9.3.11

A mãe que capotou - modo de utilização

Em grande plano uma jovem mãe despenteada a tentar, não sem extrema dificuldade, desembaraçar-se de um enorme pano laranja, choros agudos e ensurdecedores de um recém-nascido durante toda a cena. Assim : BBuuuuuaá ! AAaaaaaá  !
A mulher desiste, deixa o pano onde ele quer ficar e amamenta o recém nascido, tal e qual. A cena passa-se na entrada de um museu a abarrotar, há japoneses a fotografar de longe. A mãe fica a olhar para a criança e a respirar fundo.
Imagino Michel Gondry como realizador e a mãe pode ser interpretada por um Jack Nicholson, com peruca, e tal qual como era em 1980. O japonês pode ser o da, felizmente, extinta série Duarte e Companhia.

Nesta altura estava a fundo no conceito "maternidade de proximidade", fazia o sinal da cruz a pensamentos-choque como "tratar o bébé como um caníbal que nos vai comer e que deve ser afastado a todo o custo", escolhi amamentar em vez de ferver biberons, usar o tal pano (mesmo os slings pareciam-me demasiado tecnológicos) em vez de carrinhos, o bébé dormia ao colo ou no nosso quarto em vez de passar as noites num quarto à parte, bani todas as ideias de aranhas e parques. Não optei por um parto natural, mas estive réz-fez-campo-de-Ourique.

O essencial para o sucesso do meu capotamento, e foi um essencial um bocadinho gigante com o qual não tinha contado, é que no processo há a forte probabilidade de nos esquecermos de nós. E foi nesta curva que derrapei e tornei-me oficialmente capotada. Badaboum !

4 anos e outra gravidez passados, e continuo sem dormir à noite, despenteada e a falar de bébés. O meio termo (ainda) não se encontra neste blogue. Mas uma investigação séria começou. Ja não estou tão capotada, estou assim de lado, tenho tempo para mim e projectos para o futuro.
Mas afinal, como é que devia ter feito as coisas ? Onde morava o limite das boas intenções ?

Allô ??!! Quantas esquecidas-de-si há/houve desse lado ?

26 comentários:

  1. Olá!
    Embarquei nas tuas palavras e revi-me! Temo que me esqueça de mim também! Confesso que o faço muitas e muitas vezes, sem sequer me dar conta.
    No entanto, gosto mais de pensar que não somos esquecidas de nós. Simplesmente somo atarefadas para os outros porque é assim que escolhemos ficar repletas por dentro. E é tão bom...urge é criar rotinas e formas de estar em que existam momentos só para nós...a tentar!

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  2. Eu estou a trabalhar (embora não pareça, porque ando por aqui, n'é?), e tu a desafiares-me?!

    Bem.
    Não estou em casa, acumulo tarefas, já não há fraldas cá em casa há 6 ou 7 anos, mas ainda há birras, teimosias, festas de anos de amigos e outras actividades parecidas, que nos obrigam a por as nossas vontades em 2ºplano.
    Sim. Isso também é esquecer-me de mim...

    Para perceberes um pouco o meu "desleixo" ransporto diariamente 3 batons, um de cada tom, na mala e nunca os uso! Vão para o lixo por estarem fora de validade e com um sabor estranho...

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  3. Eu também ando por aí... estou no 3º filho, felizmente já durmo de noite mas passei um mau bocado. Só agora começo a olhar para mim e o próximo passo é olhar para o meu maridinho, que tem tido uma paciência de santo!!!! Vou, pela 1ª vez em quase 9 anos passar 5 dias sem filhos. Não sei como vou sobreviver....

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  4. Rosalia - Durante algum tempo eu esqueci-me completamente de mim, não tinha nem sequer tempo para tomar banho, quanto mais de tratar de questões metafisico-existenciais. Agora gosto de pensar que estou numa via algures entre o ser mãe e o ser eu. Não sei se passa por rotinas, ou por estados de espirito. Ou simplesmente inteliência de saber escutar, não apenas os outros mas também nos mesmas. Que zen que isto saiu agora...

