18.7.13

Crimes diversos numa manhã de praia



Temos ido quase todas as manhãs à praia. Sol, nuvens, calor, frio. Sento-me no banco de trás do carro dos meus pais e os meus braços vão segurados, cada um por uma das minhas crias ensonadas, com sede de espaço e anarquia.
Ontem, máquina em punho, documentei com pormenores a contraluz, o jogo de futebol do meu filho com o meu pai e o meu irmão. E retratei o mais fielmente que consegui, a estranha relação que existe entre a minha irmã e a minha filha, enquanto construiam uma obra contemporânea com areia e conchinchas.
Ao longe, graças a um zoom mediano, localizo uma colega minha do secundário de quem não me lembro o nome e com quem não vou falar.
Se me viu, imagino que deva pensar que o meu irmão é o meu namorado-marido-pai-dos-meus-filhos.
Vejo-me a despir os miúdos sozinha, a ser a única a colocar-lhes o protector, a ir buscar uvas e águinha, a tentar controlar laivos de rebeldia mais ou menos explosivos, na hora de nos irmos embora, a lavar a areia dos fatos de banho, a vestir, a apanhar os chinelos que deixaram para trás, a dobrar as toalhas. Imagino-me a tecer elogios compensatórios do meu irmão, que hoje, visto de fora, "é" o pai : que me ajuda muito, que se ocupa muito bem dos miúdos, que carrega com os sacos mais pesados.
Estou distraída e dou por mim a lembrar-me de brincadeiras na areia que o meu irmão costumava fazer, fica todo coberto de areia, apenas se vê a cara. Só que depois - imaginação galopante - uma onda vem, fica submerso, preso na brincadeira que decidiu ter, quando não pensou nas consequências. Devia ter morrido, algures no meu pensamento, mas não fui tão longe. Afinal, eu sei que é apenas o meu irmão e que o papel dele é ser tio. Apenas ser tio. Um tio pode apenas ajudar a mãe dos miúdos, estamos de acordo neste campo. Não se passa nada.
Não consigo deixar de concluir que num outro tipo de vida, eu seria sem dúvida capa mediática. Do jornal "Crime".
Vidas. Caminhos. Escolhas. Rifas.

E agora, cinematograficamente falando, havia mesmo necessidade de tantos clichés no Before midnight ?

6 comentários:

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    1. Fiquei tão desiludida. Um casal tão promissor a cair nesta esparrela, tenho para mim que na vida real isto não aconteceria. Pareceu-me que tinham encontrado piadas fáceis e não conseguiram ter a coragem de ir mais longe. Fizeram 50 referências ao machismo e depois apenas 1 ao amor puro e livre, sem ciúmes ou mesquinhices, que seria o mais lógico no seguimento dos outros dois filmes...

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  2. Respostas
    1. Não, não, não. Foi um filme muito engraçado, apesar de tudo, mas podia ter sido tão mais interessante. Se era para ouvir as conversas das minhas vizinhas de café tinham-me ao menos servido um cappuccino.

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  3. Ainda não tive coragem de o ir ver....

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    1. Viste os outros dois ?
      Mesmo assim, apesar desta minha crítica (que ao fim ao cabo também é um spoiler, desculpa), também tem uma parte de diálogos engraçados fora deste cliché. Arranja coragem, que é um filme fofinho para o Verão e é engraçado continuar a seguir estes dois.

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