25.8.14

Raízes que ameaçam coisas


Enquanto vou insistindo, vai dizendo que não quer lá voltar, que perdeu a graça depois que avó morreu. Que não vale a pena. Insisto, insisto, inspiro, expiro, insisto, insisto. Vamos. Acusa-me de o vencer pelo cansaço. O costume.
Uns duzentos e tal quilómetros, umas histórias, umas anedotas, uns silêncios e a pronúncia do sul começa a chegar, primeiro pelas piadas que lhe contaram enquanto jogava matraquilhos, depois pelas frases feitas ouvidas quando dormia em cima de molhos de palha, nas noites de Verão de antigamente, quando de madrugada se colocava a mão nas paredes e ainda estavam quentes. Finalmente, pelas conversas todas de quando ali viveu. Arrisco que a pronúncia até nos silêncios está presente. Arrisco porque tenho a certeza, não gosto de perder. Não sei nada de raízes, mas acredito nelas. Atrevo-me mesmo a escrever que as sinto, as minhas e as dos outros. E as dele.
O caminho é árido, como tinha dito, e longo. Os cães ladram, como tinha avisado, mas não se aproximam. As gentes levantam-se no café quando o vêm chegar, como tinha dito. E as três perguntas sucedem-se, quando chegaste? Com quem vieste ? Quando é que partes ? como tinha adivinhado.
E chorou, quando entrou na casa. E também esta parte tinha previsto.
Depois. Depois, andei atrás dele, pelas ruas a pedir-lhe mais histórias emprestadas. E havia tantas quantos os Verões que aqui passou em criança, debaixo da árvore que cortaram, porque as raízes estavam muito grandes e ameaçavam fazer ruir outras coisas. A vida está cheia destas analogias paralelas, alguém se diverte connosco. Lá em cima ou aqui ao lado ou lá em baixo.
Quando nos despedimos disse-me obrigado, mas tal como no princípio, desta vez não teve razão. Sou eu, sou eu.

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