24.5.12

Infringir a lei (parte 2)

Ontem infringi a lei portuguesa e incitei-vos a fazê-lo também. Até agora, vivo impune. Como previsto, aliás. Estava vestida com um colarinho branco. Eu penso nas coisas, e na indumentária, antes de me lançar na criminalidade, ao contrário do que às vezes possa parecer.
Infringi a lei, e gostei do frisson, do frou frou, do ui,ui! de ultrapassar os limites do que é legal, pelo que hoje decidi ir mais longe, e revelar-vos o terrível segredo que todos os estrangeiros, que vivem em Paris ad eternum, devem guardar.
Os nossos amigos e turistas que cruzamos nos Champs Elysées não calculam pelo que passamos. E tudo, para não lhes desvendarmos o que sabemos. Existem estigmas horríveis derivados desta verdade escondida. Já houve casos assinalados no passado, de homens a quem uma parte do meio dos cabelos de trás, teimam em crescer sempre, por muito que os cortassem. Outros houve, que se viram forçados a ouvir músicas inimagináveis para suportarem melhor a dor. Arranjaram uma dor maior. De tal forma, este caso é grave, que se transformou numa epidemia. Verificou-se nas terras de origem dos emigrados, um aumento de vendas fortíssimo de discos que não foram inicialmente feitos, sequer, para ser ouvidos. Houve tabelas de vendas que, inclusivé, ostentaram os ditos no topo. Vocês, desse lado, não podem calcular o que isto é. Não podem.
Existe um complot.
E, hoje, eu estou por tudo.

Por acaso, nunca vos passou pela cabeça que era estranho que sempre que um português fosse passar férias em Paris, independentemente do mês ou estação, estivesse sempre a chover ? Sempre. Não vos pareceu estranho ? Porque razão os franceses continuariam a insistir em viver ali, porque razão não emigrariam eles ? Os franceses ?  Em busca de melhor clima e mais vitamina ?

A verdade, como sempre, é simples - é tudo de propósito.
Tudo feito para evitar que mais estrangeiros emigrem. Quando chove, em Paris, já sabemos, houve mais um discurso do PM na televisão. Mais uns portugueses que querem aqui entrar. Ultimamente tem chovido muito, comentavam ontem umas velhinhas no café. E eu ali, a fingir que não estava a perceber. Aqueles meus ares de tola em acção.
Mas isto é apenas o início. A música, por exemplo. Nunca acharam estranho que há anos e anos que é sempre a mesma coisa ? Uma miuda gira, dois acordes, uma vozinha pequenina que não lembra a ninguém. E isto a exportar a torto e a direito. Quem vai querer viver num país assim ?

Esta é uma estratégia que nem sempre é infalível porém, às vezes, enganam-se redondamente e sai-lhes o tiro pela culatra.
Estou-me a referir, por exemplo, à táctica do salto alto. Muito se elogiou por estas bandas a estratégia que aliou haute couture e tortura. Se eles pensarem que andamos todos em sapatos impossíveis, que estragam a coluna, impossibilitam as mulheres de correrem depressa, ou de pensarem ao mesmo tempo que andam, vai-lhes parecer completamente inconcebível de viver num pais assim. Ah ! Ah ! Ah ! pensavam eles. Enganaram-se desta vez. Não apenas grande parte do mundo adoptou esta bizarria, como muitos viraram viciados, querem mais e mais, e sempre mais. E por muito que viajem, e entrem por Paris adentro e vejam todas as parisienses em sabrinas, pois teimam em fotografar e anotar pés de outros turistas, que passam por parisienses e a estranheza aumenta. Para grande humilhação dos estrategas da emigração.
Não se pode ganhar sempre.

Por hoje, mostro-vos o que realmente se ouve em Paris - o Damien. O vídeo é peculiar, como apenas o verdadeiro humor parisiense pode ser. Não é snobismo, eles são mesmo assim. Se vos interessar, logo vos desvendo mais mistérios, temos material para um blogue inteiro. Nem queiram saber do que esta gente é capaz.



Não é giro o papagaio, hein ?

7 comentários:

  1. Não consigo ver o vídeo, porque estou a usar o magalhães (sim, esse computador) derivado à avaria do meu, mas parece-me, só pelas letras, que andas a correr riscos. Ai, andas, andas!

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  2. Eu de facto nem imagino do que são capazes, mas gostei da amostra:)

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  3. Sem som neste computador, mas a imagem já apela à solidariedade de qualquer outra ave. E não te preocupes: se fores presa, vou visitar-te e levo-te um de ló com uma lima lá dentro.

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  4. Calita, vê, faz o que for preciso, vê ! Quando me fores visitar à prisão leva-me panados e pasteis de bacalhau, tanta coisa, tanta coisa, e nunca me fizeste provar nada (shots de vodka não contam, como deves calcular)

    Idamamalis, é não é ? E gosto, ainda por cima, estou para aqui a falar, mas gosto, neste momento estou a escrever e a ouvir e ninguém me obriga.

    G-ticopei, hei-de voltar à carga, stay tunned !

    Gralha, coloca ai o som a fundo, muda tudo. Oh ! E o pão de lo és tu que o vais fazer, caseirinho ? Emocionas-me muito com este apoio, sabes ? Não é a primeira vez que te ofereces para me ajudar (Guadeloupe) e , olha que estas coisas eu não esqueço.

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  5. Já consegui ver - aquele papagaio, de facto...e ouvir, também. É um bocado viciante. Fiquei com pena de saber tão pouco francês, porque de repente ia jurar que se tratava de uma publicidade às chiclas (pastilhas, chicletes, whatever) tic tac, tipo, mastigas aquilo e ficas com um traseiro assim...

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  6. Ahahahaha (isto é uma gargalhada sonora, ainda não sei escrever melhor, mas ando a trabalhar no assunto). Vou experimentar as pastilhas, pelo sim, pelo não.
    Este Damien tem muito que se lhe diga, a letra é pueril, parece que foi escrita por um adolescente que quer ser engatado, é o tal do segundo grau de interpretação. Ou amas ou detestas. Eu tenho dias.

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