7.6.12

Parva


Tenho andado para aqui a falhar. Falhei na minha evolução espiritual. Faltei às aulas de zumba. Falhei no meu trabalho abdominal. Respiro, vivo com o homem que escolhi, tenho filhos maravilhosos, e nunca me passou pela cabeça cantar "the hills are alive" enquanto corro com os braços abertos e um sorriso sincero. Tantas oportunidades que tive para o fazer. Tantas. Não tenho problemas de dinheiro, não tenho que trabalhar, não tenho restrições, nem preconceitos, nem doenças e não sou plenamente feliz. Escolhi antes ser parva.
Estudei como se devia, trabalhei como convinha e sai do sistema porque sim. Tenho liberdade e as minhas pernas não se habituam a isso. Preferem sentar-se, preferem queixar-se, preferem viver assim-assim. Sou uma galinha de aviário que teve a sorte de entrar numa quinta bio e em vez de correr, senta-se num canto.
Não há mistério. Não há segredos. Sou parva. Tenho mesmo muitos dias parvos. O que é normal, tendo em vista aquilo que sou.
Não respeito as minhas obrigações interplanetárias. Tenho dias em que nem sequer faço a reciclagem. Como animais, bebo o leite dos vitelos, interiormente sou vegetariana, mas na prática mordo bifes de vaca. Em sangue.
Não gosto de touradas, nunca me manifestei. Não gosto do estado do Estado, nunca me revoltei. Não concordo com o que se passa e a única coisa que faço é conversar no café e escrever textinhos num blogue. Parva. Sei perfeitamente que me devia abster de escrever quando estou com a menstruação e não o faço. Maxi-archi-parva.


19 comentários:

  1. Lá estás tu outra vez ! Olha que pelo que tenho lido ultimamente não me tem parecido que não tenhas pernas (e asas) para aproveitar a liberdade que tens. Parva sou eu, que num feriado estou a trabalhar, em vez de aproveitar enquanto não acabam com ele.

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  2. Tivesses ido às aulas de zumba, e este post não te acontecia...
    ;-)

    (Sou parvíssima: ultimamente, além de comer carne, ainda a cozinho mal. Mal aproveitados bichinhos.)

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  3. Parva não, por favor! Gostei muito do seu blog e já respondi ao comment :-)
    Bjos,
    Sofia

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  4. Tenho dias, tenho dias...

    Eu sabia que desprezar a zumba me sairia caro, nunca pensei que fosse assim tão inflacionado. Pobres bichinhos !

    Obrigada, obrigada pelo beijinho. Olha, outro para ti.

    Oh sim, parva ! Quando não se aproveita o que se tem, quando não se vive como se quer, não temos há palavra a usar. Não há volta a dar, não há mal em chamar as coisas pelo nome. Mas é verdade que também sei ser fofinha.

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  5. :-) sorriso de cumplicidade
    É comum que em época de relatos menos afirmativos e mais vuneráveis qualquer kaputada atribui as culpas à tensão pré mestrual, contudo, cara carla, o que descreve é tão, mas tão próximo da realidade de uma amiga minha (nunca se deve falar em nome próprio, é sempre uma amiga ou conhecida) que eu acho que deveriam conhecer-se. Aliás, tal como no seu post anterior, também ela procura saber que determinação, financiamento e jogo de cintura acrescentar para situar a sua vida onde ela gostava de a ver (relativamente alta). Pois bem, eu, talvez porque esteja de fora ;-), acho que a questão é complicada, e no caso desta minha amiga tem a ver com um factor aqui ainda não mensionado o factor: bajulação.
    Ou seja, aquela necessidade de que alguém precise de nós, que valorise a nossa inteligencia e pró-actividade (que já sentimos outrora) e neste factor não entram as bajulações dos filhos, companheiros e/ou família! É uma sensação de desperdício, como se uma entidade externa, que ainda não tivémos a oportunidade de privar, não nos aproveitasse.
    Pois bem Carla, sinceramente acho-a desperdiçada, quero-lhe dizer que por mim está contratada, quero-a na minha equipa já! Seguramente seremos uma grande empresa de parvas, vamos lá agora descobrir o nosso target, missão, objectivos e clientes.

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  6. Se eu fosse alguém com mesmo muita coragem, agora fazia aqui um post sobre a evolução do meu tricot e das duas uma, ou conseguias ver arte naquilo, o que apenas demonstrava que és uma mente aberta e efectivamente estava empregada e começariamos a esmiuçar o contrato de trabalho ou nunca mais aqui virias, pois conseguirias ver a que ponto vai o desiquilibrio manual humano. A ver se faço uma foto um dia destes. Depois falamos.

    Quanto à questão do desperdício e da bajulação : Acho mesmo que há aqui desperdício, acho. A minha normalmente alta auto-estima está farta de mo dizer. E realmente preciso de atingir objectivos (não é tanto a bajulação é mais um sentimento de conseguir ultrapassar metas). A ideia da empresa de parvas agrada-me mais do que muito provavelmente possas imaginar. Se me der para esse lado, vou pensar nesse projecto com carinho este fim de semana. Prometo que vou.

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  7. Não sei se te contrataria pelo teu tricot, mas deixaste-me curiosa e "mente aberta" é sem dúvida uma das minhas características, misturada com umas outras mil qualidades desperdiçadas em mim. (desculpem mas o bicho da humildade ainda não me picou)

    "PARVAS entrepreneurs" será seguramente uma grande aposta! Será este o tal "nicho de mercado" que ainda ninguém descobriu? Fico a aguardar essa tua promessa, ou melhor, vou transmitir isso à minha amiga.

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  8. Vai comer um croissant que te faz melhor.

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  9. Que andam por ai nichos de mercado a voar, isso andam...

    Já me está a passar, mas não foi graças a um croissant. Ainda para mais está quase na hora do appéro !!

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  10. Adorei. Adoro momento de hiper-realidade.

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  11. Um abraço. Não, um beijo. Um beijo na boca, que é assim a forma que tenho de te dizer: I Know what you mean. Oh, se sei e até o diria em francês, se conseguisse (quando é que eu vou aprender alemão, ou russo, se nem francês sei). Parva, também eu.

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  12. E momentos de hyper realidade feliz, Dora, também acreditas e adoras ?

    Aceito e retribuo beijos na boca, Calita, para te dizer a verdade, são os meus preferidos quando são do coração.
    Agora, dizer parva em francês... tu que és do norte deverás gostar, diz-se "conne". Verdade. Achas normal ?

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  13. Adorei este texto. Adorei! Não és parva. Deve haver um nome para pessoas como nós, mas não é parvo, concerteza ;)

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  14. Eu gosto da palavra parva, parvinha, parvoice, parvalheira. Confesso que gosto, não vejo mal...

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  15. E como gostei, partilhei ;)
    http://diademae.blogspot.pt/2012/06/nao-e-parva-nao-senhor.html

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  16. Bonito serviço, agora vai toda a gente ficar a saber que eu sou parva.
    ;)

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  17. Olha e já mais duas "parvas" como tu (três, comigo) me disseram que gostaram muito do texto :)

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