão verdades adquiridas para ver se aguento a onda e continuo jovem e mente aberta. Yo !

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  34. Espera, espera, pára tudo! Há alguém que se levanta durante a noite e sente "alegria e força"???

    gralha

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  35. Lamento anonima Gralha, mas este é um workshop didactico e civilizado, pelo que, neste contexto de boa fé nunca me permitirei apontar o dedo à Helena.

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  36. apesar de ninguém ter piado neste blogue, isto é tudo gente que sabe guardar segredos bem guardados, ;-)
    eu acuso-me: Há! Há!

    Havia, que eles agora estão mais em idade de quererem que eu fique na cama sem ir ver o que andam a fazer em casa àquelas horas da noite. Mas se calhar é porque não era todas as noites, nem sequer todas as semanas.

    Ou se calhar era eu a fazer questão de ser feliz: se me acordavam a meio da noite por estarem doentes ou assustados, aproveitava para me sentir insubstituível.
    (é a minha especialidade: "virar o bico ao prego")

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  37. Concordo ctgo, mãe que capotou.
    Os NTM têm razão. Temos de guiar os nossos filhos. Devem ser os pais a ensinarem aos filhos os melhores caminhos a seguir.

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  38. Olá!

    Eu voto nos trabalhos a tempo parcial :)
    Voltei a trabalhar quando o meu filhote fez 9 meses, felizmente!
    Digo felizmente porque estava a ficar insuportável, irritavelíssima (:S), já não conseguia imaginar-me sozinha, nem tomar um duche descansada!
    O meu marido, convencidíssimo de que o melhor para os filhos é estar com a mãe, lá teve de se render às evidências! Se eu não voltasse ao trabalho lá se ia o meu equilíbrio mental e talvez o casamento...
    Trabalho das 08:00 às 14:00 e durante esse tempo a cria fica com a avó materna (tenho uma sorte!)
    Comboios profissionais? É vê-los passar, mas estou a fazer um mestrado para ver se mais tarde ainda consigo apanhar algum comboiozito...

    Abraços,
    Andreia

    P.S.: Sou fã da Helena! :)
    Em relação ao facto de trabalhar mesmo não precisando de dinheiro: esse é o meu caso, o meu salário é ridículo (a sério! pensem segundo padrões africanos) e o do marido chega e ainda sobra, mas eu já não conseguia estar em casa...

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  39. Hehehe, já tenho uma fã!
    Perdi alguns comboios importantes, mas ganhei este. ;-)

    Chovendo no molhado da Andreia: na altura em que os miúdos eram pequeninos e eu trabalhava a meio tempo, a maior parte do que ganhava ia para os custos que tinha para poder trabalhar (a creche dos dois, o transporte para o trabalho, que era relativamente longe). O brincalhão do meu marido dizia: "mais vale gastá-lo assim que no psiquiatra..."

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  40. Bom, eu passei 2 anos e meio em casa quando eles nasceram e, apesar de quase ter capotado irreparavelmente, A-DO-REI! Depois, por motivos económicos fui trabalhar mas tinha um horário EXCELENTE que me permitia estar, o mais tardar, às 17h30 no colégio. Como adorava o trabalho, como estive sempre precária e mandava os objectivos do serviço à merda (eu queria era fazer o meu trabalho em condições), o trabalho nunca foi grande condicionante.

    No entanto...agora voltei para casa e olhando para trás vejo que, mesmo com um horário baril, andava sempre a mil à hora, sem paciência para os putos e para mim!

    Se não precisasse trabalhar não trabalhava, that's for sure! garantia que os miúdos tinham o acompanhamento necessário e dava-lhes todo o tempo do mundo!

    (por isso...vou aproveitar ao máximo enquanto estou em casa que, infelizmente, isto não vai durar para sempre!)

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  41. Ui, depois de ler o post e os comentários, temo por nós.

    Dois médicos a fazer formação em especilidades cirurgicas com dois filhos gémeos pequeninos.
    Ser médico a fazer uma especialidade cirurgica implica pelo menos duas urgências semanais de 24 horas, fora o horário normal de 42 horas semanais. Na prática isso quer dizer que quando voltar ao trabalho, daqui a dois meses, numa semanas haverão 3 noites em que chegarei a casa ás dez da noite e nos outros dias por volta das 4 e meia da tarde. Fora os imprevistos, porque não se pode deixar o doente meio operado só porque está na nossa hora de saida... A partir do momento em que os meninos fazem um ano terei de passar pelo menos uma noite no hospital. O horário do pai é ainda pior. Só de pensar fico angustiada. E insone. E com muito medo.

    Se pensar que só o facto de estar com eles todo o dia definirá as pessoas que os meus filhos serão no futuro, tenho de assumir que vou criar monstros.

