18.1.15

In di a


Não sei se foi um documentario ou um filme sobre Gandhi, talvez tenha sido aquela série antiga sobre as jóias da coroa inglesa. Não foram de certeza os livros de Arudati Roy, porque não me lembro de quase nada do que li. Ou se calhar, foram. Não sei nada sobre os mistérios do inconsciente.
Mas estranhamente, associo a palavra Índia ao exercício que Nabokov fez com a palavra Lolita. Sem os estalidos da língua, a palavra Índia, dentro da minha boca. "In" com algum receio, "di" onde tudo se toca e "a" com alivio e redenção.
In di a.
Já dormimos na Índia duas noites. Primeiro chegados a cair do aeroporto de Chennay (antiga Madras). Ainda não tínhamos saído do quarto e já a Índia estava em todo o lado.
O movimento da cabeça do recepcionista. Everything you need, I'll arrange for you. A falta de compreensão entre o seu ingles e o meu. O lavar dos dentes sem a agua da torneira. Eu a tentar ensinar o meu filho a meditar. Fecha os olhos, pensa numa laranja. 
Inteira ou partida ? Descascada ou com pele ? Da loja ou da árvore? Doce ou amarga ?
A minha filha, sempre muito preocupada com a perfeição, as costas, endireita as costas, curvaste outra vez.
Concluem que preferem ser ninjas a yoggis. Mas não sabem o que dizem.

A caminho. A primeira vaca no meio da auto-estrada. Os 354 acidentes evitados à justa com o som omnipresente da buzina, ou a influência de Ganesh ou uma lei da física ainda por descobrir.
In di a. E no final, a redenção. Espero.
Por enquanto, olhar com desconfiança para a banca "Chennay fast food" do terminal de autocarros, acabar com bananas e bolachas Maria.
Uma criança chora, não quer mais andar, deita-se no chão, a mãe ri-se, pega-a ao colo e beija-a na cara.
A birra não se ouve no terminal, o homem que grita Pondi Pondi Pondi, para chamar mais passageiros para o autocarro. As buzinas. Os gritos. Os rádios. A birra é como se na tivesse existido. O terminal de autocarros tão mais zen do que a minha sala francesa, silenciosa no meio do choro dos meus bebés.  
O choro dos meus bebés por todo o lado. Aqui, o choro não se ouve. A mãe sorri. A criança adormece.
Pondi Pondi Pondi continua a gritar sem misericordia. Promete-nos que o autocarro para Pondichery vai partir dentro de 20 minutos.
Mas não sabemos se é verdade, se há horários fixos, ou se estamos à espera que o autocarro encha para justificar a viagem. Saímos do autocarro, colocamos repelente.
Temos medo dos mosquitos e das diarreias.
Vamos para Pondicherry, ou pelo menos assim o esperamos.

Mas Pondicherry não é o porto seguro que esperávamos para começarmos a quarentena indiana. Happy Pongol ! A Índia tem um milhão de habitantes e no meu calculo rápido, metade deve ter vindo hoje para Pondichery.
Começamos o passeio ao pé do mar, andamos nas ruas, damos por nos numa rua sem conseguir avançar, motos, carros, pessoas, bicicletas. Esperamos e entramos num jardim. O parque infantil. C'est la catastrophe, anuncia pausadamente a minha filha. Metade das coisas estão partidas, há crianças em todo o lado, mas por todo o lado e sacos de plástico também, infelizmente. O meu filho no meio a tentar gerir metade da população que tentar passar-lhe a vez.
Estranhamente não se enerva, se alguém tenta passar-lhe à frente num escorrega em casa, há logo problema, arma um escândalo, uma vergonha, mas aqui, parece divertir-se.
Ri muito alto. On dirait la vie sauvage, grita-nos. Mas não, são apenas muito mais pessoas do que o que estamos acostumados. Nunca vamos aos saldos.
O que é que este pais vai fazer connosco ?

In di a. Cheguei.

6 comentários:

  1. Mas mas mas.... Que grande salto. E a Austrália já foi ? Beijo. Muito s

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  2. Daqui a 3 semanas tb vou estar pela In di a. Tenho receio do que vou encontrar depois de todas as descrições que já me fez quem aí esteve. Boa sorte é o que dizem. Cuidado com a água e com a comida também já me disseram. Boa sorte ...

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    1. Vais para que parte ? E quanto tempo vais ficar ?
      Temos tido cuidado com o que comemos e por enquanto, não tivemos problemas, mas estamos aqui ha pouco tempo...

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  3. Há quem tenha saído da Índia outra pessoa. Suponho que esse país vá fazer muitas coisas boas convosco.

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  4. Nunca tinha pensado na Índia dessa forma: Ín di a. É muito bonito.

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  5. Estou um bocado preocupada com a Índia, não sei se o país e os seus habitantes estão preparados para lidar com a tua energia, animação, caos e caracóis pelo ar. Enfim, dá-lhes um tempo para se habituarem, sim?

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