Passaram mais de vinte anos. Existem pessoas que nasceram nesse ano e já são homens e mulheres.
Entre ontem e hoje ganhei alguns cabelos brancos e umas quantas rugas. Essencialmente de riso, verdade seja dita. De manhã comecei a usar um creme branco, para grande alivio da minha mãe, que deve ter gasto o valor de uma volta ao mundo em boiões e que tem menos marcas do tempo que eu. Mas para quê me preocupar, se foi ontem e se o que eu queria mesmo era fazer a tal volta ao mundo ?
Não é a passagem do tempo que me tira o sono, mas não saber aproveitar o tempo que me resta. Esse grande lobo mau que muitas vezes aparece escrito em latim. Carpe Diem. Carpe Vita.
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Anda-se a tentar deitar fora a pilha do relógio. Retardar. Ganhar tempo. Isto com jeito ainda vai. Pinta-se os cabelos, para apagar os brancos, usa-se e abusa-se dos anti-rugas, do colagénio, do botox, das cirúrgias do desporto. Fala-se de obsessão pela juventude. Esforços unidos, jamais serão vencidos.
Para arranjar um emprego é melhor parecer-se jovem. Para encontrar um parceiro tem que se aparentar frescura. Para entrar na discoteca. Para ser-se bonita. Tão bem que está a Madonna.
Tem a ver com o medo dos sinais do fim, a morte da pigmentação dos cabelos, a morte da elasticidade da pele. Quem quer carregar a morte todos os dias? Pesa.
E depois nos homens fica bem, toda a gente sabe, é ir ao cinema e ver como um James Bond quarentão beija tão bem uma pós adolescente.
Terá a ver com aquela ideia muito antiga, mas que continua na berra em muita ruela e avenida principal, que o homem é o protector, com experiência e a mulher é a frágil indefesa, de preferência jovem e virgem que precisa de ajuda ? Não, afinal de contas, o tempo passa, estamos em 2013.
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Assim de repente, se vos perguntar o nome de uma mulher bonita, qual é a média de idades que vai aparecer na resposta ? E, no entanto, inspiração não nos vai faltar se soubermos procurar bem. Do outro lado dos anúncios da televisão, da auto-propaganda das celebridades que nos mentem com todos os dentes implantados que têm e das revistas femininas e das suas produções de moda e conselhos para conseguirmos ser aquilo que não somos.
Com o tempo que vai passar, que vou fazer por aproveitar, eu sei quem é que não se vai desunhar por não ficar diferente.
E ainda por cima, já existe este blogue inspirador de quem se diverte com a passagem do tempo. E estas mulheres para nos assegurarem que uma outra vida é possível e recomenda-se.
Maria João Pires, Aung San Suu Kyi e Meryl Steep (já cá voltarei com os créditos aos fotógrafos e outras fotos).
Quando era miúda achava que me ia stressar imenso com as rugas e principalmente com os cabelos brancos... Nunca pensei gostar tanto dos cabelos brancos e aceitá-los como quem recebe um bom amigo. As rugas não são muitas...
ResponderEliminarActualmente receio muito mais os traços de uma existência baça do que as rugas...
E eu gostei muito dessa tua ultima frase. :)
EliminarAdorei o post, mas esta última frase é mesmo vencedora. :)
EliminarQuem passa por este blogue e não lê os comentarios que por aqui se escreve, nem sabe o que perde.
Eliminar:)
EliminarAdorei.
ResponderEliminarAinda bem, ainda bem. :)
EliminarEu não gosto de rugas. Não tenho medo de que elas cheguem, nem nunca farei o que quer que seja para as eliminar (a não ser talvez uns cremes, quando conseguir treinar-me para os usar diariamente). Mas não gosto. A pele do meu rosto já não é o que era e o problema nem são bem as rugas. Tenho dias em que estou tão cansada e desgastada, pelo trabalho, pela correria, pela rotina, que quando chego a casa e subo os quatro andares do elevador, olho para o espelho e pergunto: quem é esta? que miséria... A juventude não tem a ver com a idade, é um estado de espírito. Se formos felizes, se estivermos bem dispostas, estaremos sempre bem, mesmo com rugas. Do que não gosto é de me ver cansada, pele baça, falta de sorriso no rosto, olheiras a chegar aos pés. Já tenho umas quantas brancas, contrariando as recomendações da mãe, da avó, da tia e da cabeleireira, arranco as que ficam mais visíveis. Quero lá saber se por cada uma que se arranca nascem mais sete, ou lá o que é. Não gosto. Mesmo. Um dia destes vou ter de pintar o cabelo. Não pelos outros. Por mim. Estou como tu: Não é a passagem do tempo que me tira o sono, mas não saber aproveitar o tempo que me resta. Carpe Diem. O Clube dos Poetas Mortos foi um marco na minha vida, numa altura em que eu, jovenzinha, andava atrapalhada com o meu corpo, angustiada e triste por não ser magra, em vez de andar a divertir-me por aí. Carpe Diem. Ainda ouço os sussuros, de vez em quando. Agora estou mais atrevida. A idade, para mim, foi uma conquista de muitas coisas.
