18.4.13

Não vai ser neste Verão

Com a primavera chegam as flores, os passarinhos, as dietas miraculosas. Com a vinda do mês de Abril, as minhas alergias e os meus desvios estratégicos aos almoços sem sabor, que uma parte do meu cérebro e entourage me tenta impingir. Resisto heroicamente e ataco tudo o que não mexe no meu frigorífico. Saio deste combate satisfeita e seguramente com algumas gramas a mais. Rebel with a cause. Reclamo alto e a bom som que eu sou mais eu, convenço-me que os prazeres da vida não estão nos espelhos. Posso afirmar, para quem quiser ouvir, que nunca nas minhas mãos um gelado chegou a derreter.
E no entanto, peno à procura do biquini da confiança antes das delicias da próxima época balnear. Afinal de contas, queria ter uma barriga como nos anúncios da barra da direita do facebook. Tão segura que tinha andado aqueles meses todos.
Este anúncio deste sabonete, que se tornou viral, mostra que a contracultura ainda tem muitos passos a dar. Na sociedade. Mas sobretudo em mim. Vi-o ontem pela primeira vez, distribui likes a torto, a direito, bolas, todas devíamos ter direito a gostar da própria aparência. O meu reino por uma boa auto estima.
Mas afinal ...
Porque teima em morar, a dita, apenas nos corpos magros e jovens ? Lá vamos nós outra vez começar tudo de novo. Contracultura, contracultura, contracultura.
Porque o feio pode ser bonito, o gordo atrair, a velhice fascinar. E a diferença existir e ser apreciada.
Pobre de mim, que ainda não vai ser este Verão que os dogmas vão cair, nem que me vou convencer que não preciso encolher a barriga na praia.
Mudem essas cabeças e deixem-me comer (ainda mais) à vontade. Gostem da minha barriga, eu gostarei da vossa.

Os louros a quem de direito, o link a quem me fez pensar melhor.


PS : E a versão masculina aqui.

18 comentários:

  1. Pois é. Caraças, pá.

    (Por exemplo, tu podias ter entrado no anúncio mas eu não - ou seja, acho que o foco do problema está num conceito de beleza muito particular, fazendo festinhas ao ideal WASP que vende sabonetes em todo o mundo)

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  2. Também tive para empregar a palavra caraças, mas pensei que assim como assim, tu passarias por aqui.

    (porque é que eu podia e tu não ?)( Ai, e conta-me isso do ideal WASP que nem a googlar estou a chegar a lado algum. A Africa, talvez ?).

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  3. White Anglo-Saxon Protestant (a mum next door americana, versão pós-moderna que só come produtos biológicos, conduz o seu híbrido e é pioneira do homeschooling - vem cá dizer-me que não és uma verão melhorada desse ideal?)

    ...E reparo agora que também, sim, podes ser uma vespa africana, por outro lado! Menos a parte da ferroada. Sem dúvida, com a parte da aparência vivaz e colorida.

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    1. Sim, porque se for a parte de cintura de vespa glup, glup, glup.
      E quanto à versão melhorada da WASP, vou levar isto como um elogio e não se fala mais nisso, até porque estou precisada.

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  4. Ainda só vi metade do anúncio. Não me apetece ver todo, para já. Já se sabe que isto é uma questão cultural, etc, etc. Mas e se na verdade for mais profundo que isso? Vivemos num mesmo corpo toda a nossa vida. Mas esse corpo muda, de um dia para o outro surpreende-nos, de uma década para a outra já nem parece o mesmo. A vida marca-o - os nossos arrependimentos, as nossas dores, os nossos medos... fica tudo ali à vista, pelo menos a nós, que reconhecemos tudo isso quando olhamos no espelho. E se na verdade não for a beleza que nos aflige mas sim o fim da vida, tão visível nesses pequenos sinais que vemos aparecer no corpo? As rugas, os cabelos brancos, a pele flácida - tudo indica o fim para o qual caminhamos. Só Eva não sabia para onde ia, essa deve ter morrido linda!

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    1. Se pensarmos que são os sinais do corpo que indicam o fim, teremos um grafico no pico quando tivermos uns 18 anos, nessa altura hormonalmente os homens e as mulheres são mais férteis, fisicamente serão mais perfomantes, não é isto fisicamente mais significativo do que os cabelos e as rugas ?
      Nesse caso, estariamos a caminhar para o fim a partir dos 19 anos, noutros aspectos 25 anos, altura em que a potência do corpo começa a decair. Preocuparmo-nos com miudezas de aparência aos 40 anos por causa de sinais do tempo no nosso corpo, parece-me tardio e baseado em miudezas. Concluindo, estamos atrasadas para nos preocuparmos com isso, deviamos era concentrarmo-nos em desenvolver o intelecto, que julgo ainda nos poder maravilhar até mais tarde. Com o corpo ? Deixemo-nos em paz, não nos preocupemos muito e que nos atirem piropos, elogios e flores frescas.

      Que a sociedade seja condescendente com os nossos corpos em decadência, que sejemos tolerantes com o que se estão a tornar, que nos maravilhemos facilmente com a transformação e surpresa do tempo que passa. Assim como assim, o futuro não mora na pele. E a beleza não pertence a ninguém.

      Agora vou beber cerveja e comer batatas fritas, chegou a hora do aperitivo e a ninguém apeteceu preparar tapas deliciosas, hélas.
      Bom fim de semana.

