6.11.13

O brilho de que estava precisada



Começamos por seguir as bicicletas, ali para os lados da universidade. Depois iniciou-se uma contagem de cabeças que ostentavam cores florescentes. Seguiram-se os bigodes sui generis. Perseguimos pelo menos sete sósias do Russell Brand, sotaque e atitude compreendidos - e alguns suspiros meus, a cada vez acreditava, I'm a believer. Vimo-nos no meio de duas conversas de dois namorados gays a dizerem a uma rapariga que era muito gira e interessante, e que tinha definitivamente que conhecer uma amiga solteira com quem iam ter a seguir. E elas, das duas vezes, a dizerem que sim. Vemos agora que em metade das fotos que tiramos, identificamos no fundo uma personagem hilariante, normalmente por causa de uns óculos de sol improváveis, ou um bigode irrepreensivel. Encontramos dezenas de bonecos minúsculos colados no chão. Cabeleireiros orgânicos, sapatos vegan, comida honesta, feiras bio, cafés "humanitarios" que doam os lucros a associações caritativas,  artesanato a ser feito na rua. Vintage q.b. Paredes seguidas de paredes com desenhos, grafittis, arte urbana sobre Napoleão em geral e o processo de gentrificação em particular : prometeram-nos cupcakes para breve. Assistimos a um espectáculo de rua que ainda hoje me coloca um sorriso no rosto.

Visitamos o mais extraordinary and extravagant pleasure  palácio real de que, assim de repente, temos memoria, os miúdos a ouvirem todo o audio guia com atenção, a emitirem waous sem contenção quando entraram na sala de jantar e na sala de musica, fazendo rir os restantes visitantes, vimos de onde vem o papel de parede do nosso quarto e gabamo-nos o (bom) gosto.

Uma terra onde não se tem necessariamente de crescer da maneira que nos tinham dito. Onde podemos fazer o que quisermos da nossa aparência e sermos responsaveis com o que nos rodeia.

Sinto que vos anuncio o Messias e peço desculpa pelo aparente exagero, mas é que ainda estou empolgada pelo que vi e vivenciei. Afinal, também é para isto que se viaja. Inspirar, respirar e melhorar-nos.
Prometemos solenemente, à frente de um poster gigante do Sid Vicious, aceitar que os nossos filhos façam um ano de intercâmbio em Brighton, num futuro proximo. Sem expectativas de resultados. Não seria razoavel, nem producente. Todos merecíamos viver assim, pelo menos um ano na vida. Até eu.
Posso estar a ser apenas mais uma turista/viajante deslumbrada. Posso. Quase o fui em Berlim. Quase o fui em Williamsbourg. Mas em Brighton, fui-o mesmo. Assumo tudo.
Acreditem que brilha de verdade.
Brighton é o que, a partir de hoje, desejo aos meus melhores amigos.
Brighton cura. Brighton salva.
As fotos são uma vergonha. O texto não é melhor. Mas a recomendação, essa, vale ouro. Façam o que têm a fazer e voem até Brighton.
E levem-me convosco, estou pronta até a passar a ferro, se for preciso.

E agora um pequeno detalhe PUB completamente gratuito : um pai Oporto Lober a começar mais um dia no bairro North Laine.

26 comentários:

  1. Deixaste-me com uma lágrima no canto do olho e tudo. Valeu a pena esperar mais do que cinco minutos!

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    1. Vinho. Sabes que eu sou uma gaja de vinho, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Uma viagem assim é coisa para me emocionar de qualquer maneira.

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    2. Fica combinado, depois de Berlim, vamos a Brighton. Ainda acabamos numa road trip, tu vais ver. Emoção, por emoção, que seja algo cardiaco.

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  2. P.S Adoro as fotos. Todas. Mas, deixas-me usar a última? :)

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    1. Sim, pedi autorização às costas do namorado e aos pés dos filhos e eles sabem que uma vez que estão na net, nunca mais de la sairão. Perdidos para sempre no desnorte cibernautico do demo.
      Deixai circular.

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  3. Posso ir também? Eu passo a ferro muito bem, e fico fascinada com cabeças florescentes, posso?

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    1. Vem, vem. Fazemos uma excusão. Pode ser amanhã. Caraças, pode ser agora. Vamos !

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  4. Ai como estou precisada de Brighton! Eu passo a ferro e lavo a louça.

