10.4.12

A maré


Toda a gente anda a fazê-lo, mas não deixa de ser estranha esta moda de se mergulhar dentro de famílias alheias.
Este fim de semana fomos à caça aos ovos no jardim da família da parte francesa, para os lados das praias da Normandia. Pequenos almoços em pijama, segredos de família partilhados, fotografias de antepassados, histórias do trisavô na guerra de 18, histórias do bisavô na guerra de 45, histórias do desembarque e também de divórcios antigos.
Gente que morreu demasiado cedo.
Outras gentes que juraram pela eternidade, que conviveram em trajes íntimos, que partilharam copos de Calvados e estas mesmas histórias. Gentes para quem agora as portas se fecharam por contrato, levando a intimidade passada e os segredos para outro lado. Esta é a ordem das coisas, é natural.
Não deixa de ser estranho.

E o mar desaparece quase por completo. Desta vez fomos ao fundo sem nos molhar. 4 horas mais tarde chegará às dunas. Quem for apanhado desprevenido, apenas com muita sorte poderá mais tarde contar a sua história. Tudo muda e quase sempre rapidamente. Andamos por aqui enganados a pensar que há tempo para tudo. Não há.

Só vivemos uma vez. Mas se fizemo-lo bem, uma vez é suficiente. 
Mae West

7 comentários:

  1. É verdade, o tempo voa mais rápido do que se pensa e nem sempre é fácil agarrá-lo quando o queremos usar para outros fins. Mas esse pequenos momentos de partilha familiar, ou outros semelhantes entre amigos que se reúnem esporadicamente, são muito valiosos e às vezes têm o poder de fazer o tempo parar.

    Como passaste dos mosquitos e calor, para esse ambiente bem fresquinho?

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  2. :)

    Anda meia casa doente e outra a fingir que não lhe doi a garganta, é assim que se passa de uma praia a outra. Nunca fui à Normandia que não chovesse, nunca.

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  3. ohhh pá!!! quando eu tinha 8 anos fomos passar duas semanas de verão à Normandia, recordo-me destas marés fantásticas onde apanhei baldes e baldes de vieiras e búzios!

    E sim, o tempo esteve sempre para lá de ranhoso...
    :D

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  4. e também fomos aos cemitérios e à praia do dia D e aos museus. para nós crianças foi o máximo, achámos que a guerra era uma cena de espiões!
    ai senhores...

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  5. Ah! A Ohama Beach, isso é um bocadinho mais ao norte, aqui estavamos mais para os lados do Monte Saint Michel.
    Confesso que as guerras e a resistência agora têm uma outra imagem desde que comecei a falar com quem viveu no tempo delas, antes era mais a versão do Allô ! Allô ! (que, alias, os franceses não conhecem).
    Anseio que os meus filhos cresçam para os levar ao museu da resistência e do papel da Normandia, e aos locais de combate.

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  6. Curioso, os alemães também não conhecem o alô alô!
    A guerra para mim também passou dos livros de história para a realidade palpável quando ouvi episódios vividos e contados por avós que estavam mesmo lá. E num dia em que, no cinema, a ver o filme Comedian Harmonists, uma senhora de 80 anos chorava ao meu lado por se lembrar de tudo aquilo.

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  7. Parece que, de repente, aconteceu mesmo.

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