Tudo começou na avenida da República.
Ah, a República !
Mulheres. Homens. Crianças.
Brilho nos olhos. Sorrisos, ali, onde devem estar.
Carros cheios de gente, a apitar. Pessoas a acenar a quem estivesse a passar.
Mostra a tua raça !
Todos a subir a avenida. A festejar.
Tinha-se vencido qualquer coisa.
Qualquer coisa de grande, algo muito importante.
Vinham às centenas. Eram milhares.
Juntos. Unidos. Soldados.
Mostra a tua raça !
Campeão. Outros campeonatos. Fumo vermelho.
Como os cravos. Deste estranho mês de Abril.
Qualquer um no meu lugar, caído do céu numa companhia low cost, teria confundido.
Futebol. Politica. Bola. Vidas.
Bastaria optimismo e muita alienação.
Estamos no estranho mês de Abril.
Fado, Futebol e Fé.
Nunca serei contra a Festa, bem lhes vejo a cara.
Gostei do que sentiam, até mesmo do que vi. Que o façam muitas vezes.
Mas, se apenas por um dia se juntassem para mudarem as suas vidas. E as dos outros.
Oh, que gloriosos, então seriamos.
Desci a avenida, esta e a outra. A dos prédios com janelas fechadas a tijolos.
Passei pela rotunda do Saldanha, onde não estava a carrinha com a sopa dos pobres.
Hoje é dia de alegria. Ora essa.
Descemos a avenida, sem apanhar o metro.
Sem olhar para o cartaz onde nos dizem para denunciar o vizinho.
Sem olhar para as noticias do sorteio dos Audis.
Sem saber em que acreditar.
Descemos a avenida.
E foi ali que a culpa cresceu.
A culpa é minha, toda minha.
Não é de quem não vê.
Não é de quem festeja.
Não é dos que comentam e se indignam no Facebook, e assim algo julgam fazer.
A culpa não é vossa. A culpa não é dos outros.
Eu estava ali e nada fiz.
A culpa disto tudo estar como está, é minha. A culpa é minha.
Fui eu que deixei isto continuar a andar.
Chamemos as coisas pelos nomes.
A culpa é minha.
A culpa é minha.
Continua quando for possível, ou quando encontrar a coragem que tantas vezes me falta.
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obrigada pelo teu blog! adoro ler-te.
ResponderEliminara culpa é de nós todos...
Obrigada eu, Daniela. Pelo que dizes sentir e pelas belas fotos no teu blog.
EliminarPosso partilhar esta culpa, se for caso disso. Mas a minha parte, é a minha parte.
fico sem saber o que dizer. dominas as palavras melhor que eu. eu perdi as palavras e fico-me pelas não ditas.
ResponderEliminarmas gosto muito de ler as tuas, principalmente de sentir que existem pessoas que ainda me fazem crer que nem tudo está perdido.
d.
Mas estás decidida a fazer-me corar a esta hora da manhã ? Logo eu que ainda nem café bebi.
EliminarFiquei curiosa com essa da culpa.... Eu nunca gostei muito de fazer julgamentos e opinar no facebook, acho que nunca estamos perante toda a informação para poder ter a chamada opinião fundamentada. Não sei se é bom senso ou cobardia. Angustio-me com o estado do mundo e culpo-me pela parte que me toca.
ResponderEliminarA "culpa" palavra de que não gosto nada, por ser tão banalizada, aqui quer significar responsabilidade. E essa tende a ser sempre dos outros. Quando é nossa, minha, é mais pesada, e por isso, fica mais perto de forçar uma atitude : é mais um empurrão para que uma acção necessaria e urgente seja tomada.
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