Estava a ver o "Le grand soir" quando recebi o sms. Há uma cena, perto do final no filme em que dois punks decidem fazer uma revolução no parque de estacionamento do Leroy Merlin, falam com todos os que estão a sair do centro comercial, carregados de compras e cheios da rotina que se auto impuseram. Um consegue falar ao microfone de uma grande superfície a apelar à concentração contra a escravatura do capitalismo "estamos todos fartos, somos todos punks em jejum". Ontem à meia noite aqui, um conhecido meu enviava mensagens à frente das escadarias da AR a todos os contactos "pode muito bem ser esta noite. venham".
Num dos dois streammings que estavam a enviar imagens da net, tudo parece calmo. Tudo parece possível. Muitas pessoas, falava-se de cinco mil, à frente da escadaria, uma fogueira, os polícias e os gritos e apupos do costume demissão ! demissão! Na net umas dez pessoas enviavam mensagens de encorajamento e de desconsolo ao relatarem o que é que a televisão nacional não estava a passar, ou a notícia impertinente no jornal em que se dizia que seria mais difícil arranjar emprego para quem organizasse manifestações (?). O rapaz que filma pede para que se saia à rua. No facebook, das 800 pessoas que me alimentam o feed, duas estavam a acompanhar o streamming, das restantes lia-se preocupações sobre a floresta virgem, via-se fotos de amigos e vídeos que não visionei.
No final do filme estão os dois sozinhos no local combinado para a revolução a arranjar desculpas para o fracasso, nunca deveria ter sido no dia de semana, foi tudo demasiado rapido para eles. O pai dos punks chega com um E tirado do logótipo gigante da entrada do seu restaurante. "Não parem". A cena seguinte passa-se de manhã, falta um A no logótipo do Conforama, um D na loja de electrodomésticos Darty. E depois um grande plano com as letras WE ARE NOT DEAD.
Este filme organizou a maior festa no festival de Cannes deste ano, por todo o lado via-se fotos do bonzão do Jean Dujardin a fazer crowsurfing. Hoje, no Expresso fala-se de 11 feridos.
Eu não sei que vos diga. Até porque daqui de longe, parece-me que queremos todos que isto mude.
we are not dead ...indeed
ResponderEliminarA continuar assim, soon we will be dead, starved to death!
ResponderEliminarSe calhar, já era de estarmos mais vivos por esta altura. Vai na volta, e já nos deviamos mexer mais.
ResponderEliminarVai na volta devíamos. Eu fazia o mesmo que este moços: http://www.imdb.com/title/tt0408777/, porque se calhar as revoluções fazem-se assim, com acções concretas, mas não tenho certezas absolutas. E tenho medo de multidões.
ResponderEliminarTambém não gosto sempre de multidões, podes sempre encontrar ao teu lado alguém a gritar exactamente o oposto daquilo em que acreditas. Mas às vezes são necessarias. E às vezes são boas.
EliminarAprovo acções concretas, lobbies, ou ir simplesmente ao cerne da questão. Essa coisa de andar à batatada com a policia, não é para mim. Mas identificar quem nos anda a lixar e falar directamente com ele. Ah !
PS: Não contes comigo para apoiar um rapto, nem um homícidio. A cena de destruirem a casa já é do mais do meu agrado. Mas o que eu gostava mesmo, mesmo era de um bom e honesto tribunal.
Shiu, não uses esses termos assim em público, que ainda acabamos presas sem ter feito nada ;)
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