Até entendo a utilidade dos despertadores. Percebo que estamos nisto juntos e que haveriam muitos encontros que não se fariam se não houvesse horas nem alarmes. Por outro lado, perdemos sempre alguma coisa, mesmo quando ganhamos outras. Quantas vezes conseguimos o que queríamos porque fizemos tudo bem, estivemos na hora certa e assistimos àquele pôr do sol ou encontrámos aquela pessoa e achámos que a vida foi boa connosco porque obedecemos às regras? Aceito todo este raciocínio. Mas, porque não valorizamos mais o que nos aconteceu por acaso? O que não tínhamos planeado, aquelas experiências todas sem hora marcada, que só aconteceram porque estávamos no lugar errado?
"Errado"
Uma das grandes conquistas da minha vida é quase não usar deserpertador. Acordo porque alguém fez barulho sem querer ou porque já não me apetece estar na cama. Chego atrasada, claro. Perco coisas, evidemente. Mas esta falta de stress em excesso, este deixa andar parece-me muito mais próximo do que somos e do que viemos aqui fazer.
Continuamos a elogiar muito as grandes invenções humanas, e eu, que sou muito pela ciência e por muitos dos seus resultados, dou por mim a contar todas as invenções que só vieram ao mundo para andármos para trás. Bombas, pistolas, produtos tóxicos, microplásticos, viagens espaciais de turismo, despertadores.
Preferia mil vezes acreditar que a terra era plana e que cada trovoada são os deuses zangados do que viver num tempo em que se mata crianças aos milhares e se noticia o feito entre um anúncio de carros e um relato desportivo.
Queria ser índio, andar nua pintada de verde num eterno domingo, a Rita Lee tinha toda a razão - oh, deusa maior.
O colectivo continua a escrever todas as semanas, podem ler outros textos sobre despertadores se seguirem os links:
(em actualização)
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