    SofiAlgarvia - Também é esquecer, sim... ser mãe envolve sempre às vezes esquecer-se de si. Ou não. Lembrar-se de si, ao pensar nos outros, como disse a Rosalia. Oh ! Porque é que não nascemos Super Mulheres ! Ha-de haver um equilibrio ! Ha-de haver espaço e tempo para se estabelecer as prioridades. Ficas bem sem batôn ;)

    Rainha Mãe - Primeiros 5 dias em 9 anos sem os filhos ? E depois eu é que sou a capotada ?? O que é que o maridinho fez ou suportou para merecer esse titulo ?

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  5. nope.
    Quer dizer: eu acho que continuei a fazer a minha vidinha, mas as minhas amigas acham que sou uma mãe 100% atenta aos filhos.
    Se calhar o truque é não reparar que se capotou...

    Em todo o caso: nunca senti que os filhos me estivessem a roubar de mim própria. Faz tudo parte da minha vida. Mas eles dormiam bem (quase sempre), aceitavam estar na cama calados e quietos a partir das oito da noite, brincavam muito sozinhos. E bem me lembro de como os deixava na creche para ir descansar para o trabalho, almoçar com os amigos, tratar de ser feliz. As pessoas à volta criticavam-me muito, mas eu quero lá saber!
    Um princípio importante na nossa vida familiar era este: distribuição equitativa da felicidade.

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  6. Epaaa ! Ninguém diz nada sobre a minha sugestão do Jack Nicholson ??? Mau !

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  7. Helena - E sabes o que é pior ? é que a mim o que me "criticam" é por estar demasiado tempo em casa e não ter o tempo suficiente para mim, como se todos os que me rodeiam estivessem mais à frente do que eu mesma. Aqui a austolopiteca sou eu !
    O minusculo, às vezes, fica numa espécie de creche que foi criada exactamente para as crianças que têm mães ou amas em casa. E quando o vou buscar ha sempre alguém que me pergunta "Então, aproveitou o tempo livre?" e eu saio de la, sorrisinho latino-amarelo, minusculo feliz da vida ao colo, a pensar que não, ainda não estou suficientemente madura, para conseguir pensar MESMO em mim. Mas ha esperança, estou consciente, tem havido progressos imensos.
    Distribuição equitativa da felicidade, vou fazer uma tatuagem com esta frase. Ou um postal.

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  8. Presente. No mês que vem nasce o terceiro e parece mais fácil, agora, lembrar-me de não me esquecer de mim, mesmo assim...só de pensar nos meses que faltam para beber o vinho que me apetecer fico deprimida.

    O jack Nicholson tem a sua pinta e em 1980 era ainda melhor com aquele ar tresloucado, mas por muito que tente não o imagino a amamentar.

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  9. recém-mamã, parto natural, bebé a dormir no nosso quarto e alimentado a leite materno.
    hoje é um bom dia para este post. hoje consegui inventar uns minutinhos e sequei o cabelo com o secador. mesmo. com o se-ca-dor! está limpo e com ar normal. sinto-me nas nuvens...
    ...se capotei? pois, não sei. mas algo me diz que sim...

    Ps: secar o cabelo conta como "tempo para mim"?

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  10. eu estava a ler mais post deste fantastico "lugar" eis que chega o meu filho com uma mantinha e aconchega-me com ela e diz:" é para tu ficar quentinha", Meu Deus, sinto-me abençoada. Estes momentos são felicidade pura. E porque a felicidade para ser vivida deve ser partilhada não podia deixar de vos dizer.
    Eduarda
    Eduarda

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  11. mãe capotada,
    é a história do velho, o rapaz e o burro. Independentemente do que faças, vai haver sempre quem diga alguma coisa. Mas não lhes dês ouvidos: ninguém é dono do teu centro.

    Como dizia a outra (a malcriada): "relaxa e goza". E: caminhante não há caminho, faz-se caminho ao andar.

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  12. Aqui está mais uma esquecida-de-si!
    Capotei verdadeiramente quando dava mama a um e tinha o outro em cima das minhas pernas, a galopar. Desde então que não consigo reequilibrar-me. Esqueci-me de mim, tanto mas tanto que um amigo meu me disse que estava com um ar desleixado porque estava com muitos cabelos brancos (adoro os meus amigos gays, sempre tão atentos à imagem e sempre tão sinceros...) e tanto mas tanto que há um mês que não tenho um livro em cima da minha mesa de cabeceira.
    Não é que os meus filhos me roubem de mim própria, é mais eu que não sei gerir o tempo e sobretudo as emoções. Ainda não cresci o suficiente para a distribuição equitativa da felicidade e é uma pena.

