14.11.13

Facilities


Foi a mais fácil. Algum dia tinha que ser. Foi andar atrás e ver fazer-se tudo como estava previsto.
Por eles.
Entregamo-nos como nunca nos tínhamos entregue a um guia turístico profissional, a um cirurgião plástico daqueles que também fazem implantes capilares ou a um mecânico que não faz orçamentos. Queríamos ser uns bons progenitores, desta vez. Dar confiança, espírito de iniciativa, responsabilidade, essas coisas.
Estamos tão auto-orgulhosos, o ego tão cheio desta nossa ideia, que agora tinha mesmo que vir para aqui espalhar a boa nova. We are the champions, my friend ! Por seis dias incompletos, fomos os pais que queríamos ser e pela primeira vez fizemos planos e tudo correu como planeado. Pena que o plano tivesse sido não fazermos planos e deixar essa parte com eles.
Detalhes.
Os livros para crianças, que encontramos na biblioteca sobre Londres, eram mais que os pais e ainda por cima temos vizinhos ingleses que lhes deram as dicas que faltavam. Pelo que tinham a faca e queijo na mão. Começaram pelo Cheddar.
Levaram-nos ao London Eye que nunca nos tinha convencido nas visitas anteriores, estar onde se quer estar e depois pagar para nos afastar e ver tudo ao longe, ainda não nos tinha parecido um bom negocio.
No Big Ben, esperamos pelo som dos sinos para adivinhar a hora, já tínhamos praticado em casa, foi um sucesso. Alguém lembrou-se do Peter Pan. E do Cars 2.
No autocarro vermelho, um  very polite senhor indeed cedeu-nos o seu lugar à frente, no segundo andar - thank you, disseram espontaneamente, o sorriso também não foi forçado, nem a excitação. Simularam conduzir. Houve acidentes e sangue.
Em Trafalgar Square subiram aos leões, como faziam os punks nos anos 80. Sempre foram muito anarquistas, não é de agora. Poupo-vos da minha reflexão e não refiro que preferia quando havia punks, contestação, gel poderoso, mas assim como assim, é mais uma atracção gratuita.
Ficaram extasiados com as luzes de Piccadilly Circus, tal como eu tinha ficado extasiada com as luzes da Time Square. Genética. Ou todos descendemos do Hommo Sapiens - até o George Cloney, garantiram-me - luz, calor, efeit wow garantido, somos uma espécie simples, bem vistas as coisas.
No render da guarda, percebi que adoram, assim como centenas e centenas de turistas, homens fardados a tocar a marcha militar "Isn't she lovely" do Stevie Wonder. Acenaram à rainha, que por uma sorte, ou azar, do caraças passou de carro -  parecia que tinham visto o proprio do mestre Yoda. Muita, muita emoção. Se vierem a ser monárquicos ou entrarem no exército por causa disto, nunca me irei perdoar.
Os esquilos no Saint James Park deixaram-me fazer daqueles vídeos que vamos ver em família daqui a uns vinte, trinta anos. Pequeno momento para a lágrima que podia perfeitamente ser patrocinado por uma marca de lencinhos. Papel ou tecido bordado à mão.
Levaram-nos a um parque infantil que não fazíamos ideia que existia, e nem sequer havia bicha como se queixavam as mães nos fóruns - ah, as vantagens de se viajar quando faz frio.
Perderam-se em NothingHill e em Camden, mas a culpa foi nossa, também não se pode ter tudo, um bocado de adversidade forma o carácter.
Fotografaram, como profissionais, a Tower Bridge e cantaram num inglês quase tão imaginativo como o da mãe, o London bridge is falling down, olhando para a ponte à frente e explicando o que tinham aprendido sobre o grande desastre.
Quiseram ver todos os espectáculos de rua de Covent Garden até que alguém foi aplaudido por se magoar, descobrindo assim os limites do humor.
Imitaram na perfeição o sotaque da senhora do metro please mind the gap between the train and the platform.
O Museu de Historia Natural foi evidentemente escolhido assim que souberam que havia um, queriam comparar com o de Paris. No final esqueceram-se de fazer comparações, são os dois muito bons. Mas, na realidade o de Londres é muito mais completo e maior, mas isso sou eu, que não sou fã incondicional.
Falaram entre eles de uma cabine telefónica para outra, de graça e tudo, nem sabia que era possível.
Comeram mais fish and Chips do que o que estou pronta a assumir publicamente.
Mas a minha parte preferida, foi acabar de lhes ler o Charlie e a fabrica de chocolates, numa sincronia sem precedentes, no exacto dia da grande surpresa.
E nem saborear um chocolate Wonka - e juro que são bons, a porcaria destes chocolates de marketing perfeito - foi tão extraordinario como estes dias que passamos juntos. A viajar a reboque dos fihos. A seguir as recomendações da nova geração.
Adivinho uma boa reforma.
Londres valeu a pena, mais uma vez.

