31.7.25

Pandora

Este é um hino a pessoas tóxicas. Ao tóxico que nos rodeia e transgride. A situações que tiram de nós o que não sabíamos existir. Que gostávamos nunca ter de lembrar. O que queríamos nunca ter de confessar. todas aquelas sujas imperfeições que nos fazem fantasiar com uma máquina do tempo, para modificar a nossa Covardia. 
Tentação mil vezes cedida. 
Cólera desenfreada. 
Como seria perfeita a imagem de mim se nunca ninguém me tivesse apontado o dedo.
Contrariado.
Traído. 
Sem gatilhos, nunca nos vamos realmente conhecer. Sem os outros não somos realmente ninguém. Somos uma mera ideia-suposição do que poderiamos ser. Na maior parte muito romantizada. 
Oh, doce ilusão.
 
Até há uns anos atrás, sempre que lia ou via um filme ou simplesmente me lembrava do Holocausto, pensava em como seria se tivesse vivido nessa altura. A minha auto estima é infinita e não tinha dúvidas que estaria na linha de frente da luta contra aquela aberração. Seria Schindler, seria uma mulher da resistência, seria alguém que esconderia uma família judia na minha casa e os salvaria daquele absurdo. Agora, sei que não é assim. 
A caixa de Pandora mostra-me todos os dias, em permanência, razões para me indignar, levantar, sair da minha banal existência e lutar pelos meus ideais. 
Mas em vez disso, partilho de vez em quando uma story, assino petições, vou a algumas manifestações (poucas), faço umas pinturas e, de seguida como bolas de Berlim na praia. Sou uma covarde. 
Uma avestruz. 
Tenho vergonha do que sou. 
Com a caixa de Pandora fechada viveria num doce auto-conceito de ser uma humana digna e relevante. 
Agora, não.
Assim, sei quem sou. 


Todas as sextas-feiras o grupo de escrita 'Largo' publica textos sobre o mesmo tema:


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