25.2.11

Como é que um trapezista continua a avançar em cima do fio ?

Como é que se aproveita uma jantarada, quando alguém que nos tenta impingir uma flor, nos mostra como a vida pode ser madrasta, enquanto vai sendo enxotado por parezinhos românticos ? Como é que se escreve um neo-mommyblogue com piadas e pseudo-capotamentos quando, mesmo ao lado, manifestações são reprimidas violenta e mortalmente ? Como é que se publica fotos no facebook com férias de sono, quando alguns amigos não têm dinheiro nem para ir para o Algarve ? Como é que se entra em casa depois de se passar por um sem-abrigo ? Como educar crianças a ser solidárias quando nos contentamos com palavras e perguntas de indignação ? Como pretender um mundo melhor se não o estamos a construír ? Como é que alienação pode rimar com equilíbrio ?
Estarei a atravessar a mais importante fase dos "comos" da minha vida ?

16 comentários:

  1. Não queiras carregar todas as culpas do mundo, não tens força para isso.
    Sugiro que agarres uma ponta, e vás por aí. Uma ponta que consigas agarrar com alegria e confiança. Há tempos andei a falar sobre isso:

    http://conversa2.blogspot.com/search/label/agarrar%20uma%20ponta

    A expressão "agarrar por uma ponta" não é minha. Cito, de um desses posts que escrevi:

    Muitos dos que visitam a irmã Monika e aquela obra lamentam-se que este mundo é um sítio horrível, e não há ponta por onde lhe pegar.
    "Pegue por uma ponta qualquer", responde ela. "Se cada um de nós agarrar uma ponta, o mundo fica melhor."

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  2. Acredito que seja mesmo por ai, pela acção e pelo esforço de concentração.
    O movimento colibri "levar uma gota de agua para ajudar a apagar o fogo" vai nesse sentido e mostra que não é preciso participar numa acção humanitaria do outro lado do mundo para se ser util. Aqui mesmo ao lado ja ha que fazer.

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  3. vivendo e agindo sempre em consciência de si e dos outros. é o que faço ou pelo menos tento fazer.

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  4. Eu tento fazer, mas ha dias em que parece que não chega. Dias em que me invade um sentimento de culpa e/ou de urgência por não partilhar suficientemente (tempo, atenção, conhecimentos, dinheiro...).

    Aqui ha tempos surgiu em França o conceito de sociedade do "care", que metia em valor, por um lado, as necessidades relacionais, culturais e espirituais (em oposição ao dominio da necessidade sobrevalorizada material) e, por outro lado, a responsabilidade em relação ao outro e a importância da partilha numa sociedade equilibrada.
    Não conheço o teu quotidiano, nem as tuas acções de solidariedade, mas as minhas são neste momento longe de me satisfazerem. Acredito que posso fazer muito mais. Pelos outros e por mim. Muito mais.

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  5. olha :-) começa pelo teu vizinho simpático do andar de baixo. Se ele está mesmo com o pé partido vai-lhe fazer as compras e leva-lhe o jantar feito.

    Pronto, é só uma sugestão. Nem meto isso na conta das coisas a creditar no céu.
    Mas um olhar atento e disponível no quotidiano já é algo simples de manter e que vai mudando alguma coisa.
    E por falar em vizinhos: eu tinha um muito esquisito, um gajo muito metido consigo, que partiu a perna. Ofereci-me para o levar ao hospital todos os dias e ele aceitou. Quando deixou de precisar, nem sequer me agradeceu. Foi muito estranho. Não estava à espera de nada (não fiz isso pela gratidão, foi mesmo porque tenho destes ímpetos) mas foi esquisito ele sair do carro com um "já chegámos" e ir-se embora. Assim.

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  6. Os vizinhos, os amigos, os familiares, mas também os desconhecidos, os tais que cruzamos na rua e fingimos nem ver ...
    Vou estar atenta ao meu olhar pelos outros, é certo. Mas também ando com ideias de fazer voluntariado, ando à procura de acções que possam ser conciliadas com o meu tempo "livre" e também com a minha ainda muito pequena capacidade de me distanciar dos problemas dos outros e de depois não os trazer para casa.