25 comentários:

  1. mas caramba ! eles já sabem assim tão bem o que querem?...agora fiquei preocupada...
    ;-)

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    1. Mas preocupada com o quê, exactamente ?

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    2. com o facto de a minha filha não saber o que quer, porque sobretudo sabe lá ela que existe todo uma mundo por explorar....logo pergunto-me se estarei a falhar nalgum ponto, se será apenas uma grande diferença nas idades.

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    3. é disso que falas não é ? em serem eles a escolher e decidir o que querem ver....o que pressupõe que têm conhecimento para formar opinião. Diz-me lá, isso é muito trabalho de casa ou é algo que acontece naturalmente a partir dos 5 anos? ;-)
      Quanto muito, por cá, nós é que ajustamos os percursos a ela, porque sabemos são mais adequados e apropriados à sua idade e feitio....daí que ela não vá connosco a Paris :P

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    4. Isto é muito trabalho de casa, claro. Os meus filhos são estupendos, isso é verdade, mas efectivamente não nasceram ensinados, às vezes para grande pena minha, às vezes não. Os livros que lemos ou folheamos são da secção infantil da biblioteca aqui do bairro, por isso, naturalmente apenas encontraram monumentos ou eventos adequados às idades deles. Depois, eu também estava ao lado para dar mais destaque ao mais interessante (segundo a minha opinião). Mas houve o tal parque infantil e o London Eye, por exemplo, que se fosse eu a escolher não seria feito. O que, agora que ja la fomos, vejo que seria um erro triste. Quanto ao musical do Charlie e da chocolateria, e ao livro, foi-nos recomendadopor uma vizinha de 8 anos que vai a Londres regularmente porque a familia da mãe é de la. Ou seja, as crianças, minhas e dos outros, é que realmente trataram da nossa visita a Londres. E eu dou-lhes nota 10. Gostei mesmo muito. Claro, que isto é mais facil de fazer em garndes cidades, porque existe muita informação disponivel. Olha que Paris, também é uma excelente viagem para se preparar com crianças. Mas também é excelente para uma lua de mel tardia, claro. ;)

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    5. Não deixa de ser uma questão de uma boa educação, para além com certeza de eles serem uns miúdos estupendos e interessados...ainda bem que existes para me relatar esta história, voltaste a dar-me esperança em relação ao que mostramos aos nossos filhos- sendo que a grande questão para mim é como o fazemos. Isto já é uma questão muito antiga, daquelas que eu te disse que dava muito que falar.... por agora, bravo ! não sei como não percebi logo de início, ais os malditos traumas....beijos, muitinhos

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    6. Pois dava muito que falar, pois dava. E espero que venhemos a ter esta conversa muito em breve. Lisboa, Paris, aqui. You name it.

