Fui com uma amiga ao cinema ver o filme errado. Não sei se também têm dedo como eu para escolher amigas assim, mas eu gosto muito e recomendo . Não faço ideia como é que se faz para se ver um filme errado, e pelos vistos, a ela já lhe aconteceu várias vezes comprar bilhete, sentar-se, ver as luzes a apagar, assistir ao genérico e só depois, bem mais tarde, perceber que não está a ver o filme que queria. Quando nos sentámos na sala, ela mostrou-me o cartaz do filme que queria que víssemos, no écran do telemóvel. Eu tinha ido às cegas, porque sei que tem bom gosto quando não se engana. Supostamente o filme era para ser italiano e muito bonito, mas logo no inicio o filme pareceu uma coisa muito mais pesada do que me tinha sido prometido, com nomes vindos muito mais de leste. Fomos ver, por engano, um filme sobre o início da invasão russa à Ucrânia, no dia comemorativo do terceiro ano deste descalabro. Éramos 4 na sala, não sei se os outros dois também vieram ao engano ou se havia outros que estavam noutras salas a ver outros filmes, quando afinal queriam ver este.
Não aprendemos nada de novo no filme, no fundo já sabemos que a situação é horrível, que há derivas, que há situações ou traumas que levam humanos a cometer actos que nem em pesadelos são humanamente possíveis. Nem sequer é um filme que eu gostaria de ter visto, mas foi algo com importância que me aconteceu.
Essa minha amiga é companheira essencialmente de coisas boas, danças, risadas e alegrias. Não só, mas essencialmente é nessa parte da minha vida que a encontro mais vezes. Como se andássemos a dedicar a nossa amizade a fugir das coisas más que se passa lá fora, quando não estamos juntas. E, ver este filme precisamente com ela foi a metáfora perfeita do que andamos a esconder nas nossas vidas. Vivemos numa bolha frágil de felicidade. Pode rebentar a qualquer momento. Somos egoístas, e sabemo-lo. Mas não sabemos como podemos ser melhores. Gostamos de pensar que somos boas pessoas, tratamos dos nossos, respeitamos desconhecidos, ela até faz voluntariado e eu preocupo-me muito com o caminho que isto está a levar. Mas, na verdade, vivemos felizes e procuramos ambientes onde há alegria. Drogamo-nos também, claro, como qualquer ser lúcido que ainda quer ser feliz neste mundo ao contrário.
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