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  7. Numa sociedade que se tornou tão individualista, depois é difícil sairmos dos nossos casulos, ou deixar entrar alguém neles, sem a sensação de invasão.
    Fazer voluntariado é uma opção, mas perguntar ao vizinho do pé partido se precisa de alguma coisa, ou levar uma refeição a um sen-abrigo podem encaixar-se mais facilmente no nosso tempo e vão de encontro a uma necessidade a que se calhar mais ninguém vai estar atento...
    Uma coisa que conscientemente deixei de fazer foi pensar que alguém já deve ter feito alguma coisa. Quando vejo um animal ferido à beira da estrada, um idoso sentado num túnel onde só passam carros, um homem deitado de bruços num passeio (para mencionar as últimas 3 vezes em que tentei ajudar). E tentar evitar o desperdício. E em vez disso partilhar.
    Também tenho as minhas crises de consciência, que tento transformar em acções...

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  8. c.,
    Eu - confesso - não sei se ajudaria o homem de bruços. Fujo desse tipo de situações. Obrigada por seres tão diferente de mim!

    Vou aceitando essa minha fraqueza. Faço o que posso: o que me sai do coração com alegria. Outros, mais fortes que eu, farão aquilo que eu não consigo.
    Talvez seja desculpa de mau pagador, mas acho que ir ter com alguém em sofrimento com cara de "ai em que é que me estou a meter, não me apetece nada, que nojo!" é capaz de ser pior que ficar quieta.

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  9. C - O voluntariado seria mais (confesso, é horrivel) para ter uma obrigação, para ter aquela hora fixa. Senão com o tempo, vou vivendo o meu dia-a-diazinho e acabo por fazer nada ou quase nada. A tal ajuda aos sem-abrigos é uma ideia que me interessa e estar dentro de uma associação poderia ajudar-me a ajudar alguém que sozinha não me atreveria.

    Helena - Concordo que para ajudar é preciso querer e saber também, às vezes um "ai que nojo" ou um "oh, que coitadinho" pode estragar tudo. O importante é fazer qualquer coisa (e bem).

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  10. Sabes que é muito por isso que tenho escrito menos no blogue? Falta-me vontade de aparvalhar.

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  11. Pronto. Agora ficaram a pensar que eu sou uma espécie de Madre Teresa de Lisboa. Nada disso. No caso do homem deitado no passeio, só parei o carro, saí e liguei para o 112. Era uma zona com muitos carros, mas poucos peões, e ainda ninguém tinha relatado a situação.
    Queria com isto dizer que tento contrariar o tão urbano "alguém já deve ter chamado uma ambulância / etc." e agir.
    Na semana passada, por exemplo, o vento quase fez cair uma vedação de metal no cimo da minha rua, da varanda de um apartamento que está desabitado. A vedação ficou pendurada sobre a estrada, seria uma questão de horas até cair de uma altura de 5 metros. Passei por lá quando cheguei a casa e, à noite, quando fui passear a minha cadela, fui espreitar. Havia luzes nos andares de cima e nos prédios em frente, mas a vedação continuava na mesma. Quando cheguei a casa, liguei para os bombeiros, que vieram logo. Ainda ninguém tinha reportado a situação. Pessoas podiam ter sido esmagadas, mas as pessoas do prédio certamente pensaram que "alguém" já estaria a tratar do assunto. (Helena, conheces o Eckart von Hirschhausen? Ele escreveu sobre este fenómeno :) )
    Fazer voluntariado também é um dos meus planos para quando as crias crescerem mais um pouco.

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  12. Eckart von Hirschhausen? Vou já ver.

    Aviso a quem quer fazer voluntariado: fiz uma vez, numa loja de produtos TransFair (será que se chama assim em Portugal?) e não gostei nada do ambiente. Era só velhotas que se entretinham a dizer mal umas das outras.

    Gosto mais de ajudar os vizinhos e as pessoas que vejo na rua.
    Ah, o que me lembra daquelas vezes que me ofereço para carregar os sacos de compras das velhinha e elas os agarram com toda a força e olham para mim como se eu lhos quisesse roubar.
    E também aquela vez em que eu estava na lavandaria e uma velhinha teve umas tonturas. Eu levei-a a casa no meu carro, a ela, mais à roupa lavada, mais ao cão. E ela, em frente à porta de casa, resolveu admoestar-me: que não devia meter estranhos no meu carro.
    Hihihihi. Esta vida de "madre Teresa" é muito engraçada.