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  2. Wow! Que relato tão.... vigoroso! e que ideia tão mais que pertinente por as rédeas nas mãos dos filhos. Nos também lá estivemos há duas semanas e andamos ao ritmo da bebé de 2 anos. Sem qq sentimento de culpa pouco mais vimos que Portobello Road, camden e trafalgar square e já foi mais que suficiente para regressarmos muito constipados e muito felizes.

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    1. Na volta, ainda nos cruzamos, porque também andamos por esses lados, mais ou menos por essa altura. Para a proxima organizamo-nos melhor e vamos beber um tea todos juntos.
      Culpa de quê ? Familia que se constipa em conjunto é familia feliz, pois claro.

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  3. Fomos a Londres com os miúdos pela primeira vez (a dois mais vezes) e foi um sucesso semelhante ao teu! Engracado que fizemos quase as mesmas coisas... Em Maio repetimos mas Paris... tens dicas ou links aqui no blog? Beijinhos. Sonia

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    1. Por acso estou a preparar um percurso para um blogue de viagens, depois colocarei aqui o link. Vens quantos dias ?

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  4. É a primeira das cidades planeadas para 2014, depois dos sucessos absolutos de Paris e Roma. Tem corrido tão bem que dá gosto.

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    1. No nosso caso descobrimos esta colecção: http://www.wook.pt/ficha/isto-e-paris/a/id/10635085 que, coincidencia, tem as duas cidades que visitámos o ano passado. Eles leram antes de irmos e foi giro reconhecerem depois as coisas. Não foram eles que fizeram os roteiros, fomos nós, mas vamos falando e pedindo opinião.

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    2. Também tinhamos esse livro. E é verdade que é lindissimo, mas às vezes fala de sitios ou de detalhes que ja não existem. Porque é que não vais a uma biblioteca para completar ?

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  5. Também estivemos em Londres este ano, exactamente pelos mesmos sítios e escusado será dizer que adorámos. Que excelente passeio para mais tarde recordarem :)

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    1. Andamos todos ao mesmo, afinal de contas.
      Tive pena de não lhes ter mostrado o Tate Modern e a reconstituição do Globe de Shakespeare e ... pronto, que maçada, vamos ter que voltar.

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    2. O Globe não poderá falhar, com a maior fã de teatro de todos os tempos que é a pequena aquilo deverá ser um must.

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    3. Então, tens que ir a Stratford-upon-Avon. Stay tunned. Proximo post.

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  6. Obrigada também aos teus filhos por nos proporcionarem mais estes belos momentos (à distância).

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    1. Meninos, parem de brincar e ouçam isto, ali no blogue estão a dizer para vos agradecer, por lhes proporcionarem bons momentos, por terem feito aquela viagem daquela maneira.
      ...
      Por acaso ia ser bonito, ia.

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  7. Eu fui sozinha e fiz quase o mesmo que os teus filhos, o parque infantil foi substituído por um jardim cheio de neve, onde quase me parti toda. Agora não sei se os teus filhos estão muito à frente, ou eu muito atrás.
    Bom, quer dizer, é capaz de ser melhor conhecer uma cidade pela primeira vez, como foi o meu caso, com olhos de criança ;)

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    1. Fica, então assim combinado : depois de Paris, Berlim, Brighton, passando por Lisboa e pelo Porto, vamos a Londres.
      Por favor, diz-me que não te obrigaste a ver o render da guarda.

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    2. Não, não, disso não fui capaz, e nem cheguei a subir no London Eye, fiquei só a olhar para ele, mas pronto, a Londres deles é muito parecida com a minha (inclusive a parte do autocarro, em que até assisti a uma manifestação), o que me deixa bastante satisfeita, devo dizer.
      Nós as duas em Londres seria outra história, uma história que ainda há-de ser contada, não duvides ;)

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    3. Vou arranjar uma agenda so para apontar tudo o que temos que fazer. Seria uma pena esquecermo-nos de alguma destas boas e fundamentais ideias.

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