Se optarmos por uma atitude simplista, e neste caso é o que me convém, as férias dividem-se em dois grandes grupos : as que são para relaxar; as que são para se cansar. Estranhamente, a que são para se relaxar são as mais cansativas. Ou não tão estranhamente assim.
Lembro-me de uma vez ter sido levada pela conversa das férias das pulseiras tudo-incluído. A praia era à frente do hotel, havia duas piscinas, cinco bares espalhados pelo jardim, hotel, piscinas, podíamos comer e beber quando queríamos, havia excursões organizadas, actividades programadas. Lembro-me que no inicio da estadia houve mesmo uma reunião para explicar tudo o que ia acontecer.
As pulseiras eram violeta e ainda hoje tenho pesadelos com essa cor.
Agora, menos jovem, desaconselho vivamente esta ilusão de paz distante, que podemos ter quando estamos no escritório ou no trânsito, ou pior, com filhos recém nascidos particularmente exigentes. Apenas mais uma miragem enganadora, é preciso ser-se desconfiado na vida, até nas férias.
Hoje, mulher feita e madura*, não deixei de me deslocar ocasionalmente aos paraísos anunciados pelo sol e a natureza, mas levo sempre comigo os meus filhos. Para equilibrar. Sem uma dose apropriada de esforço e trabalho a humanidade perece e eu aborreço-me.
E depois existem as férias como esta, que de férias não têm nada, porque nunca trabalhamos tanto, nem vimos tão bem como somos ignorantes e como é longo e árduo o caminho a percorrer. Neste momento doem-me os pés, as costas, tenho insónias, não paro de ir à net para perceber alguma coisa que me escapou nos museus onde existem explicações em inglês, ou mesmo na rua, quando pensava estar apenas a passear. Não paro de me lamentar de não saber falar russo, já jurei que assim que chegar a casa começo a aprender russo. E canso-me de me queixar de haver tantos sítios onde só se fala russo e onde existem apenas informações em russo. Tenho a cabeça à roda, acabei o "meu" Tolstoi, quero ler todos os livros que escreveu, quero saber e ler tudo sobre Gorki e Puschkine. Neste momento estou em São Petersburgo, com as botas cheias de lama de Suzdal e a cabeça à roda por causa da historia de Vladimir, e se não encontrar rapidamente uma tradução do "Adolescente" de Dostoievski temo que alguma coisa de mal me possa acontecer.
*esta foi a parte cómica deste texto
Estava capaz de apostar que estão a ter umas férias fantásticas...
ResponderEliminar(adorei a parte cómica do texto) (todo o texto, aliás)
(e mudaste a data do avião? olha que no próximo fim-de-semana há Rússia em Lisboa)
(ontem comprei o meu primeiro bärlauch deste ano - ponho-me a mastigar aquelas folhas, é tiro e queda: penso em ti! E calhou de ir ao café Lisboa, e de me sentar à mesma mesa onde estivemos no ano passado. Acho que a isto se chama saudades.)
Só te posso dizer que até tenho inveja mesmo das partes menos boas.
ResponderEliminarNão se aguenta.
Que bom :)
ResponderEliminar(eu já estava capaz de alinhar até nas de pulseira!)
gralha
Obcecada que ando por férias o assunto é agora recorrente. Em comum com este post, o sonho de conhecer a rússia e o Gorki, que tem andado comigo na carteira!
ResponderEliminarEu também gostei muito da parte cómica do texto.
ResponderEliminarQuando voltares da viagem descansas (dentro do género).
Mudar não vou mudar, que se estavam a preparar para aproveitarem esta mudança de 3 bilhetes para renovarem a frota dos Airbuses, tendo em conta o que me pediram. Mas nada fica perdido, resta-me fazer um peditorio a milhas alheias e vai na volta, a coisa ainda se faz.
ResponderEliminarMas vamos ao que interessa, Helena, vais levar a erva ou não ?
Duchess - Cuidado com a erva da vizinha e as ilusões que verde mais verde não existe.
Gralha - Depois não te venhas queixar da seita das pulseirinhas, aqui estarei para te dizer "Eu avisei!"
Alexandra - Pois que é um sonho bom, em Moscovo não percas a casa Art Nouveau do Gorki. Sim senhora.
Calita - Muito comico, mesmo, ainda hoje voltei a rir.
Entendo muito bem o que dizes... Mas costumo dizer que há as viagens e as ferias. As ferias podem ser a das pulseirinhas... Desde que tenho o meu filhote tem havido mais ferias que viagens... As saudades que tenho das viagens, de andar a descobrir o mundo... Confesso que ate senti uma certa inveja desta tua viagem! Por aqui por Lisboa, continuarei a acompanhar-te como faço há já alguns anos, mas finalmente tenho o miúdo mais crescido e a brincar sozinho e tive estesinutos para deixar o meu primeiro comentário! Boa viagem!
ResponderEliminarConfesso que, mesmo eu, já estou a sentir inveja desta viagem (que, entretanto, já acabou). E eu que já estava pronta para outra.
ResponderEliminarSe o miúdo já brinca sozinho, vais ver que em breve vai recomeçar. Nada se perde tudo se transforma.