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  13. Helena, é interessante que contes isso. A minha mãe fez voluntariado num hospital de Lisboa e relatou coisas semelhantes: uma hierarquia entre as voluntárias (auto-inventada), em que as novas eram tratadas como estagiárias e as mais antigas tinham estatuto de chefe... triste, não?
    Acho que as velhinhas na Alemanha são diferentes das velhinhas em Portugal... uma vez num autocarro no Porto uma senhora começou a falar comigo porque lhe dei o lugar, depois contou-me a vida toda e ainda me convenceu a sair na mesma paragem que ela para me ir mostrar a sua casa, uma vez que morava sozinha e quase nunca tinha companhia... (também lhe perguntei se não tinha medo de levar estranhos para casa, ao que me respondeu que não, que já não tinha que ter medo de nada!)
    (Eckart von Hirschhausen é aquele médico / comediante que muito aparece na TV alemã. Gostava muito de o ouvir, mas agora que se tornou uma estrela está um bocado arrogante)
    Mãe capotada, como vês as tuas convidadas sentem-se bem por aqui e vão ficando. :)

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  14. Ainda ontem fiz uma dinâmica de grupos em que de alguma forma fazia reflectir sobre isso. A nossa indiferença ao andar, a pressa, o olharmos apenas para a nossa vida, que já é tão difícil. e percebemos que muitas vezes sentimo-nos seguros assim, alheados de tudo. Ou não. E nesse dia temos que pensar para nós: O que vou mesmo fazer em prol da mudança?

    Vá, toma lá um beijinho, de quem se preocupa contigo.

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  15. Olá mãe capotada :)
    Também já pensei fazer voluntariado, mas confesso que me assusta um pouco o facto de não ser capaz de deixar lá fora coisas que não devo trazer para casa...
    Por vezes também penso no que partilhamos no facebook. A facilidade com que comunicamos hoje uns com os outros, mesmo sem nos conhecermos, permite-nos ter acesso a uma série de realidades muito diferentes do contexto que vivenciamos em determinada altura da nossa vida. E algumas vezes apetece-nos nem saber dos outros...
    Parece-me bem que nos preocupemos com o que nos rodeia e penso que podemos ser solidários, sem estarmos ligados a uma instituição. Basta para isso estarmos atentos e termos coragem de não sermos indiferentes. É certo que podemos ajudar sem esperar nada em troca, mas eu acredito que para tudo tem que existir equilibrio e se assim não for cedo ou tarde achamos não valer a pena... Até para a falta de um agradecimento temos de estar preparados!...
    Entendo o que dizes em relação à vontade que tens de ter um horário para cumprir, que passas os dias e parece não teres feito nada, também me acontece, mas também me acontecia ter dias aborrecidos e frustantes quando estava a trabalhar, porque sempre nos falta alguma coisa...
    Felizmente podemos estar aqui a escrever sobre este e outros assuntos, e a levar isto um bocadinho mais a sério :)

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  16. Gralha - Por outro lado, ha sempre uma boa razão para ficar triste. Um blogue bem-humorado é necesariamente um blogue alienado ? ... Se calhar é... a alienação é necessariamente negativa ?

    Helena - Ajudar os vizinhos também é valido, mas é quase como ajudar os amigos, não sei se não sera fazer batota ...
    Mas conta e é importante, claro que sim.

    C - Também ligo sempre para as urgências, até agora quase sempre alguém ja ligou antes, mas não me deixo demover - o lugar da Madre Teresa ha-de ser meu !

    Duchess - E se um dia formos mesmo nos que precisarmos de ajuda ? Não consigo olhar para as pessoas que estão em apuros apenas como os outros, ha sempre uma parte de mim que pensa "e se um dia for eu ? Ou alguém de quem eu gosto?". O meu altruismo é também o meu egoismo.

    amora - Uma amiga minha fez voluntario durante um periodo em Lisboa e durante uma boa parte desse tempo andou deprimida, ha casos muito duros, vidas impossiveis de engolir. Eu acredito ser como ela, o meu voluntariado devera passar idealmente por algo mais leve, pelo menos por agora. Continuo à procura, ainda não encontrei o que me convém...

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