    Chamem-me má e atirem-me pedras mas:

    1) em inicio de vida é impensável deixar de trabalhar... € precisam-se :(
    2) será justo deixar para trás tanto esforço para chegar onde se chega? Na minha área não me posso dar ao luxo de parar e recomeçar... a actualização tem de ser permanente e parar é assumir e aceitar que nunca mais se conseguirá "apanhar o comboio"
    3) trabalhar em part time é impossivel

    É como vos digo, é duro e vivo angustidada. Posso parecer um pequeno monstro mas prefiro acreditar que se o tempo que passar com eles for de qualidade não estará tudo perdido (vai sonhando...)
    Recuso-me a aceitar que serei pior mãe ou mais egoista embora possa parecer.
    Adivinham-se tempos muito duros mas há que arriscar (glup...)
    Era isto ou ter bebés aos 40 anos.

    A verdade é que muitas de nós têm mesmo de ser peritas em malabarismos e em andar em cima de uma corda muito, muito fininha. E temos de chegar ao fim do dia com a convicção de que o que fazemos é o melhor para nós e para a nossa familia. Na maior parte das vezes o melhor é nem questionar muito, é tentar confiar que as coisas vão correr bem. Mesmo que isso nos tire o sono dois meses antes de começarmos a trabalhar.

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  42. D'havaiana e d'bisturi,
    Gémeos? Heroína! O melhor é aproveitar para dormir sempre que puder - não perca o sono com estas coisas! Cada caso é um caso, e conheço muitas crianças filhas de "mãe a tempo inteiro" que são, bom, enfim, calateboca.
    Penso que, mais importante ainda que o tempo de qualidade, é os pais estarem certos de que estão a fazer o melhor que podem. Se para os pais está bem, para os filhos está bem.
    Força!

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  43. Bem, só li isto agorinha. Ou melhor, acabei de ler agorinha. Li o post e os comentários todos. Sim, tenho muito que fazer, mas fiquei vidrada, porque ainda ontem capotei. Dei por mim a ralhar com o Mister quando não era assim tão preciso, a fulminar o Comandante com os olhos quando o coitado chegou a casa e me veio dar um beijo. E creio que estive a segundos de correr atrás dos gatos com um facalhão de cozinha. Foi nesta altura que decidi ir ao terraço fumar um cigarro. E pensar. Acho que foi um acumular de situações. Estou cansada de andar a correr. E só tenho um "piqueno".
    É sair de casa a correr, levar o Mister à escola (que esta parte faço sempre com muita calma para aproveitar bem os últimos miminhos...), chegar ao trabalho, stressas o dia todo, sair à 18h (era bom, tenho de me esforçar mais) para ir buscar o Mister a tempo e horas - detesto quando chego lá e ele é o último :( - chegar a casa, dar banho e por jantar a fazer, refeição (come, olha a colher, mastiga, mete outra colher à boca, não te distraias, come...), ir deitá-lo (que não adormece sozinho), ir arrumar a cozinha, tratar da roupa, limpar o tabuleiro dos gatos (a sonhar com o facalhão...) e depois tentar descomprimir. Mas entretanto já é tarde e já devia estar a dormir! O tempo foge-me, raios!
    E sim, há os fins de semana. Mas aos fins de semana não tenho o Mister comigo... Acabo sentindo falta de ser mãe.
    Já desabafei um bom bocado.
    Obrigada

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  44. Voltei! Tarde para comentar, mas voltei...
    Este era um post em que queria muito ter participado, mas entretanto o meu minúsculo lembrou-se de nascer e eu - copiando descaradamente a tua magnífica expressão - capotei...

    e a verdade é que hoje tudo é diferente de ontem e as certezas absolutas que tinha transformaram-se em dúvidas avassaladoras.

    Não sei como será, mas uma certeza tenho:o meu coração está cheio e só me apetece afogar o meu pequenito em mimos e esquecer que o resto do mundo existe.

    Vou tentar adaptar-me a estar capotada e quando puder volto. Até lá guarda uns scones para mim, nem que sejam os mais queimadinhos

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  45. Bolas! Já apanhei este debate tão adiantado e eu tão atrasada, que acabei por desistir de ler os comentários todos (mas li muitos...).
    Não queria deixar de dizer umas palavrinha, no entanto.
    Eu tenho duas pequenas criatura e estou com eles (quase) a tempo inteiro e, sim, às vezes, farto-me um bocado de falar de fraldas e desenhos animados e de ouvir gritar "Mãe!" 127.346 vezes por dia, como se o mundo fosse acabar e afinal só caiu a garrafa da água para o chão do carro... E tenho alturas e que me apetecia fazer outras coisas, designadamente, estar sozinha. Mas, na quase totalidade do tempo, sinto-me perfeitamente feliz e "realizada" no papel de mãe e não preciso de mais nada, a não ser, talvez, de mais algum dinheiro e menos alguma "culpa", por não ser auto-suficiente.

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