12.4.13

Que horas são ?

Ainda há bocado uma louca aproximou-se de mim na rua e disse-me que gostava muito de fumar um cigarro, pensei que me estava a cravar, mas antes de lhe poder responder que não tinha, continuou sem interrupções a explicar que não pode fumar porque tem uma doença e que se fumar vai morrer, quer dizer não ía morrer com um cigarro, mas se fumasse muitos, ía acabar por morrer e isso seria triste, pensei que me ía pedir dinheiro, mas não tive tempo para a interromper, porque já estava a falar sobre dança clássica com a mesma voz calma que usava desde o início, que tinha aulas de dança clássica uma vez por semana, que era a única actividade que tinha e desenvolveu o monólogo durante uns cinco minutos acerca de técnicas e compositores preferidos, eu ia sorrindo e acrescentando um pois, sim, claro, boa ideia. Nisto perguntou-me as horas, disse-me que tinha que ir e desejou-me um bom fim de semana. E eu fui à minha vida e vim aqui contar-vos o que acabei de contar, sem que ninguém me tivesse pedido nada, com pormenores desnecessários e sem interrupções, tal qual como ela fez hoje, só que eu faço isto quase todos os dias. Mas o que me está verdadeiramente a trabalhar é eu ter utilizado tão facilmente e sem nenhum espírito crítico ou honesto a quinta palavra deste texto. Agora tenho que ir, que começa a ficar tarde para mim. Desejo-vos um bom fim de semana.

13 comentários:

  1. hahaha,gostei da observação final. A diferença entre nós, que desabafamos à frente dos desconhecidos da internet sobre a nossa vida, inquietações e disparates se calhar é pouca em relação a esses desconhecidos que às vezes nos interpelam na rua ou que falam sozinhos,para o ar, para quem os queira ouvir...

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    1. Acho que não é nenhuma, temos é sorte que a sociedade ainda não teve tempo para nos rotular convenientemente, ou já, e ainda ninguém nos avisou - é que fazendo bem as contas somos muitos. ;)
      Bom fim de semana, ouvi dizer que a Primavera chega hoje para esses lados. Por aqui, mais uma semana disto e relanço as festividades natalicias, não quero saber !

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    2. bom, uma diferença há-de ser que nós desabafamos no quentinho do sítio onde está o nosso ponto de ligação à net, e esses desconhecidos na rua provavelmente a maior parte não têm sítios quentes para onde ir.

      (eu trabalho no parque das nações e aqui há um que aparece só quando faz bom tempo que eu chamo "o maluquinho do jogging" - anda de maillot como aqueles dos halterofilistas, mas de fio dental e anda sempre a correr e tem barbas como marx); depois quando vou de manhã no autocarro passo pela zona dos contentores e armazéns (matinha, xabregas) e vejo muitas vezes uma mulher que pousa um sacalhão ao lado dela, agacha-se, puxa a saia para cima e as cuecas para baixo e fica ali, junto aos carris de um caminho de ferro inutilizado, a fazer as suas necessidades. nas manhãs em que a vejo, chego sempre ao meu destino com os olhos molhados.

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    3. Esta desconhecida não pareceria estar em dificuldades económicas, simplesmente não cumpria todas as regras da sociedade, tenho mesmo vergonha de a ter chamado louca. O que me deixa triste nessas histórias que me contas, e que eu também vivo, é o que está por trás da loucura, o que os levou a esta situação, a vida a que são por vezes obrigados a levar e não escolheram (solidão, problemas financeiros, etc), porque a loucura em si, se virmos bem quem é que nos diz que o senhor do jogging não pode ser mais feliz que nós ?

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  2. Não consigo ignorar a ligação entre este post e o teu anterior. E portanto vou mas é voltar ao trabalho :D

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    1. Olha que se calhar não é mesmo de ignorar, tenho é dúvidas de que lado do trabalho pára a loucura e a alienação ...

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    2. Nãããão... Por favor diz-me que há algum sentido e pôr o despertador todos os dias para as 7h30. Não, não, não quero vestir essa camisa branca com mangas muito compridas!

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    3. Mas olha que o branco te deve ficar a matar, não negues à partida um outfit que não experimentaste.

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  3. Curiosamente tenho-me debatido com a mesma questão: mas alguém me perguntou alguma coisa?
    Enfim, pelo menos nós, os loucos que escrevem para desconhecidos, podemos sempre alegar uma certa vocação diarística.

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    1. Não sei se esse tipo de alegação passa num consultório psiquiátrico...

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  4. Tu és um lobo antunes. Uma loba antunes. Uma Carla Antunes. És boa que te fartas. E eu adoro este blog.

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