2.1.13

O que acaba em Orly Ouest


Na década de oitenta, o meu tio mais novo organizava um reveillon duvidoso numa garagem comum, num subúrbio que não era o meu. Ali aprendi a detestar os Dire Straits, os Scorpions e qualquer tipo de samba e chachacha. E também, verdade seja dita, a dar o seu valor à música do tempo dos meus pais, à única de jeito, fora uma ou outra excepção. Os meus pais também sabem ser mente aberta, quando se justifica. 
Justifica-se é muito poucas vezes. 
A música que eu ouvia na altura no meu quarto, nunca por ali passou e ainda bem. E-ain-da-bem. Que haja sempre lugar para o respeito do sagrado. 
Era uma adolescente, não podia fazer muito mais do que criticar e dançar. Uma noite inteira a coca-cola. Tinha que gozar e dançar. Dançar e gozar. Divirtia-me sempre muito. Os outros, invariavelmente, menos.

Desta vez, viemos de propósito à nossa sala de estar para reviver este espírito. O tempo cura tudo. Mesmo o que se passou nos anos 80. Se queimarmos as fotos, ajuda. 
Se no final da dita noite, não tivéssemos todos caîmbras e eu constituido um bom dossier de cada um, tinha sido um flop vergonhoso.
Tinhamos tudo para vencer, serpentinas, bolas de papel às cores, um computador com suficiente boa-vontade para não buggar ao terceiro twist and shake, nós papillon e vestidinhos de Verão, um power point com uma contagem decrescente personalizada, que se contam alguns geeks na família, e mesmo um fogo de artifício da meia noite, organizado pela rica municipalidade, que se podia ver da nossa varanda. 
Foi um sucesso estrondoso e mais 3 copos de vinho partidos.
No dia seguinte levei-os ao aeroporto. 
Fim.
Agora vive com isto, emigrante.

8 comentários:

  1. Tu, para quem não se preocupa com o que veste e quer andar sem sapatos na rua, tens vestidos muito giros, deixa-me que te diga!

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  2. "Agora vive com isto, emigrante."
    E depois admiras-te que as pessoas gostem muito dos teus posts!

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    1. Admiro-me até com este teu comentario, vê tu bem. Estive para tirar esta frase.
      Mas não tenho nada contra que gostem, não percebo sempre porquê, mas sei apreciar os mistérios da vida, por isso, podem continuar à vontade, vontadinha. :)

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  3. :) Queimar fotos e diários (digo eu...) ajuda bastante :)
    E como sou parola da aldeia (sabes que vivo em Bragança é quase aldeia), posso dizer coisas parolas, por isso só te digo; gosto MUITO disto (adoro o teu blog, prontux) Beijos, grandes.

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    1. Ahahaha ! Se soubesses o que eu adoro a parolice !
      Outros para ti.

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  4. Desculpa lá mas o teu cabelo nunca vai sair dos anos 80. Nem o meu, assim o conservem as ampolas caríssimas com que o vou massajando quase regularmente.

    Bom ano! E ainda não tive tempo já-sabes-para-o-quê, continua a atirar-me tomates.

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    1. Tu não fazes ideia do que era o meu cabelo nos anos 80, não fazes.
      E que ampolas são essas ?

      Splash tomate podre, cérise, mas um bocadinho podre.

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