8.2.13

No final queria ver beleza


Comprometi-me há uns dois anos comigo mesma e com a minha família, escrever a nossa história. Raízes, viagens, retornos, desilusões e anedotas.
Nos poucos meses que passo em Portugal, viajo com os meus avós à terra onde nasceram e começaram a crescer, antes de partirem para Moçambique. Encontro familiares que nem sabiamos que existiam e que passaram toda a vida em Portugal. Têm histórias antigas e mais fotografias. O que é natural em vidas mais sedentárias e tranquilas, onde não se perdem enxovais na guerra ou preciosidades sentimentais em mudanças de Continente.
Recebemos tudo como se fosse um tesouro. E de um tesouro se trata, realmente.
As conversas com os meus avós afastam-se das maleitas do corpo e vão por caminhos de crianças com bicicletas nas festas de Tomar, de beijos adolescentes trocados antes da grande viagem, de aventuras africanas com leopardos e leões à mistura. E do retorno que retardaram até onde não podiam.
Existe uma promessa de um livro para consumo doméstico, mas não sei como é que este tipo de histórias se pode dar por terminado. Como é que se edita um texto, que pode esconder um detalhe que ainda não se desvendou. Falta de tempo, encontros falhados, arquivos mal vasculhados.
Mas a trama avança e conforta.
...
Outro problema do fim desta tarefa é falar do presente. Se não o fizer de uma forma verdadeira, de que vai valer todo este esforço ? Toda esta vida ?
Não tenho muitos talentos, mas este vou mesmo precisar de o desencantar. Beleza e verdade.

As fotos são de Isadora Kosofsky e a tensão de Michael Haneke.

13 comentários:

  1. escreve , escreve ! não interessam os detalhes se para sempre ficarem caídos no esquecimento.
    Eu não sei escrever e já nem tenho avós e então se sou apaixonada pelas suas histórias as que eles me contaram ´...Fazem-me tanta falta as histórias do seu/meu passado e as que ficaram por contar , mas pior és a que já não me consigo lembrar. Por isso escreve, escreve !

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    1. Escrevo, sim, escrevo e fotografo e pesquiso e vou aos arquivos. Os meus avós maternos foram embora de Portugal aos 18 anos. E a paterna fez um ano já em terras moçambicanas. Muitas histórias que estão para trás, sou eu que as tenho descoberto com conversas com tios-avós, outros parentes e senhoras simpáticas dos arquivos distritais. Todo o detalhe conta.
      Mas não tinhas uma tia (acho que li isto algures no teu blogue) que te pode contar a vossa história ? Olha, que um detalhe leva a outro e quando dás por isso andas armada em Sherlock Homes dos tempos modernos e lusitanos.

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    2. sim!!! tenho uma tia que é de letras e que anda com essa vontade há anos, mas a Procrastinação essa grande marota...vou ter que insistir com ela, não quero que mais uma vez seja tarde demais. A minha ao Materna veio de Moçambique e sei que história da sua família também passa por lá.Aliás tenho aqui uma foto maravilhosa que depois te vou mostrar ;-)

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    3. Prepara umas perguntas e leva um lapis e um bloco de notas, vais ver que é delicioso e depois se te acontecer o mesmo que a mim, vais querer saber mais e mais e ir mais longe.
      Estou a pensar aqui se não é possivel trabalhar-se em conjunto nestas coisas, tirar duvidas, partilhar descobertas, formas de escrever uma historia com lacunas de informação pelo meio, etc.
      Veio de Moçambique ? Maravilha. Mostra, mostra !!

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  2. Carla, os últimos anos passei-os em companhia da minha mãe-avó, que me contou histórias que nem ela já lembrava bem. Eu sabia que as devia escrever mas não cheguei a fazê-lo. E ela foi-se, da noite para o dia. Era a mais velha da família, os outros já todos tinham morrido. Eu tenho a certeza que as histórias ficaram cá dentro mas tenho muita pena de não as ter arquivado melhor... Continua e não percas tempo. Essas são as histórias que fazem o mundo girar.

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    1. Tenho essa noção, sinto a importância de cada capítulo, de cada lembrança. Eu escrevo tudo, faço perguntas e até tento construir textos com o que disponho, mesmo se sei que mais tarde podem surgir detalhes, que me vão forçar a mudar quase tudo.
      Adoro este passatempo.
      Mesmo que sinta que pode nunca acabar esta verdadeira investigação em que me/nos meti, porque existe sempre alguém afastado que tem uma fotografia ou que se lembra de algo, que depois faz os meus avós lembrarem-se de outras coisas, acho que vou imprimir este ano o que já compilei, uma espécie de versão beta, para lhes dar, antes que... olha, agora não vou acabar esta frase.

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    2. :) e depois vem a tua história, que alguém continuará a escrever :)

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    3. E a pressão que isso implica ? A minha história vai ter que dar que falar, ora essa !

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    4. já está a dar que falar, agora é só continuar ;-)

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    5. Oh, não espero levar esta vida a um outro nivel, actualmente até sinto que estou num compasso de espera. Tenho que dar uma volta a isto, preciso de um shhh !

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  3. Tens todos os talentos que fazem falta aqui, não deixes de o fazer :)

    (e isto serve também para mim, que tenho tarefa semelhante por empreender)

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    1. Pois, é o que eu digo, deviamos formar um grupo de encorajamento.
      Eu comecei a tarefas ha dois anos e posso avançar-te que ando feliz da vida com o resultado, atyé agora. Mas de vez em quando paro e não mexo naquilo durante meses. Aposto que se tivesse uma claque com pompons ou um grupo a fazer a mesma coisa, estaria mais adiantada.
      Sou um animal colectivo, essa é que é essa.

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  4. Força na camioneta como se diz por aqui!!! Se passar do consumo doméstico, avisa, seria com certeza uma delícia de ler. You got what it takes.

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