Porque estou com pressa

De vez em quando corro, mas normalmente não se vê atrás de quê.
Começou por causa do Pina do Wim Wenders. Tanta força, tanta graça, tanto "tudo" tirado do corpo. Estava a perder qualquer coisa fundamental, ao sentir-me sem fôlego por subir os três andares até a minha casa. Pus-me a correr muito apressada daquela falta de vitalidade, daquele pouco uso.
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O ano passado sentia-me sempre cansada, estava a envelhecer ainda nem tinha chegado ao meio da minha vida. Bebia chazinhos, comparava gostos e marcas. Vigiava temperaturas. Juro que me doíam as cruzes. Não tenho medo de rugas, de flacidez, de cabelos brancos. Mas horroriza-me a ideia de não ter força para viver tudo o que quero. Um medo pesadelistico a preto e branco. Hitchcokiano. Pus-me a correr, sem olhar para trás para o meu futuro.
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Este ano voltei a encher a casa da terra que sai dos meus ténis. Pretos e rosa fluo, os ténis. Castanha escura, a terra. Quero estar preparada. Eu sei que mais cedo ou mais, vai acontecer. A bolha vai rebentar e vai ser preciso correr. Correr daqui para fora, no pior dos casos. Com eles daqui para fora, se tudo correr como desejado.
Correr. Muito rápido e com urgência.