Mãe ave rara

Existem aves raras que acompanham como lapas os primeiros anos de vida das crias, não os confiam a ninguém. Excepto eventualmente aos pais, quando raros eles também.

Adquirem o hábito de estarem coladas aos filhos por panos, e para todo o lado para onde vão, os filhos estão por perto. Existem zoólogos que questionam para que raio aquela mãe deu à luz, se depois continuam naquele disparate fusional.

Dizer que a vida dessas aves muda, depois de terem sido assomadas pela maternidade, é um eufemismo. Depois de ter filhos, essa ave rara não é sequer reconhecida pelos próximos. Literários evocam Kafka, os zoólogos falam de um travestismo de espécie e felicitam-se por se tratar de um caso raro. E muito confuso.

Quando os filhos começam a ser independentes, a andar, a falar, a voar, as mães aves raras apercebem-se que ainda têm asas. E querem também elas voar. Mas ficam naquele impasse, será que ainda sei fazer ? Salto ou não salto ? Estas aves raras, antes do salto final, passam ali por um período bastante patético.

As mães aves raras não pensam aí, tomara que o tempo páre ou volte para trás, elas ganham penas ao verem as conquistas dos filhos, ao verem que estão a ganhar mundo e ao ver que o presente já tem muito de futuro. A mãe ave rara protege os filhos, não é completamente louca, mas acima de tudo quer prepará-los para viverem e pensarem por eles, e por isso, nem sequer fica triste quando eles erram. 
As mães aves raras o que mais querem ver, é as asas dos filhos a voar.
Não é raro ouvirem, vê-se mesmo que são teus filhos, e esta é a parte de vaidade egocêntrica a que a mãe ave rara se permite.