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    1. Ahahahahahaha !
      Passamos aqui por casa antes de arrancar para o UK, assim como assim, tenho aqui trabalho doméstico em atraso suficiente para varias mãos.

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  5. Eu ainda agora aqui cheguei e também me safo como fada do lar .... ate sou costureira :p Também posso ? (Inglaterra é fora de série, dizem ser um povo presunçoso, mas a mim não me parece, cagões somos nós os tugas !?)

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    1. Vamos fretar um charter.
      (Pois, é como tudo, devem haver ingleses e ingleses, como existem portugueses e portugueses, franceses e franceses, italianos e italianos, chineses e chineses, mexicanos e mexicanos, etc)

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  6. Ahhh, maravilhei. E eu que não dava um tostão por Brighton. Gostava de saber por que é que há tanta gente a ser paga para viajar e falar disso e tu ainda não. Podia ser um part-time sazonal. Aposto que o resto da família não se importa de ir de arrasto.

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    1. Podia ser um full time para a vida toda !
      Encarrego-te, se não te importas, de imprimires este comentario, assim tipo, tamanho outdoor gigante, daqueles que se vêm na Praca de Espanha em época eleitoral e o pregues por onde andares. Se precisares de fotos apita. Estou aqui em back-office por ti.

      Estava à espera do teu comentario para escrever o proximo post, 175 quilometros a noroeste. Afinal foste tu que encomendaste estes relatos.

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  7. pois, parece que já cheguei tarde....e ainda por cima hoje não está a ser um bom dia.
    Estou a precisar de muito mais que Brighton para ver brilho. Mas tanto o texto como as fotografias não precisam de edição rigorosamente nenhuma, a mensagem chegou e bem ! beijos

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    1. Não, chegas à hora certa. Espero que o dia te corra melhor nesta segunda parte.
      Se estivesses em Brighton verias brilho, se não vês agora é porque não soube transmitir. Talvez, deva colocar aqui uma parte do espectaculo de rua, mas filmei so dois minutinhos...

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    2. hum...não me parece...talvez com uma caipirinha ou um tango sensual a coisa se desse ;-)

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    3. Um tango sensual ???
      Se fosse Verão e estivesses aqui, até se podia arranjar qualquer coisa :
      http://www.linternaute.com/paris/magazine/diaporama/06/danse-quai-saint-bernard/2.shtml

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  8. É em Brighton que há uma chocolataria fantastica, a "Choccywoccydoodah". Desde que vi a série que deu em tempo no TLC sobre ela que fiquei cheia de vontade de lá ir!

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  9. Agora é que me dizes isto ? Estive a ver no mapa e andamos mesmo ali ao pé, se é que não passamos mesmo à frente. Mas vendo agora os preços, se calhar foi melhor assim. Sim, é melhor que me convença disso agora.

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    1. Era uma série sobre a chocolataria, apenas XD Com os bolos temáticos que faziam, dias especiais para a loja (dia das bruxas, dia dos namorados...) e assim. Teve poucos episódios, infelizmente! Mas é tudo muito caro, é verdade. Pensa assim para não ficares com muita pena, até teres oportunidade de voltar a Brighton novamente ;)

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  10. Ehehe... Conheço bem Brighton tb. Aí vive uma das minha melhores amigas. E reconheço a onda artística que te inspira. Particularmente eu acho que tem 2 grandes defeitos. Vive para o turismo: os bares, as bebedeiras nocturnas de caixão à cova, o ambiente para estudante bêbado de engate fácil. E a praia, sem areia fina,mas seixos grossos que cortam os pés e um vento gelado! Para onda cultural boémia, de grafittis e artistas malucos a sério,experimenta Bristol da próxima vez… e para praias a Cornualha ou então melhor ainda, south wales... Pembrokeshire, rhossilli bay...etc...um sonho!

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    1. Ah, Bristol. Queriamos ter ido a Bristol, ainda por cima o meu namorado fez o Erasmus em Bristol, mas não deu desta vez. Para grande pena nossa, vamos ter que organizar nova incursão às terras dos bifes, e talvez te melgue nessa altura para não perder bons planos. Existem varios bairros, vimos o que relatas mas havia outros ambientes (agora não me perguntes o nome...).

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  11. Melga lá à vontade. Acho que o perfil aparece com email. Usa. Fica bem até lá. Gosto do teu cantinho de escrita. :)

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    1. Melgarei, melgarei, quero muito voltar ao UK.
      Obrigada por gostares. :)

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