22.12.13

Paris - Aqui. Relato de uma viagem como as outras. Mas diferente.

Dormimos em Bordéus, num quarto da cidade universitária, onde mora um primo generoso e bon vivant, e que anda a fazer o que pode. Ficamos a saber que é possível estudar, festejar com muita cerveja e chumbar de ano. E conhecemos, também, as maravilhas de uma boa sonorização. Do outro lado da porta, havia quem lutasse pelo direito à festa. Mas, desta vez sem os Beastie Boys.
Amour et morts de rire. No mapa, eles colocaram um coração nesta parte da viagem.
Atravessamos os Pirinéus sem neve, revemos algumas lições de geografia, que as viagens nos têm ensinado. O canal da Mancha, as montanhas, os rios. Nem sempre são os homens que decidem.
Fomos ultrapassados por mil e um Audis, com a matricula do Luxemburgo. Nas estações de serviço ouvia-se falar português, às vezes misturado com o francês. Os homens bebiam café para aguentarem a noite a guiar, as mulheres iam com as mães e os filhos, muitas vezes bebés de colo, na parte de trás. Ainda é assim em alguns carros pretos, com estofos confortáveis.
Tínhamos pensado dormir uma noite em Espanha. Fazer uma road trip, como deve ser.
Mas uma viagem assim. De estadia cronometrada. Nas férias das Boas Festas. Com destino na casa das mães, dos pais e dos avós. Não é uma viagem como as outras.
O francês estava cansado, de uma semana a tentar salvar o chiffre d'affaires. Vive uma vida capitalista, num corpo anarquista : é muito duro. Eu estava com dificuldade em lembrar-me, que o limite de velocidade na Península Ibérica não é 130. Queria chegar. Deixem-me, que eu trato disto. Os miúdos deliravam atrás com o novo jogo de viagens, o saudoso Quem é Quem e com os cd's, que tão sabiamente tinha ido buscar à biblioteca. As fábulas de Jean de la Fontaine, O rei vai nu, O cavalo de Tróia. Ela a querer ouvir Emilie Simon, que tinha servido de banda sonora no seu espectáculo de dança de final de trimestre, ele sempre a pedir as canções não censuradas de Fauve. E nós, às voltas com Arcade Fire. Que, como vem sendo hábito, lançam um novo disco, quando mais dele precisamos. Reflektor. Jackpot.
Espanha é pequenina, dizem. Começou de manhã e acabou à tarde. As tortillas não deixaram saudades. Adios, hasta la vista, feliz navidad.
Faltam 264 km para Portugal. 140. 32. 
Depois de Vilar Formoso, devia ser logo ali a casa de chegada.
Quando é que chegamos. Não estamos a reconhecer a paisagem. Quero a avó. 
Malditos aviões.
Lanchar ao pé da Serra da Estrela, que parecia mais pequena do que da última vez. E depois voar na estrada. Um instantinho.
Este post acaba com abraços. Evidentemente.
Boas festas.
Agora, a ver se me concentro e não me esqueço do essencial.

4 comentários:

  1. Boas festas, Carla e família!
    (estás mais do que preparada para todas as road trips :-) )

    ResponderEliminar
  2. Obrigada, minhas queridas.
    (E um segundo obrigada, Luísa, pela dica do Tiziano Terzani. A mim, nenhum adivinho me disse para fazer esta viagem de carro (a primeira em dez anos de emigração), mas que foi uma engraçada coincidência fazê-la enquanto leio este livro maravilhoso, foi.

    ResponderEliminar

Pessoas

Nomadas e sedentarios