16.10.12

A grande noite

Estava a ver o "Le grand soir" quando recebi o sms. Há uma cena, perto do final no filme em que dois punks decidem fazer uma revolução no parque de estacionamento do Leroy Merlin, falam com todos os que estão a sair do centro comercial, carregados de compras e cheios da rotina que se auto impuseram. Um consegue falar ao microfone de uma grande superfície a apelar à concentração contra a escravatura do capitalismo "estamos todos fartos, somos todos punks em jejum". Ontem à meia noite aqui, um conhecido meu enviava mensagens à frente das escadarias da AR a todos os contactos "pode muito bem ser esta noite. venham".
Num dos dois streammings que estavam a enviar imagens da net, tudo parece calmo. Tudo parece possível. Muitas pessoas, falava-se de cinco mil, à frente da escadaria, uma fogueira, os polícias e os gritos e apupos do costume demissão ! demissão! Na net umas dez pessoas enviavam mensagens de encorajamento e de desconsolo ao relatarem o que é que a televisão nacional não estava a passar, ou a notícia impertinente no jornal em que se dizia que seria mais difícil arranjar emprego para quem organizasse manifestações (?). O rapaz que filma pede para que se saia à rua. No facebook, das 800 pessoas que me alimentam o feed, duas estavam a acompanhar o streamming, das restantes lia-se preocupações sobre a floresta virgem, via-se fotos de amigos e  vídeos que não visionei.
No final do filme estão os dois sozinhos no local combinado para a revolução a arranjar desculpas para o fracasso, nunca deveria ter sido no dia de semana, foi tudo demasiado rapido para eles. O pai dos punks chega com um E tirado do logótipo gigante da entrada do seu restaurante. "Não parem". A cena seguinte passa-se de manhã, falta um A no logótipo do Conforama, um D na loja de electrodomésticos Darty. E depois um grande plano com as letras WE ARE NOT DEAD.
Este filme organizou a maior festa no festival de Cannes deste ano, por todo o lado via-se fotos do bonzão do Jean Dujardin a fazer crowsurfing. Hoje, no Expresso fala-se de 11 feridos.
Eu não sei que vos diga. Até porque daqui de longe, parece-me que queremos todos que isto mude.

6 comentários:

  1. A continuar assim, soon we will be dead, starved to death!

    ResponderEliminar
  2. Se calhar, já era de estarmos mais vivos por esta altura. Vai na volta, e já nos deviamos mexer mais.

    ResponderEliminar
  3. Vai na volta devíamos. Eu fazia o mesmo que este moços: http://www.imdb.com/title/tt0408777/, porque se calhar as revoluções fazem-se assim, com acções concretas, mas não tenho certezas absolutas. E tenho medo de multidões.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também não gosto sempre de multidões, podes sempre encontrar ao teu lado alguém a gritar exactamente o oposto daquilo em que acreditas. Mas às vezes são necessarias. E às vezes são boas.
      Aprovo acções concretas, lobbies, ou ir simplesmente ao cerne da questão. Essa coisa de andar à batatada com a policia, não é para mim. Mas identificar quem nos anda a lixar e falar directamente com ele. Ah !
      PS: Não contes comigo para apoiar um rapto, nem um homícidio. A cena de destruirem a casa já é do mais do meu agrado. Mas o que eu gostava mesmo, mesmo era de um bom e honesto tribunal.

      Eliminar
    2. Shiu, não uses esses termos assim em público, que ainda acabamos presas sem ter feito nada ;)

      Eliminar

Pessoas

Nomadas e sedentarios