Boémia que te quero

No Grand Palais, ainda consegui entrar na exposição "Bohèmes", antes que o segurança fechasse a porta. Corri. A mim, a boémia !
Primeiro andar, os ciganos. Depois as senhoras e as crianças. Os ciganos que viriam do inglês gipsy, porque se julgava que viriam do Egipto. Mas não. Ninguém se lembrou de corrigir. A Nossa Senhora, ou melhor, a Vossa, representada como uma cigana, por artistas crentes. Os ciganos admirados pelo exotismo. Os ciganos desprezados pela diferença. Os ciganos perante a justiça a apresentarem queixa por terem sido roubados. Uma delícia.
No andar de cima, uma chaminé apagada. Uma outra boémia, a boémia que faz sonhar. Dos artistas com talento. Dos artistas sem dinheiro. Dos artistas que se divertem debaixo de um telhado partido. A ópera de Puccini, a que assisti neste Verão em manga curta, no Largo do Intendente. Coitada da Mimi.
La bohème de Aznavour que um francês me cantou ao ouvido em  2002 e que foi a minha perdição. Uma romântica, nada há a fazer.
Boémia que me quero.
Mas o que queria, o que realmente queria, era a boémia de hoje. A boémia que é ainda desejável em 2013. A boémia que nos diverte quando estamos em crise. Financeira.
A boémia que me despe destes tiques burgueses, que nem sequer eram meus, ao fim ao cabo.
A boémia que vive acima dos mercados. A boémia que vive acima das possibilidades de quem nos quer sentados e calados.
Ah !