4.2.13

104


Para chegarmos ao 104, temos que resistir às montras de vestidos inspirados nos filmes de Bollywood, não podemos entrar nos armazéns de importação com frutas, raízes e especiarias exóticas, devemos ignorar os salões de beleza com logótipos escritos com caracteres indianos e atravessar uma ponte que passa sobre uma complicada rede de caminhos de ferro. O 104 fica à esquerda do novo parque, em que também não devemos experimentar se quisermos chegar a bom porto.
E finalmente, o centro do mundo. Deste mundo, pelo menos.

Passo a explicar :
Soundsystem amador Néons ABERTO OPEN OUVERT Cem bailarinos ensaiam coreografias díspares. E acreditam. Fame I want to live forever I Wanna learn how to fly Não existem professores oficiais Palpites Coragem Naïf Anarquia dançarina.
O melhor dos nossos mundos  - Prazer.

Fiquei a sonhar com uma sociedade melhor.
Felizmente fi-lo com os olhos abertos, que enquanto isso, os meus filhos escaparam-se num ápice para dentro de uma obra de arte de Michelangelo Pistoletto - "O labirinto" - para de lá saírem apenas uma hora depois. Ai, fosse eu uma mãe detentora de autoridade...

E depois ficamos por ali, perdidos a espreitar às escondidas o ensaio do próximo espectáculo do coreógrafo Olivier Dubois. A olhar descaradamente para os dançarinos de hip hop. A filmar as tentativas do meu filho de impressionar e ser aceite num grupo de teenagers que sabe dançar apenas com a cabeça a rodar no chão. Entrar na loja da Emmaüs cheia de clientela hipster à procura da próxima originalidade La pauvreté n'est pas un délit. Sermos interrompidos por um senhor com um sininho que vem chamar os espectadores do próximo espectáculo de dança a começar em 5 minutos. Fazer planos para voltar e ver com atenção a exposição Natura, com a colaboração de uma artista portuguesa (adivinhem quem). Uma peça de teatro com o Jacques Gamblin (inserir corações aqui). Tentar perceber, com a ajuda de uma senhora com uma toca como a da princesa Leia da Guerra da Estrelas, se seria aconselhável entrar com crianças no Museu dos corações partidos. E muitos etcs mais.


Estes etceteras também são Paris.

12 comentários:

  1. UAU obrigada pela dica, já a vi a programação e tem a noiva da Joana vasconcelos à cabeça, a peça que no versailhes não queriam expor por ser feita de tampões..
    se for a paris nos próximos tempos, não me posso esquecer de lá ir

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    1. Temos que falar seriamente sobre a Joana Vasconcelos. Anda tudo maluco com o que ela faz e eu não me consigo embalar nem por nada...
      A noiva, por exemplo... tampões ? Se ainda fosse sangue, ainda podia compreender, mas tampões... porquê ? Acho tão falso, supostamente deveria ser para chocar, mas depois opta por uma solução conformista. Não existe ninguém em Portugal que pareça que vai arriscar e inventar algo novo e que depois, vai-se a ver e é mesmo novo ?

      Claro que gosto de ver um nome português aqui no meio de tantos nomes de referência, ou de ler uma critica positiva num jornal como o Le Monde.
      Mas gostava que houvessem outros artistas mais audaciosos que também tivesse direito a esta exposição.

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  2. Uma coisa boa de viver numa grande cidade, é a variedade de experiências...
    não quer dizer que aqui na parvónia bem rural não exista variedade...o que acontece é que, normalmente a qualidade deixa a desejar.

    Adorando viver "no campo", há dias em que tenho uma dose enorme de vontade de deslocarme para a "cidade".

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    1. pois olha, aqui o burgo (lisboa) às vezes também parece a parvónia. principalmente comparado com essas coisas de paris e berlim...ai ai (suspiro) , quem me dera ter dinheiro para ir de fim de semana a essas cidades

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    2. Sim, sem duvida, mas se aqui me der uma nostalgia bucolica de me passear no meio de vacas ou de molhar os pés num ribeiro, bem que posso procurar em toda as saidas do metro.

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    3. Quanto a Lisboa, olha que de cada vez que vou aí acho sempre que existe imensa oferta. Talvez esteja a comparar com o que havia há 10 anos atrás, quando me vim embora. Ou se calhar, estou pouco tempo e como condenso tudo parece-me muito.
      O que é um facto, é que encontro sempre uma ou mais coisas a fazer por dia e não dou conta do recado.

