8.4.13

E não mais trabalhar


Fomos à exposição de Guy Debord, na BNF. Eu que não trabalho há 6 anos, ele que anda farto do trabalho e o outro, o que escreveu "Ne travaillez jamais" num muro de Paris, ainda antes de termos nascido. Se durante a exposição nos divertimos, porque também é de diversão que se trata neste sério propósito de nunca mais se trabalhar, no final saímos ainda mais desconfortáveis com o que já sabíamos e sentíamos, assim tão bem relembrado.
Da alienação sensata, aspas aspas, que é escolher-se passar uma vida a trabalhar, da estranheza que é sentir-se livre ao dispor do dinheiro que ganhamos em troco em objectos de que não precisamos, de vivermos a maior parte do tempo longe dos nossos filhos, ou no poder que sentimos quando votamos. Quem sabe não é um bocado mais de consciência e de desconforto que precisamos ?

Para mais uma pedra no sapato, começar por carregar aqui. Mas vai aparecer publicidade antes.
Vocês sabem como é que isto funciona.

Reticências depois, à saída da escola, uma professora informou-nos que a nossa criança não estava familiarizada com o euro, com os trocos e assim. Aconselhou com um sorriso a aquisição do Monopoly. Para brincarmos aos capitalistas, acrescentou, antes de nos desejar um bom resto de dia e virar-nos costas. Não sei o que vos diga, não sei o que vos escreva. Pelo que vos deixo as fotos que fiz na sexta quando estive na BNF, estava um dia cinzento. Este fim de semana esteve sol e fomos andar de bicicleta. Não compramos nada. Não calhou. Assim como não calhou acertar nos números do Euromilhões.




11 comentários:

  1. E quando és uma pessoa uma vida profissional intensa, uma carreira, e um dia tens de escolher entre a dignidade e os joelhos esfolafos? Ficas desempregada e até evitas dizer aos outros, porque te olham como se tivesses uma doença terminal e contagiosa. E às vezes a vontade era mesmo essa: não mais trabalhar. Não fosse a natural sobrevivência e acredita que era capaz de ficar assim para sempre: com tempo para os meus filhos, para viver.

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    1. Não tenho respostas para se viver sem trabalho, sem dinheiro, mas acredito que deva existir uma solução para explorar, esta não pode ser a unica maneira de se viver. Enquanto não se pensar fora da caixa, andaremos sempre assim a viver como "tem que ser".
      E, como tu acrescentas, com receio que o desemprego dos outros ou a falta de dinheiro passe para o nosso lado...

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  2. Para quando uma versão do Monopólio com trocas directas? Uma cabana por uma vara de porcos. E quando cais na casa da prisão passas directamente na meta e oferecem-te uma cesta de fruta. Até lá, não entra Monopólio lá em casa.

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    1. Não brinques, que uma amiga minha tem uma versão do monopoly - não sei como é que se chama, vou perguntar - que é passada nos paises do terceiro mundo, com venda de trigo e centeio, com intempéries e outras chatices. Não sei o que é que fazem em relação ao dinheiro. Vou investigar, hoje à noite pergunto-lhe, voltarei a este assunto asap.

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  3. Pois a minha ideia era mesmo não mais trabalhar!
    Pelo menos, nos últimos tempos, e provavelmente nos próximos também é assim que estamos aqui por casa! Boa semana :)

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    1. Uma das criticas que fazem a Guy Debord é de não trabalhar mas viver com o dinheiro da mulher, o que é basicamente o que eu faço, mais coisa, menos coisa, e aqui não me sinto bem. Gostava de um sistema que nos libertasse mais aos dois. No inicio, queria um part time que permitisse diminuir as horas de trabalho dele. Ou seja, em vez de um trabalho a tempo inteiro para ele e nada para mim, dois trabalhos a tempo parcial. Assim ja ficaria muito satisfeita.
      Agora isto de não trabalharmos de todo...

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. A boa notícia é que anda muita gente farta de trabalhar e isso pode criar uma nova tendência na sociedade. A má notícia é sentirmo-nos todos muito incapazes de viver com pouco dinheiro, porque mesmo que precisemos de poucas coisas queremos pagar a universidade aos nossos filhos e outros luxos que tais.
    Mas eu estou em crer que quando isto começar vai arrastar tudo atrás: os pais deixam de trabalhar (ou passam a trabalhar muito menos) ->os filhos passam a aprender muito mais coisas com os pais ->começa-se a questionar cada vez mais a escola ->a escola tem de mudar ->começam a surgir novas tribos urbanas, ou as que existem começam a dar mais nas vistas (essa malta que anda a pé e de bicicleta e só faz compras no comércio tradicional) ->o comércio tradicional tem de mudar -> os hábitos alimentar idem aspas -> as hortas florescem e por aí fora...

    Também não tenho respostas, mas se este projecto parece estar a funcionar em Todmorden, porque não noutros sítios?
    (http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/blog-da-redacao/cidade-inglesa-e-tomada-por-hortas-que-oferecem-alimentos-gratuitos-a-seus-moradores/?utm_source=redesabril_psustentavel&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_psustentavel)

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    1. Acredito que seja por ai, sim, ha dois anos li muita coisa no facebook sobre hortas urbanas, sobre flexibilidade e equilibrio familia/trabalho (tu sabes)e pensei mesmo que a revolução fosse começar, mas depois com a crise, parece que tudo esmoreceu... Quem sabe se agora, que faz parte de todas (quase) as vidas, ja se possa pensar mais nas soluções do que nos problemas ? Espero bem que sim.

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  6. A culpa é dos Fenícios!!!
    Ontem ao jantar dizia a minha filha mais velha (quase 15 anos) - qual dos Fenícios é que inventou o dinheiro?
    Eu não faço ideia, mas se eu o apanhasse agora, ei bem sei o que lhe faria! Era apanhá-lo :)))

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    1. Ahahahaha ! Os fenicios deviam umas costas muito largas.

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