17.8.12

Não-postal naquela da amizade



Ma terrible Hèléná,

Contra todas as expectativas, neste final de férias não me tenho ocupado muito com as questões da saudade. Bem sei que para uma mera emigrante mortal isto é bastante improvável, mas convenhamos que o impossível também já teve melhores dias. Também é verdade que o arroz de serrabulho tem um encanto reduzido em dias de 30° à sombra.
Tenho-me antes dado de corpo inteiro à fantástica e promissora actividade do "blind date", e só tenho a tecer elogios a este meu recente estilo de vida.
Entre dois encontros às cegas e outros dois com uma ligeira miopia, rendo-me à evidência que por trás de um bom blogue encontra-se invariavelmente uma melhor mulher. 
Neste nosso não-postal, onde não conto o que se passou, que bem sabes que não sou do género "kiss and tell", aproveito para desvendar a solução para este falso problema que os adultos arranjaram para não conseguir fazer novas amizades. Os blogs. O tempo que se ganha passando por cima de conversas de ocasião e de desafinidades fatais. E a facilidade na manuntenção, nada de perde, tudo se transforma. 
E se é verdade que nada substitui subir e descer colinas lisboetas ao meio dia de um dia com 40° graus entre conversas que nenhum padre alguma vez ouviu num confessionário, obrigada Helena. E que nada vale o mesmo do que dançar "Serafim Saudade" com preceito, num bar pro-lésbico, obrigada Calita e Gralha, nem nada pode explicar apanhar-se um duche colectivo em Cacilhas, obrigada pela dor de garganta Isabela, também é verdade, que nada disto teria acontecido se não vos tivesse lido antes.  
Nada substitui um abraço, mas o abraço pode sempre vir a acontecer. E existem tantas formas de abraço.
Estou irremediavelmente rendida aos blogs e a quem os escreve. Amanhã vou andar na rua vestida apenas com uma grande, vá, média bandeira branca da rendição. Faço disto um símbolo, aproveito e chamo as atenções sobre mim, e se o vento estiver muito forte ainda posso dar numa de exibicionista. Só vantagens.
Mais não digo. E podes reclamar que ando a ver telejornais a mais, e que estou com a paranóia dos ares condicionados, mas não me saí da cabeça que esta nossa correspondência possa andar a ser lida por terceiros.
Infelizmente não fui bem sucedida a explicar ao senhor carteiro a ausência de assunto deste não-postal e os portes de envio terão na mesma que ser pagos no destino, como combinado. Uma chatice.

Epá, desculpa lá,
Carla R.

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