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  3. Agora sim, entre um pequeno fôlego: Um dia, perco a cabeça e vou até Paris com a família toda. É tudo isso que me(nos) faz aqui falta. Que sede dessas aldeias 8culturais) dentro das grandes cidades. Obrigada *

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  4. Eu não sou fã da Joana Vasconcelos, mas não digas mal dela, deixa isso para os críticos (que são aquelas pessoas que decidem que uma coisa é má só porque é popular). É claro que tens todo o direito de não gostar (e criticar), mas não o faças por ela ser um fenómeno de popularidade, o que por acaso me parece não ser o teu caso. Já percebi que não gostas, ponto final. Mas esse da noiva, por exemplo, não percebo a tua embirração. A mim parece-me sublime transformar um objecto tão particular, tão íntimo, tão feminino numa coisa vulgar e, ao mesmo tempo, graciosa. Um candelabro é uma peça única: é funcional, porque dá luz (ou à luz) e é belíssima, ou seja é o supra sumo do design:)
    Além disso, o nome da peça também me parece muito feliz, por associar sangue e virgindade, mas, pronto, isto é o que eu penso/sinto, não sei avaliar o que se é arte.
    Em relação às cidades, quase me sinto na tentação de dizer que Lisboa não fica muito atrás de Paris, mas se calhar é porque neste fim-de-semana comecei o Sábado a ver um filme no cinema(francês, claro), depois almocei a ouvir fados, à noite fui ver Gorki por uma companhia Belga e...enfim, não vamos esgrimir ofertas culturais que daqui a pouco aparece aqui a Helena a dizer que em Berlim é que é :)

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    1. Porque é que não posso dizer mal de algo que não gosto ? Porque é que tem que se ser critico profissional para se dar a opinião ? Não se pode dar a opinião sobre um livro, um filme, uma peça de teatro ? Então porque é que quando se trata de escultura ou de pintura ou de instalações temos que aceitar o que diz ou a popularidade de um artista ou os criticos ?

      O que eu não gosto na Joana Vasconcelos é uma sensação de déjà vu quando estou à frente de uma obra dela, ou pior quando vejo uma imagem que passa uma mensagem que não me vem trazer nada de novo, como o sapato feminino feito com casserolas - quantas vezes ja se viu peças sobre este assunto ? E é também essa sensação que vamos ver algo diferente, ousado e depois da-se de caras com algo que parece colado a outra obra ja feita.

      Outra coisa que não gosto é este tabu, que tu propria vens ilustrar, então não se pode dizer que a Joana Vasconcelos não é assim la grande coisa ? Por mim, pode-se discutir de arte mesmo quando não se é critico de arte, alias para mim, a arte serve para isso mesmo para ser discutida e apreciada por todos. Não gosto nada dessa ideia de elite. Muito menos dessa ideia do que o que é popular não é bom, que tem que ser apreciado por um publico pequeno para ter valor.
      De resto, não tenho nenhuma embirração com a Joana Vasconcelos, assim que vir uma obra dela que me toque ou me surpreenda, vou aprecia-la e podes acreditar que ficarei muito contente. Mas até aqui ainda não aconteceu.

      Quanto à comparação de Paris com Lisboa, basta ver o numero de museus e exposições, concertos e outro tipo de organizações culturais para se perceber a diferença. O que eu quis dizer ali em cima, é que não acho que Lisboa seja uma parvonia, acho que tem muita oferta, principalmente se compararmos com o numero de habitantes, ou com o que era ha uns 10 anos.
      Mas não compararia com Paris ou qualquer outra grande cidade cultural. E isto não é uma esgrima cultural, são apenas dois factos.

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    2. E contra factos não há argumentos, mas toda a gente sabe que a melhor cidade do mundo é o Porto :)

      Quanto à Joana Vasconcelos concordo com tudo o que disseste, mas ainda assim gosto do que ela faz, mesmo que não veja muito interesse em algumas, ou várias, coisas.
      A verdade é que tendo a defender o que ela faz porque a arte pública é muito menorizada e ela representa um pouco isso mesmo.

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    3. Isso vamos ver este Verão no "Worst Tours" não sei quê, que eu marquei, marcadissimo na minha agenda.

      Não é assim, pelo menos aqui. Ha ja algum tempo que não leio criticas de arte em Portugal. Aqui, este tipo de arte é mais do que aceite e aplaudida. Houve alguma polémica com a escolha do castelo de Versalhes, mas acredito que seja de proposito, um golpe de marketing, porque de cada vez que escolhem um artista é sempre um tema de conversa. O que acho giro, gosto de ouvir discutir-se arte no café, confesso, e gosto que se fale disso em todo o lado, seja no mercado, no cabeleireiro ou na espera da hora de saida da escola. Gosto que se dê opiniões, mesmo quando não se é profissional - toda a gente percebe de arte, porque a arte tem a ver com o que se sente e toda a gente sente.
      Percebo o teu ponto de vista, mas estava a falar do meu gosto pessoal, do que (não) sinto quando estou à frente de uma obra da Joana Vasconcelos. E de não conseguir cruzar-me com ninguém em Portugal que questione um pouco o que ela faz, excepto, talvez os criticos de arte, mas com esses nõa costumo falar muito ao pequeno-almoço.

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