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  5. :) Grande texto, este. O corpo continua a ser excessivamente valorizado, e provavelmente irá continuar. A culpa é de homens e de mulheres. E volto a dizer, de homens e de mulheres. Beijinhos

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    1. :) Sim, acordo plenamente. De onde podemos concluir selvaticamente que andamos todos a a trabalhar para o corpo. ;)
      Ou pelo menos, para a sua excessiva valorização, que alguma importância deve ter pois que dele dependemos para viver.
      Beijinhos e sorrisos.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Isabel, li o teu comentario no e-mail, mesmo se o apagaste aqui. Aceito, claro, que o tenhas feito e compreendo.
      Fizeste-me concluir que o anuncio da Dove é uma porcaria ainda maior do que o que tinha pensado. Que ainda é pior do que aqueles anuncios pirosos com modelos "perfeitas" de 18 anos e muito photoshop, exactamente porque nos pode enganar tão bem - é uma enorme fraude.
      Não precisamos de vendedores de sabonetes para nos sentirmos bem na nossa pele, felizmente. Mas não nos venham com cantigas de "gostem de vocês como são" para depois alimentarem um modelo de beleza estrito e restritivo. São um insulto para a nossa inteligência. Ponham alguém a tomar banho e pronto. Deixem-se de filosofias de pé de chinelo.

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    2. o meu aplauso a este comentário, é isto mesmo que penso, vendam só sabonetes não nos vendam mais nada :-)

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    3. Pois é, mas estas técnicas vendem tanto... Temos que pensar, separar o trigo do joio, vai dar trabalho, mas é capaz de valer a pena...

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  7. Não o apaguei porque não o queria publicado, foi sem querer, estava com os gémeos ao colo e deu nisto! podes publica-lo, porque já não o sei reescrever ;) ouço as mulheres à minha volta e não percebo porque não conseguem gostar delas próprias, eu só perdi uma omoplata, só gostava de poder ter aprendido a nadar e a andar de bicicleta na adolescência, ou poder tocar violoncelo, fazer escalada, capoeira, kung-fu ou simplesmente dançar com os dois braços no ar!(gosto muito de Walt Whitman, que posso fazer senão querer viver a vida em pleno?). Já agora: gosto muito do blog, (ainda!) não capotei, mas temos a mesma idade e estou a passar a fase que os meninos começaram escola e agora que faço depois de 3 anos em casa com eles?

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    1. Eu percebo porque é que as mulheres não conseguem gostar delas proprias. Trabalhei em publicidade e estudei algumas coisas sobre o comportamento do consumidor e a manipulação das massas, pelo marketing para fins consumistas, politicos e sociais. Somos constantemente bomardeadas (falo aqui de mulheres, mas os homens também são afectados largamente) sobre como deviamos ser. A maioria das mulheres não estão dentro desses padrões e consequentemente recebem consciente ou inconscientemente mensagens que algo do que são ou do que estão a fazer é errado. A maioria não se apercebe disso e tenta a todo o custo preeencher os requisitos, umas falham e sentem-se frustradas e voltam a tentar, outras abandonam, mas sentem-se frustradas, outras conseguem estar-se nas tintas para isso tudo, mas são muito menos do que se pensa. Muitas acham que controlam a imagem que têm delas mesmas, mas não é verdade, este mundo da blogosfera é um excelente meio para medir isto, num post apresentam-se como poderosas detentoras daquilo que são e de seguida escrevem sobre esforços para serem outra coisa. Não estou a falar de evolução, estou a falar de se quererem transformar-se naquilo que não são.
      Por mim falo também, normalmente sei onde estou a ser manipulada, mas nem sempre consigo deixar de o ser, até porque este é um processo que começa muito cedo. E, pior, continua a acontecer, tenho dois filhos pequenos que tento não dirigi-los para nenhum estéreotipo, mas a escola encaixa-os em gavetas e é muito dificil fazê-los sair desta espiral. Este fim de semana foi "este filme é para meninas", "esta brincadeira é para meninos", uma luta que apesar de me estar a correr muito mal tento levar todos os dias, meninos e meninas são capazes das mesmas coisas e de gostar dos mesmos filmes. Sendo que existem filmes que não interessam a ninguém...

      Adoro Walt Withman, apesar de me fazer muito mal. Mas é um mal que vem por bem. ;)

      Ui, eu estou ha 5, daqui a pouco 6 anos sem trabalhar e ainda não tenho uma resposta... Boa sorte !

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    2. O problema é mesmo esse, sabemos onde estamos a ser manipulados, mas é muito difícil combater constantemente contra a manada e temos que encaixar em algum lado, também temos que estar bem na pele que vivemos, gostei tanto da metáfora do Almodovar sobre a nossa pele e o ser feminino! O que somos realmente ou o que alguém nos faz(pensar)ser...
      Eu até tenho respostas para o quero fazer, a questão é o que posso realmente fazer dentro das possibilidades geográficas e financeiras... há limitações internas e há limitações externas, há que saber gerir as duas! Boa sorte para encontrares a tuas respostas!!

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    3. Sim, temos que estar bem, até porque não se vive muitas vezes. Denunciar alguns abusos da comunicação pode ajudar-nos e quem sabe ajudar a quem mais quiser ser ajudado. Abrir os olhos não pode fazer mal.
      Obrigada. E boa sorte para essa tua gestão.

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