21.11.13

Acabar pelo principio


Com o tempo a passar-me pela pele, pelos ossos, pelos cabelos, pelo sangue, sinto-me a aproximar cada vez mais do animal. Do inicio. Do Sapiens. 
Reduzo a pouco e pouco os benefícios da ordem e do progresso. Sem televisão, nem smartphone, sem cabeleireiros, sem maquinas para cozinhar / lavar loiça, sem aparelho nos dentes, sem maquilhagem, sem o ultimo grito de não sei o quê. Quase sem depilação. Na evolução da imagem da mulher eu apareço no inicio.
Ainda que sucumbindo, por enquanto sem culpas, às maravilhas da internet ou da agua morna, olho à minha volta com estranheza.
A loucura à volta das dietas, o elogio da fragilidade física feminina, os sapatos que não foram feitos para andar, o carro maior, o telefone com mais aplicações.
Consumismo, narcisismo, acumulação, poluição, capitalismo. Podia ter sido diferente. Ainda não é tarde. Não precisamos disto tudo.

Em Stonehenge estava frio, um vento de cortar, as caras vermelhas, não falavamos. No áudio guia ouvia-se, durante trinta minutos, tudo sobre o que não se sabe. Talvez o mais interessante discurso de todos. O do desconhecido. Do principio. O fundador.
Acabamos esta viagem no inicio.
A pensar em tudo o que poderia ter justificado tamanho esforço.
O caminho que se fez depois.
As perguntas sobre o que deveremos fazer a seguir.

9 comentários:

  1. Se calhar está tudo como o universo, primeiro em expansão, depois em retracção. Por outro lado, será que não foi sempre assim? Será que não houve também Sras. Homo Sapiens Sapiens a comentar que mais valia voltar aos hábitos dos primos Neandertais, sem esses luxos das pontas de flecha e das agulhas de osso para fazer os vestidos da moda? Não sei, não sei.

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    1. A ideia é bastante sugestiva... este comentário fez-me mesmo sorrir.

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  2. Tenho quase a certeza que sim. Se bem que, daquilo que aprendi em Foz Côa, as mudanças e progressos, nessa época, eram essencialmente uma questão de sobrevivência. Não quero de maneira nenhuma, passar a mensagem que temos que voltar os primordios (talvez tenha exagerado ali no texto, foi da emoção), mas gostava de fazer uma separação mais consciente entre o que realmente interessa manter e o que foi um passo mal dado. Entre o que realmente preciso, ou que pense que realmente me faz ter uma vida melhor e o que degrada o planeta, ou o que me incutiram como util e me torna dependente de uma série de compromissos que me impedem de viver.

    PS : Obrigada por me teres incentivado a relatar esta viagem, acabei por a prolongar graças a ti.

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    1. Concordo, concordo. Aliás, se não é essa consciência que ganhamos com a idade, andamos a falhar o alvo. Muito obrigada eu pelo relato, sinto-me imensamente retemperada - e impelida a chatear o Luís até ele me deixar marcar os nossos bilhetes de avião para o meio da selva.

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    2. Adoro a palavra chatear. Tão util e melodiosa.
      Chateia, chateia.

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  3. Adorei texto e fotos (por esta ordem). Este sitio deve ter exactamente essa força energética propensa a tais reflexões, penso eu.

    (eu só tinha pensado em passar 3 ou 4 dias em Londres,nada mais. Tenho a dizer que acabaste de me baralhar os planos todos e de me pôr a colocar tudo em causa)

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  4. Pois, também não sei o que seria escusado. Talvez fosse preciso todo este caminho para sabermos o que aceitar e recusar. O problema é haver mais de meio mundo a começar esse percurso, a "usufruir" de coisas que eles ainda não sabem que não precisam. E outro meio mundo que provavelmente nunca vai saber.

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    1. Três meios mundo a organizar : um passa o excedente ao outro que ainda não experimentou, evitando assim, mais produção e desperdicio
      Ao que nunca vai saber, resta esperar que encontrem directamente um caminho alternativo.

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