2.9.12

Os postais que não te enviarei

Helena,

Tenho aqui dois postais que não te vou escrever. 
Um era para te falar das alegrias e decepções da nossa experiência perto da natureza, de como ressonámos juntos, separados apenas por um tecido do resto do mundo. De como nada aconteceu como tinha pensado. De tudo o que nos uniu, de todas as primeiras vezes que vivemos, da tenda que se partiu e que ainda por cima era emprestada, dos mosquitos e da minha capacidade inata a fantasiar com vidas que não conheço. 
Outro era para te falar como me sinto mais confortável em grandes cidades, em grandes espaços onde ninguém me conhece ou conheceu há pouco tempo, do que em salas de tias antigas que nos pegaram ao colo ainda nem sequer semanas tínhamos. Do peso do que fomos, do que o que os outros esperam de nós. De um pensamento de alguém que ainda hei-de descobrir quem é, que disse que era mais fácil e excitante viver num país com "pouca" história como o Canadá, do que no Velho Continente, onde cada esquina nos faz dobrar as costas.
Mas isso já lá vai tão longe. 

Já estou em França. Na mala vim carregada dos Agualusas e dos M. Tavares que não tive tempo de ler, para grande felicidade da minha mãe, que ficou de arranjar espaço para os livros que tive que deixar, por ora, para trás, que devorei e me devoraram nestes dois meses de Verão. 
O Verão parece ter acabado aqui em França. Esta gente é mesmo muito organizada. Terça feira começa a escola e já não há traços de férias. Os miúdos, que nunca se deitavam antes das onze, ontem foram dormir às nove depois da leitura habitual. Andamos às voltas com a "História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar". Se lhes visses os olhos muitos abertos, de cada vez que paro para aumentar o suspense. Deve ser dos papeis de mãe que mais gosto, este de contar histórias. (Quando penso que a televisão ficou com este protagonismo estes dois meses). 

Foi um prazer Helena, para o ano vai haver mais,
Carla R.

4 comentários:

  1. Foi um prazer, Carla.
    Obrigada.
    Tenho alguns postais ainda para te escrever (já deixei de me envergonhar por enviar os postais dois meses depois do fim das férias - e um dia destes retomo a série EUA 2009, vais ver). Até já!

    (quando vens a Berlim?)

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  2. O meu problema não é tanto a vergonha, mas se deixo passar muito tempo (2 dias) depois deixa-me de apetecer.

    (Olha aqui uma excelente ideia ! Deixa-me organizar uma rentrée como deve ser e dois aniversarios de arromba - 4 e 6 anos não se festeja todos os dias - e logo falaremos disso com mais detalhe).

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  3. [ruidinha de inveja]: Sinto-me a viver um namoro (de antigamente) que não é meu, como uma vizinha cusca que suspira com as declarações de amor que um namorado declama para a janela ao lado! Aceitam uma nova pen friend, ou o protocólo passa primeiro pelo dito blind date? Sim, sim sou aquela miúda chata que na praia se vem colar para ajudar a fazer o castelo na areia... Já não sou emigra mas qualquer dia volto a voar, prometo.

    Vou alí voltar para trás da cortina, cuscar uns outros tantos namoros e já volto.

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  4. Há que pensar no teu caso. Envia-me um e-mail para apanhadanacurva@gmail.com para arranjarmos um protocolo qualquer, que a estação dos blind dates por agora está em suspenso por motivos meramente geográficos.

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