10.6.14

Estado em que me encontro

De vez em quando, fico sem internet, nem luz. Estou a 5 km de Paris, no ano de 2014.
A natureza ainda não disse a suúltima palavra.
E ainda bem. Que dela faço parte. Raios e trovões incluídos.

Vivo no alto de um monte, com vista para as copas das árvores.
Há 7 anos, imprecisões à parte, dei por mim feliz, ao ver a chegada do primeiro pássaro verde.
Sempre optimista. Sempre naïve. Sempre a ansiar novidade.
(E em troca, pouco secretamente, à espera de sentir "a vida").
Hoje são dezenas ou centenas que sobrevoam à minha frente. Os miúdos servem-se do barulho que fazem, como alibi à falta de atenção.
Têm que estudar, para irmos descansados para o nosso grande ano.
Primeiro alguns deveres, depois a loucura total e irresponsável. Assim, quase, dizia a minha mãe.
Tenho curiosidade de ver como vou encontrar este jardim, daqui a pouco mais de um ano. Não andei a contar, mas julgo ver agora muitos menos piscos e corvos.
Muito provavelmente exclamei, uma vez mais, vitoria antes do tempo.
O que andam os pássaros a fazer ?
Ao que andamos todos exactamente ?

A semana passada, tivemos a ultima reunião com a directora da escola.
Suspeito que para o ano, zarpe também para destinos distantes.
Vous me faites rêver, repete sem se dar conta.
Ne prenez surtout pas la tête ! Depois, se tudo correr mal - no meio de tudo o que vai correr bem - promete colocar os miúdos a respiração artificial. Aulas de apoio, se for caso disso. As crianças aprendem depressa. Não se preocupem em demasiado. Verifiquem apenas que levam os olhos bem abertos.
Gosto desta directora.
Que me dirigissem sempre assim.

Lembro-me do exacto momento em que aprendi a expressão "prise de tête". Estavamos sentados no jardim du Luxemburgo, as fotografias eram a preto e branco - que eu pensava que era artista - e ele temia o pior e o melhor para a sua vida : tinha percebido que iamos ficar juntos. Não tinhamos escolha.

No próximo fim de semana, vamos fazer uma maratona de festas de aniversário infantis antecipadas.
Queixei-me de muitas coisas ligadas à maternidade. Ainda me queixo de outras.
Sou queixinhas e piegas, como poucos portugueses .
Mas se existe algo de que nunca me vou queixar é da confusão das festas.
Da desarrumação que fica quando se vão os convidados. Os confettis espalhados a resistirem ao aspirador, meses depois da data prevista.
Como previsto, gosto deste tipo de gritos e de  música alta. Um porto seguro.

Nas mochilas, já sabemos que não vamos levar tudo o que julgamos precisar.
Não cabe, não aguentamos.
Aqui vamos aprender uma nova lição. A de viver sem.

Sonhamos com tudo o que vamos fazer e também com o que não vamos conseguir ver.
Um ano é muito pouco para se viver a liberdade.
Ainda não começou e já se adivinha a insatisfação.
Talvez me engane. Tomara que sim. Tomara que não.

A dois meses e picos da famosa partida, dou por mim a escrever testamentos.
E a afinar coreografias.

10 comentários:

  1. ai madamoiselle, esta quase!
    antes disso quando aterras em porto seguro (aka lx)?

    ResponderEliminar
  2. Na segunda semana de Julho. Espero que te consigas organizar para que esteja bom tempo !

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. sabes que eu nao tenho grande poder de decisao nesse dominio, senao vejamos, acabam de voar 3 semanas de férias e so desde ontem temos sol. sto antonio lutou contra s. pedro e ganhou.

      Eliminar
    2. E eu que estava convencida que eras um bom contacto. Estou a ver que vou ter que bater a outras portas.
      (E assim, se passou mais uma bela conversa meteorologica. Ah !)

      Eliminar
  3. Também gosto muito dessa directora. E vous faites toda a gente rêver, o que é que estavas à espera? Mesmo que venhas para aí com muita conversa de insatisfação, não nos enganas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por acaso, estava à espera de fazer sonhar mais do que o que fiz.
      Olha que tenho ouvido muitos
      "Eu ? Nem pensar !".
      O mundo é cheio de cores e de sonhos diferentes. E ainda bem.

      Eliminar
  4. Olha que eu nunca o disse mas a mim fazes-me sonhar de grande. De grande mesmo!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. If I could see something
      You can see anything you want boy
      If I could be someone-
      You can be anyone, celebrate boy.
      If I could do something-
      Well you can do something,
      If I could do anything-
      Well can you do something out of this world?

      Take a dream on a Sunday
      Take a life, take a holiday
      Take a lie, take a dreamer
      dream, dream, dream, dream, dream along...

      Ouvi esta musica dos Supertramp tantas vezes, e tantas vezes me identifiquei (e ainda me identifico) com o stupid little dreamer.

      Eliminar
  5. Bon voyage e que tudo corra pelo melhor !

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Merci.
      (vamos embora apenas em Agosto)(eu é que já ando aqui a deitar foguetes há muito tempo).

      Eliminar

Pessoas

Nomadas e sedentarios