25.4.13

A saga dos cravos na primeira pessoa do singular

Corri todas as floristas de pelo menos três bairros à esquerda do Sena. Procurava as flores certas. Em vão, em vão.
Perguntei a um vizinho português onde é que poderia encontrar as ditas. Lembrou-se que era verdade, era vinte cinco de Abril, e mais adiantou que em França associa-se os cravos ao azar e à morte e por isso não se deve oferecer esta flor a ninguém. Mas não me valeu.
Entrei num restaurante português, disposta a pagar caro um cravo da cor certa, de um qualquer arranjo que por lá tivessem. Nada. Apenas um senhor vestido com uma camisola do Benfica e uma Sagres tamanho médio. Ai, se o meu pai sonha que eu escrevi Benfica com letra grande.
Encontrei os desejados oeillets rouges mais tarde, plantados em vasos demasiado pequenos para tanta simbologia, encaixados entre os morangos a cinco euros a caixinha e as uvas da Africa do Sul, na frutaria ao pé de casa. O senhor da caixa sorriu-me e eu sorri-lhe de volta. Não confirmei o motivo da  empatia, por medo de uma certa desilusão. E assim como assim, agora posso aqui referir uma suspeita de ter participado numa comemoração lusitana do dia de hoje.
Ao jantar expliquei aos miúdos a revolução, com esta preciosa ajuda. Prometeram solenemente cuidar dos cravos, regá-los e adubá-los com conveniência. Não seja eu a ocupar-me deles, não. Quanto ao tesouro que tem que ser guardado, esse, não o guardemos nós, aqui e agora, sem demoras, que daqui a pouco ninguém vai saber onde é que ele pára. Mexamo-nos. Mexam-se, que por enquanto ainda vamos a tempo.
De seguida cantaram granula, vila moleza e fiquei com uma séria vontade de censurar a televisão em casa dos avós no Verão que se aproxima. Hoje estiveram trinta graus - já deve estar perto - passei grande parte do dia a aproveitá-los. A liberdade também pode ser isto.
Agora vou ver o noticiário e de seguida me despeço caros leitores, amigos, camaradas.

3 comentários:

  1. Tenho a sensação de que há algum exagero nisso de não se oferecer cravos em França, mas não tenho a certeza... http://youtu.be/pnqRvr0zdgE E bom resto de 25 de Abril.

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    1. Ah, Barbara, obrigada, obrigada. Vou investigar melhor esta história, mas que hoje foi difícil foi. A ver se estes resistem um ano e para o próximo 25 de Abril me poupam a tanta correria.
      Bom resto de 25 de Abril para ti também.

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  2. Cada vez gosto mais de te ler, Carla!

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