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  13. ai! os livros!
    Do que se foram lembrar...
    O livro que andei a ler depois de nascer o meu segundo filho foi "o leitor", do Bernhard Schlink. Lembro-me perfeitamente: tem uns capítulos curtinhos, óptimos para ler um por noite, cinco minutos de leitura antes de cair para o lado.

    Se olho agora para trás, acho que nós (os pais) fizemos bastante questão de afirmar "eu também existo!" - mas não sei se isso provocou traumas nos miúdos.
    Dois exemplos: a partir das oito da noite, o mais tardar, não queríamos fitas no quarto deles. O pai ia ao quarto, e dizia "o teu dia acabou, agora é a tua hora de dormir e de nós termos tempo para nós". E eles percebiam (com meia dúzia de meses já percebiam - não me perguntem como é que funciona, parecia-me sempre magia). Agora, curiosamente, esse limite passou para as dez da noite. Se eles saem do quarto para me dizer alguma coisa, fico furiosa.
    Também deixávamos quatro ou cinco chupetas na caminha deles. Se choravam durante a noite, nós, da nossa cama, gritávamos "procura a chupeta!" e ouvíamos a mãozinha que procurava, o barulho do vácuo quando a chupeta se agarra à boca, "ufff! desta já escapámos".
    Bom, outras noites havia em que tínhamos mesmo de nos levantar: quando eles acordavam aterrorizados com um sonho, ou estavam doentes (mesmo quando estavam doentes, o meu marido não gostava nada que viessem para a nossa cama). Ou aquela em que não sei que lhes deu, puseram-se a brincar com barbies a meio da noite...

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  14. Quando nasceu o meu primeiro filho, de cesariana electiva e alimentado a leite materno até ao 4.º mês, não capotei. Ele ficou em casa com o pai até aos 3 anos e eu fui trabalhar. Às vezs sentia-me uma "intrusa" quando chegava a casa, passava tudo rápido, o tempo tão rápido, ele a crescer tão rápido, eu um nadinha aterrorizada, sem saber muito bem se "era suposto" ser assim, a sentir-me ao lado do que esperavam de mim, quase sempre. Agora está prestes a nascer o meu segundo filho, vou ficar em casa com ele por tempo indeterminado porque vou ficar desempregada, fica o pai a trabalhar e não deixo de o sentir como uma "segunda chance".
    Desculpa, isto parece/é mais um desabafo do que uma resposta...
    Tânia

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  15. Calita - Se eu te disser que quando estava gravida pela primeira vez tive que ir a uma degustação de vinhos de luxo por questões profissionais, e que a minha grande duvida foi agua com gaz ou sem gaz ... duro ! duro ! May the force be with you !

    Mané - Sobreviveste !!! E ja consegues tempo para ti (sim, conta!) das duas três, ou o teu bébé é um anjo ou os meus foram uns monstros ou eu não percebo nada disto.

    Eduarda - :)

    Mas Helena, mas Helena - E se os outros tiverem razão. E sim, eu ouço-os, faço depois uma filtragem, mas ouço-os, ja houve tantas vezes que os outros tiveram razão. Oh, god ! e agora quem é esta malcriada, como fazer uma pesquisa google com estes dados ? oh, vida ! Quanto aos livros, não leio mais porque não quero, em vez de estar aqui, podia estar la. Nem tudo é culpa dos minusculos (ja foi)(mas ja não é). E, quanto aos teus métodos, continuo a pensar que ha alguma magia nisto tudo... e que casos são casos e eu tive um inicio de maternidade Red Alert. Mas bom, cada um tem o que merece, ja dizia o outro (quem?). As chupetas na cama chegaram a ser 8 !! Ela precisava de uma na boca, outra na mão e outra perto do nariz... As suplentes eram flourescentes e ... tinhamos que nos levantar na mesma ... ggggrrrrr !!!

