14.10.14

O que se vê do alto


Acordámos às cinco horas. Estranhámos estar menos escuro do que esperávamos, termo-nos vestido tão rápido e corrido tão depressa, Não acreditámos na fila que já estava à espera do autocarro. E duvidámos da destreza do condutor naquelas curvas mais apertadas. Admirámos-nos com a paisagem que íamos vendo, enquanto subíamos.
Acredito que ainda não tínhamos chegado ao fim da viagem e já tínhamos o Machu Picchu entranhado.

Subimos os terraços do lado, para ver primeiro de cima, antes de entrarmos. Infelizmente, não me esqueci que tinha vertigens. Foi difícil.
Foi bonito.

O Machu Picchu, tem em nós o mesmo efeito de tudo o que é tão difícil de conseguir que se torna precioso. De tudo pelo qual estamos dispostos a lutar.
Existe uma quota, não sabemos se vamos conseguir entrar até conseguirmos comprar o bilhete, não sabemos se vamos mesmo ver tudo o que queremos, se vamos compreender onde estamos. Se vamos gostar. Se vai valer a pena. Não sabemos se vamos conseguir comer lá dentro. Existe também um risco sanitário. Não sabemos muita coisa, inclusive quando é que tudo isto começou a ser tão importante. O Machu Picchu faz-se de difícil e, como sempre, resulta, qualquer revista feminina dá o mesmo conselho.
Naquele dia, se não entrasse no Machu Picchu, morria.

O que se vê do alto do Machu Picchu, não são as ruínas Incas, a sua admirável arquitectura, o culto dos deuses, a hierarquia da sua civilização, a luz, a selva envolvente, os lamas, as chincillas, o final do dia sem turistas. O que se vê do alto é a uma demonstração ao vivo daquilo que todos sabemos, mas que teimamos em esquecer, por muitas frases em itálico que partilhemos nas redes sociais :
Esta vida tem que ser vivida.
Lamento a conclusão óbvia. As palavras nunca são suficientes, mas desta vez preciso mesmo não me esquecer.

4 comentários:

  1. Parece que está respondida a pergunta do outro post :)
    (que vontade de estar aí também)

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    1. Só reviravoltas. Mas não é o Machu Picchu, somos nós.
      (Olha, e que giro seria fazeres-me uma visita surpresa).

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  2. Que vontade de não estar aqui, na rotina das nossas comuns vidas. Se aí estivesse, provavelmente também diria isso mesmo, da vida ter de ser vivida....mas não estou e até estava a ter um dia mau. obrigada .

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    1. A vida com um recém nascido calmo e bem disposto, não tem nada de comum. Para mim, é bem mais extraordinario do que uma volta ao mundo. Não faço ideia o que seja uma rotina assim.
      (E ja não estou no Machu Picchu...).

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