25.8.12

Postal ilustrado da viagem cada vez mais a Sul



Helena marafada,

Já percebi que tens estado a viver um regresso a casa muito duro e exigente, faço por dar continuidade a esta rajada de ar lusitano, e espero assim contribuir para amenizar o impacto da tua adaptação à realidade das terras barbaras.
Cabe também, a este postal a importante missão de te alertar contra os vícios escondidos de umas férias em família alargada. Tu tem cuidado se um convite assim te aparecer pela frente, mulher, por amor da santa que tu escolheres. Aceita-o. Aceita sempre, mas toma as devidas precauções.
Rezou assim a minha semana passada, e eu sem culpa nenhuma, nem perdida, nem achada : 4 gerações da família R. seguiram o chamamento do Sul e responderam em peso, que esta dieta a figos e sardinha assada não está a ter os resultados esperados. Quatro gerações numa mesma casa, com receitas de família, outras emprestadas, filmes de férias e aniversários dos anos 80 (ninguém merece reviver, por baixo de 40°, o peso de uma adolescência nos anos 80)(ninguém), recordações de outras vidas que me confirmam que o paraíso não é lugar para mim, algumas divergências logísticas geracionais sem a importância que dei na altura e 4 crianças particularmente imunes à moleza do calor e do pós refeição - serão humanos ?
As sessões que Freud inventou, com o recurso aos sonhos (quem me dera), comparada com a minha experiência da semana passada é fichinha. Soube de tudo o que queria e não queria, descobri em mim uma vontade de dormir a sesta que não conhecia desde o nascimento do meu segundo filho, e mais uma vez constatei que a experiência de vida nem sempre é um posto. A ser mal utilizada pode mesmo ser um empecilho. 
Anda tudo trocado, as rugas são o melhor que o tempo nos pode dar, esquece os óculos de sol, com as rugas o teu rosto modifica-se e fica mais bonit. O tédio que seria olhar todos os anos para a mesma cara.  Mas a inexperiência dos 3, 5 anos, essa é que é de louvar e guardar. Não são os cremes que nos podem salvar, é a falta de juízo ou em casos extremos, um copo de bom vinho, ou uma garrafa inteira de vinho médio. Ora, mau vinho, se fresquinho também pode-nos valer, se for branco, verde ou rosé.
Os copos de vinho verde (claro que era branco) que bebemos juntas foram um dos melhores tesouros que partilhamos. A sorte que tivemos em os ter bebido ! O azar que tivemos por não os termos ainda mais repetido. 
Hoje vou beber a ti e ao nosso pouco tino. Vai ser verde. Verde branco.

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