Uma vez os pés assentes em Oxford, declarei que o labirinto em Marne-la-Vallée vale o que vale. Não muito. Teve que ser. Que tivessem paciência. Da América, desta vez, não veio nada de novo. Copiou-se, mudou-se umas coisitas e desatou-se a vender, assim como inevitavelmente se desatou a comprar - e arrependi-me, pois claro, por ter feito as visitas ao contrário.
Harry Potter e Alice no país das maravilhas, versão disney. Oxford. E eu no papel daquelas excursões de americanos, que andavam a chagar os parisienses do VI arrondissement, com perguntas sobre onde é que ficava aquela igreja não sei quê do Dan Brown.
Não podia. Achei eu. Oxford merecia mais. Olha a vergonha.
Andei a sonhar com edificios ocre,tradições e uniformes durante anos. Muitos meses. Um pouco de respeito.
Estava enganada.
Oxford, ou uma parte de Oxford, está-se a borrifar para os galardões e para o "parece mal".
Tudo bem. Estão por tudo. Querem Harry Potter ? Querem Alice ? Dá-se Alice e o chapeleiro maluco, dá-se Harry Potter e a vassoura e mais houvesse.
E há.
Estamos em pleno centro da universidade de Oxford, mais precisamente na biblioteca Bodleian - isto é apenas um exemplo. A arquitectura é de tirar o fôlego, o peso histórico esmagador. Por aqui passaram cinco reis, quarenta prémios Nobel, 26 primeiro-ministros, que nem sequer eram portugueses - atenção - e vários escritores : Oscar Wilde, Lewis Carrol, Tolkien... é ir ao Google.
E os miudos : e a escada de Poudlard e a enfermeria onde a Hermione foi levada, e estava transformada em pedra, e foi um feitiço e não sei quê.
Tudo bem, a culpa em parte - 99% - é minha. Incentivei-os a verem o Harry Potter, quatro filmes inteiros, para que se entusiasmassem com a visita a Oxford. A cidade desta viagem que me parecia a mais difícil para estas tenras criaturas.
Mas depois esperava discrição. Ninguém precisa saber, sem margem para duvidas, que somos uma família de incultos mainstream.
Nada disso.
Como se fosse um parque de diversão. E estarmos em época de Halloween, também não ajudou, cruzamos mais homens aranha que uniformes sérios e distintos.
O mundo do avesso.
Oxford não é o que era. Pelo menos não nos meus sonhos. Provavelmente é melhor.
Talvez fartos de responder tantas vezes às mesmas perguntas, os guias e as indicações estavam à disposição - para inglês ver - com fotos dos filmes. Naqueles locais que eu julgava sagrados e acima destas trivialidades.
Os miúdos deliraram e nós, deixamo-nos ir. O francês a dizer que isto seria impossível em França. Eu a lembrar-lhe os franceses a dizerem que "impossível" não consta do dicionário francês. Seria difícil. Quando muito.
Havia uma exposição - bem gira por sinal, agora que me sinto à vontade para assumir esta desfaçatez - sobre os livros do fantástico, com o Tolkien a juntar-se e tudo. E mapas. E gravuras. E livros antigos sobre feitiços. Dragões. Muitos.
Um alívio, esta coisa de ser aceite pelos intelectuais de Oxford. Nem queiram saber.
A partir daí foi o descalabro, como podem imaginar. Largámos tudo. Escolhemos o caminho mais facil e por aentramos a saltitar. Broncos.
Ele foi ir à loja "da" Alice, da própria da musa, comprar chupas duvidosos e um jogo de cartas que ainda estamos à espera de perceber como é que funciona. Ele foi ir à Christ Church para visitar a cantina de "Poudlard". Porque não. Até fomos duas vezes, que eles não tinham visto bem os vitrais com a Alice, a lebre, a rainha de copas, à primeira. O Einstein também também foi da festa, todos os best sellers mereceram o seu lugar ao sol num vitral. Foi uma alegria muito grande.
Pior foi quando o miúdo começou a desconfiar que o Harry Potter não ía descer para um passou-bem. O Mickey é muito mais tu cá, tu lá. Explicamos-lhe que devia estar com muito trabalho, exames e tal. Que era uma má altura para o bom do Harry, mas que voltariamos numa outra ocasião, para uma visita mais oportuna.
E depois andamos por ali a correr, atrás das trotinettes. Jogging à noite, e tal.
Opá, não sei.
Tenho as minhas duvidas.
Li ainda esta semana que a família não é uma democracia. E eu comecei a perceber porque é que, tantas vezes, o absurdo se convida à minha mesa. Toda a minha gente tem a sua palavra a dizer.
Uma barburdia.
Conclusão, é tentar novamente, é vir uma próxima vez. Talvez depois de ter acabado aquele calhamaço de Física e ter-me tornado alguém de respeitável. Uns bons dez anos e teremos a maturidade suficiente que Oxford precisa. Continuando-se optimista.
Ou então não, então é mesmo assim, estudar a sério e divertir-se à grande com leviandade. O balanço. A conciliação. Mente sana em copo cheius. Nunca fui grande espingarda a latim.
Uma cidade magnífica, apesar de tudo. E o tudo, como sabe, é a minha família.
Agora fiquei mesmo, mesmo baralhada. Até fui confirmar se havia mais do que uma Oxoford, porque a que me tem feito companhia neste livro: http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=7583 é o oposto do que mostras. Genial!
ResponderEliminarNão conheço o livro, mas olha que na curta sinopse fala-se de confundir realidade com ficção.
EliminarDe certeza que existem varias Oxfords na mesma latitude, mas nesta minha viagem os miudos levaram a melhor e a propria cidade deixou que tal aconteça. Não era tão rigida como estava à espera, mas também não estive a trabalhar, nem a estudar. Vi de passagem bibliotecas com estudantes à noite. Vi clubes privados, reservados a membros, onde tentei espreitar e creio ter visto um ambiente selecto. Mas eu andei à procura da fotografia facil e, sobretudo, de não deixar os miudos aborrecerem-se.
O que eu digo a Oxford hoje em dia : O problema não és tu, sou eu.
Ficou-me a apetecer visitar novamente, mas desta vez no Verão, ficar num dos quartos vagos dos estudantes durante dois ou três meses e aprender alguma matéria que me interesse e que seja possivel aprender no Verão, nem que seja a falar mehor inglês. Com sotaque de Oxford, of course my fair lady.
Temo que, com tanta latitude para ideias e meios de locomoção que se promove nessa casa, os filhos crescerão para se tornarem respeitáveis e sérios estudantes oxfordianos, verdadeiros marrões, até, só por despeito. Vê lá se não é melhor começar a pô-los consumir mais mainstream, pelo sim, pelo não.
ResponderEliminarNão, não, não, por amor da santa. Podem escolher ser ou fazer tudo o que lhes apetecer, até bloggers, tudo bem, eu aceito - para tu veres como sou open minded - mas que não façam nunca nenhuma escolha por despeito. Ah, isso não !
EliminarNos últimos anos Cambridge tem passado a perna consistentemente a Oxford, até a Harvard, e é actual nr1 do mundo. Mas história é história.
ResponderEliminarOs estudantes andam pela rua fantasiados frequentemente, durante todo o ano. Na época do halloween então até há zombie walks, e estranho é o não fantasiado. Não leves isso a mal à terriola!
Não levei nada a mal a Oxford. Tudo o que "falhou" foi culpa nossa. Admitido e assumido ! :)
Eliminar