ResponderEliminarO clube dos poetas mortos foi fundamental para muito adolescente naquela altura, eu fiquei a conhecer os poemas de Walt Whitman e nunca mais fui a mesma.
EliminarA beleza tem mesmo muito que se diga, todas concordamos que ser feliz é o que interessa e que a pessoas felizes são mais bonitas, mas depois andamos todas, umas mais do que outras a jogar com o aspecto exterior.
Qual é o problema com os cabelos brancos ???
A beleza é qualquer coisa sem idade, nós é que transformamos tudo. O que me assusta a mim é, e tal como dizes, que o tempo passe sem que eu passe por ele. O resto, e depois da real passagem, com ou sem rugas, passei... e é meu.
ResponderEliminarSorrisos, Carla
Passemos por ele, então. Que entre escrever e fazer, ainda passa muita água.
EliminarMais sorrisos deste lado e votos de uma passagem magnifica.
Tenho uma ruga no meio da testa a dividir-me os olhos desde que me lembro, faz parte de mim, gosto dela. Agora nos 33 começo a reparar nas rugas que me surgem nos olhos e uma amiga já me avisou de que deveria usar um creme para a coisa, mas o problema é que também gosto delas. Eu sou uma pessoa que aprecia ter expressão facial, que às vezes fala mais com a cara do que com os lábios. Gostava de manter isso dessa forma. Gosto que a minha cara fale. Só tenho medo é de não fazer tudo o que quero na vida, de ficar incapacitada sei lá ... das rugas não. E gosto do seu blogue, é uma delícia de ler. :-)
ResponderEliminarAs rugas como forma de comunicar, de contar historias... estaremos então a privarmo-nos, ao evita-las, de passar a mensagem correcta, de termos mais uma forma de falar, de nos completarmos.
EliminarDepois da linguagem gestual, do corpo, agora vem a linguagem da cara e das rugas. Fantastico.
Obrigada pelo elogio. :)
Rugas não me assustam tanto como os cabelos brancos (porque raio insistem em nascerem na franja??).
ResponderEliminar(E a Jodie Foster? Viste o discurso dela nos Golden Globes? A não perder, mesmo!)
Essa dos cabelos brancos, continua a fazer-me espécie, principalmente porque são tão bem aceites nos homens, logo é algo muito relativo, mesmo sexista... Vejam lá isso, pá.
EliminarVi, vi, ela é qualquer coisa! Se queres saber a minha opinião, acho que vai longe ;)
no outro dia sentou-se na paragem uma velhinha tão, mas tão velhinha, cheia de cabelos brancos e com a cara coberta de rugas e foi a imagem mais bonita que vi nos últimos tempos.
ResponderEliminarSabes que tenho um grande problema com as palavras ? Tenho um problema com o significado que (também) lhes deram e depois fiquei sem gostar delas. Velhinha, gorda, preto, etc. Pode-se argumentar que são palavras que são aquilo que são. Mas como vêem (também) com uma arga negativa ja não me servem tão bem. Velhinha, pode ser encarado de uma forma positiva, como tu o fizeste, mas também vem com a carga da pena. Gorda e preto vêm também com um cariz depreciativo. Devia-se inventar novas palavras, menos ambiguas, libertas de esta carga negativa. Se fosse eu a mandar, em vez de se perder tempo com consoantes mudas, ganhava-se tempo em fazer nascer novas palavras, com significados mais proximos da realidade.
Eliminareu lembro-me de ser pequena e não achar interessante a minha pele tão lisa....e desejar a pele já encorpada da minha mãe :) lembro-me de achar bonito ter umas veias ligeiramente salientes e uma pele com outra textura :)
ResponderEliminarPois é. Mas agora, quando tiro daquelas fotos com a minha filha mesmo ao pé de mim, uma pele nova e outra menos, às vezes, ainda fico abananada. O que eu queria era ter a sensação de estar a começar. Este passar do tempo também me faz medo, não vou fingir-me mais corajosa do que aquilo que sou.
