10.5.12

As asas do desejo



Raramente viajo sozinha, mas quando o faço, lembro-me sempre da minha primeira vez. Tenho consciência que dizer "a minha primeira vez" tem sempre um cariz sexual, e que esta é provavelmente uma maneira estranha de começar um texto. Não cederei a caprichos de mentes perversas !
A minha primeira vez foi um Lisboa-Paris. Está-me a vir à cabeça uma série de piadinhas sobre o fim da virgindade, mas estou a resistir.
A minha primeira vez, foi para ir ter com aquele rapaz engraçado que tinha conhecido em Praga. E desde aí, sempre que viajo sozinha sou atacada sem misericórdia por um pressentimento que vou conquistar o mundo.Ou pelo menos um francês.
Não faço ideia de onde me chegou, nem como me posso desembaraçar deste pressentimento. Leva-me sempre a situações embaraçosas, algumas das quais a blogosfera já foi testemunha. O que só tenho a lamentar.
Mas nem é disto que eu queria falar. Queria falar doutro sentimento que senti quando viajei sozinha pela primeira vez. Um sentimento libertador que me fez acreditar que tudo seria possível. Conquistar o mundo, certo, mas outras coisas também, como decidir o que é que queria fazer à minha vida. E se isto não nos dá uma sensação de poder, nada mais dará. Da minha primeira vez decidi que podia mudar de país, mudar de emprego, mudar de pessoa, mudar de presente, mudar de futuro. O que, aliás, foi o que achei por bem fazer. O mundo ficou para segundo plano.
Desta última vez decidi que quero ser nómada, parece-me sinceramente o mais adequado para a minha pessoa, para a minha família, para a condição humana no seu todo.Tenho consciência que antes de dar a volta ao mundo, vou ter que dar a volta ao francês, mas não será tempo perdido, sempre me treino nas voltas e quando a volta final chegar, estarei preparada.
Não deixo de pensar que aos 5 anos o meu sonho era ser hospedeira de ar, ninguém deu importância e acabei por enveredar por uma carreira próspera e segura, que entretanto, pareço ter abandonado para todo o sempre. Tivesse eu sido mais persistente e seguido o meu sonho dos 5 anos e teria hoje a melhor das vidas nómadas. Não vou deixar que tal aconteça com os meus filhos. A minha mais velha diz que quando crescer quer ser mãe e professora e o mais novo quer ser um cão. E eu acho que vou respeitar, os miúdos sabem o que é melhor para eles.


11 comentários:

  1. E qual era a miúda que nesse tempo não sonhava ser hospedeira, hum? bj libertado.

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  2. Estou completamente de acordo no que aos filhos diz respeito. Eu que tanto pensava em grandes carreiras e cargos importantes e de responsabilidade, acabei por me meter nas matemáticas e nas engenharias,e quando tantas vezes olho para trás penso se não teria sido mais feliz e não me teria sentido menos pressionada pelos estudos se não tivesse seguido uma carreira que tivesse a ver com as relações humanas e sociais, pois é isso que eu gosto... lidar com as pessoas, viver, falar, ouvir, sentir o que me dizem e o que me transmitem... Por isso quando a minha filha me diz que quer ser professora de equitação, e o meu filho diz que anda indeciso entre uma carreira de futebolista, treinador, guitarrista ou baterista, dou-lhes força e juro para mim mesma que os hei-de apoiar sempre nos seus sonhos...

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  3. Olha, já que vais virar cigana emprestas-me a tua casa de Paris por uns tempos? É que o meu sonho sempre foi viver em Paris por uns tempos...

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  4. E para onde é que foram esses sonhos perdidos, Paula Sofia Luz ?? Para onde ? pergunto-te eu.

    G_tipotei, o problema é que muito raramente em algum momento vamos saber o que é que queremos fazer na vida profissional. Lembro-me que, sempre que tive que escolher fi-lo ao calhas, porque nunca tinha realmente experimentado o que me parecia melhor. O que é magnífico é que podemos sempre mudar de ideias - valha-nos coragem, determinação e força de vontade para afastar esta preguiça que teima em colar-se ao corpo (e à mente). Que o meu filho seja um cão, se assim o entender, mas se um dia lhe apetecer ser, por exemplo, uma baleia, espero que não perca muito tempo a lamentar-se e se despache a aprender a nadar.

    Calita, já percebi que vires a Paris, só te interessa quando eu cá não estiver. Vais ter muitos amigos assim, vais.

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  5. Acho que entendi a mensagem!!;)Será que a cola é forte? A do corpo que a da mente há muito que foi...:)Bjinhos

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  6. Sorte a tua, sorte a tua. Por estes lados não posso dizer o mesmo, muito infelizmente.

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  7. A minha tia é hospedeira (e nómada, e o mundo é dela) e o meu primo é bastante infeliz. Antes ser cão, mil vezes. Não podemos ir cá em conversas que as mães podem mesmo ser o que lhes apetecer, há sempre contrapartidas.

    (conversa invejosa de quem não voa há 8 meses e já está a ficar com muito bicho carpinteiro)

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  8. Contrapartidas pesadíssimas. Mas, se realmente quisermos fazer algo e conseguirmos ter o bom senso necessário para saber que teremos que conciliar e abdicar de alguma coisa, mais cedo ou mais tarde, não é necessariamente obrigatório desistir.
    (Digo eu que ando aqui às voltas há, pelo menos 6 anos)(mentira já ando às voltas há muito mais tempo, mas simplifiquemos por ora, vá).

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  9. Já compraste uma trela para o teu filho? Nessa idade, foi a prenda de anos que demos ao nosso. A irmã prendia a trela às calças dele, e andavam ambos felizes da vida.

    Agora resolveu que quer ser engenheiro civil, para fazer pontes e túneis.
    Vamos ter de arranjar um cão a sério para o substituir.

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  10. Gostei imenso da tua descrição desses momentos por cima das nuvens, quando nos inebriamos de vida e acreditamos que tudo é possível.
    É isso tudo, assim mesmo.

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  11. Realmente, se digo que respeito as decisões dos meus filhos, tenho também que os apoiar, mas desconfio, pela maneira como rebola na relva, que a vertente que ele escolheu é a rafeira.
    Já um anti pulgas ...

    É mesmo, não é ? Depois, uma vez aqui em baixo, é uma questão de se saltar alto de vez em quando, para renovarmos votos e esperanças.

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