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarOlá! Sou daquelas que nasceram em 1992 (ontem, portanto) por isso esta luta ainda não é a minha. Ainda.
ResponderEliminarPara já, preocupo-me com o acne que já devia ter desaparecido, tenho um cabelo branco solitário (o que é uma sorte, muitos dos meus colegas - mais de metade, talvez - já pintam o cabelo sem ser por diversão de mudar o visual...) e uma solitária mancha na mão esquerda a lembrar-me de que estou a avançar na minha linha da vida. O que prediz que um dia mais tarde vou herdar as mãos da minha bisavó, cobertas de manchas desde muito cedo. Ainda não decidi se a ideia me desagrada, lembro-me de ser pequena e de me sentar ao colo dela, pegar-lhe nas mãos e contar-lhe as manchas. Para mim é uma recordação bonita, por isso não sei.
Adorei também o blogue que sugeriste. Está cheio de mulheres bonitas. Ainda não tinha pensado na questão das rugas e dos cabelos brancos, inevitáveis à medida que for envelhecendo. Mas fico muitas vezes preocupada que a vida me passe ao lado e quando reparar, já esteja demasiado velha. Com ou sem rugas e cabelos brancos.
Beijinhos
Vai viver Anouska. Vai viver ! :)
EliminarAdorei o blog, espero chegar a uma idade avançada com parte daquele estilo! :)
ResponderEliminarAcho que a idade não me assusta muito, nem as suas marcas. Tenho cabelos brancos há já alguns anos. Estão escondidos por cima das orelhas e dantes arrancava os que via, agora até os vou deixando. Nunca pensei muito em rugas, odeio cremes. Tenho uns problemas de pele e já me chega ter que a hidratar e tratar as escamações que por vezes aparecem. Sinto-me jovem e acho que é isso que importa.
Quanto a mulheres bonitas, acho que é mais uma vez uma questão de se estar bem com a nossa aparência, independentemente da idade. :)
Pois é. Estarmos bem, não apenas com a nossa aparência, mas acima de tudo conosco e com a vida que levamos. Vai na volta, tanta conversa sobre a beleza e ela é apenas um sintoma. Preocupemo-nos com as causas, sejemos felizes, não deixemos que nos ditem regras e naturalmente encontraremos espelhos simpaticos pela frente.
EliminarNão tenho medo das rugas, dos cabelos brancos, das varizes, da estrias, são marcas, tatuagens, coisas que a vida nos vai gravando no corpo e quando as olhamos nos lembramos porque é que ali estão. Por isso quem não as tem,ou não viveu, ou então teve/tem uma vida tão desinteressante, tão "má" que nem quer ver rasto dela, e por isso apaga-a, com cremes, com tintas, com dietas, ...
ResponderEliminarAtenção que também uso creme, também cuido do meu cabelo, da minha imagem, gosto de olhar para o espelho e sentir-me bonita, arranjada, mas acima de tudo gosto de me ver, a mim Rita, e não a uma mulher parecida comigo ...
Beijos
Pronto, mais uma frase chave : "acima de tudo gosto de me ver, a mim Rita, e não a uma mulher parecida comigo."
EliminarBeijinhos
Eu não gosto da pele que perde elasticidade nem dos cabelos que perdem pigmentação. Fazem-me sentir uma árvore que perde folhas. Mas, como dizes e muito bem, não é o medo da morte, é o medo da vida não vivida. Eu também preciso muito fazer essa volta ao mundo!
ResponderEliminarEsses 20 anos que passaram e eu ainda a pensar que tenho 16 - isso, sim, assusta-me!
As tintas e os cremes estão caros, vamos é lá para fora correr e brincar!
Estou a sentir-me como se estivesse a perder uma aliada. Por favor, não queres dar a volta a este comentario ?
EliminarAinda não me sinto a envelhecer, os cabelos brancos fazem-se discretos (acho eu) e as rugas ainda são leves (acho eu), mas gosto de ver pessoas com mais idade e com tudo assumido e a fazerem pela vida para a viverem, certo, mas também para serem bonitas. Pensava (diz que tenho razão!!) que realmente gostavas de cabelos brancos, não era apenas uma aceitação.
Quanto à volta do mundo, temos que nos despachar !!