    Tella - Vamos dar as mãos e crescer juntas. Deve haver no youtube algures um filme de duas mães de mãos dadas a aminhar nas nuvens com ar esperançado enquanto de castelos de cubos multicolores ruem, com um arranjo coral de uma musiquinha dos U2 como som de fundo. Vou procurar.

    Tânia - Segunda chance. Hé !Hé !Hé ! Depois passa por aqui a dar noticias, sim ?

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  16. Há fases em que me sinto à beira de um ataque de nervos ou à beira de um sério capotamento ou numa espécie de ninho de cucos (ou gaiola das malucas).
    Há outras fases que vou deixando a vida correr, sem pensar muito (eis o grande segredo ou grande truque) e até começo a acreditar que estou a fazer um bom trabalho.

    Agora estou na fase miserável, a achar que me estou a perder completamente e que não me voltarei a encontrar.
    demasiado dramático? Experimenta ires a caminho do 4º
    :)

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  17. Duchess - Não pensar muito pode ser a solução, mas é tão dificil. Lembro-me de como detestava a parte da meditação quando andava no Yoga. Parecia que o cérebro fazia de proposito e que era nessa altura que se metia a funcionar em Turbo mode. E sim, tu com o 4° filho vais ter direito a tempo de antena neste blog, prevejo algo como "Duchess capotada explica como bater com a cabeça nas paredes sem ficar com mossa". Va, beijinhos, you can do it, yes, you can !

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  18. Vai ser mais "Duchess desaparecida desde...".

    Não pensar também tem fases. Há alturas que é praticamente impossível. Mas entretanto crias um mundo fantástico, dedicas-te ao ópio do povo, mas de um povo mais evoluído - vulgo, leitura de blogs e passeatas pelo fb, e esqueces que a vida lá fora está prestes a ruir!


    Ai que No I can't!!!

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  19. Duchess - Nesse caso, foge enquanto podes !
    Não vai ruir coissisima nenhuma, tens uma familia linda, és gira, engraçada, e altamente reprodutora, ok, um bocadinho dada ao drama, mas fa-lo sempre com estilo e isso vai-te safar. Daqui a uns anos, quando estiveres gravida do teu 7° ainda nos vamos rir muito disto.

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  20. Olha para mim! Esquecida?!!! De quem?!!! De mim? ...Mas eu existo? Estou a brincar! Mais/ menos... Sou a mãe do M..., a mulher M...pai, filha da/do ..., a amiga da/o..., a vizinha da... e por aí adiante, mas o eu Eduarda tem dias que nem me lembro de mim. Desde que Manel nasceu tenho devorado livros (agora tenho parado um pouco) acerca de criança e seu desenvolvimento, entre outros: os livros de Eduardo Sá e o "Como falar para o seu filho ouvir e como ouvir para o seu filho falar" de Adele Faber e Elaine Mazlish (fantastico). Desde o ano passado decidi dar a volta por cima e virar a minha vida,tenho tido mais calma, acreditado mais, stressar menos e lido umas "coisas" interessantes, tais como:"As terças com Morrie" de Mictch Albom, "Fuck it" de Jonn C. Parkin, e com o livro "Projecto Felicidade" de Gretchen Rubin, olhei de forma diferente para o conceito "Felicidade" e procuro ler mais acerca ser feliz e psicologia positiva (não não é olhar para a vida como um idiota passivo). Os livros do Tal Ben-Shahar (ensina Psicologia positiva em Harvard) fantasticos.Objectivos pessoais até já tenho: Escrever um livro para crianças (audacia minha)e exercer em par time como mediadora de conflitos (minha especializaçao academica),mas não passam de metas a atingir. Não por culpa do meu filho, mas por falta de organizaçao, de tempo, falta de confiança em mim e nos outros, às vezes autoestima duvidosa e as outras vezes porque chove e outras tantas porque faz sol... Mas eu sei que um dia chego lá!
    Desculpa, Mae que caputou, mas eu tb adoro falar e desta vez exagerei. Desculpa.
    Bj
    Eduarda
    Eduarda

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  21. Eu tive um pequeno diabrete egoísta a gritar por liberdade dentro de mim ao fim de um mês de parida. Acho que nunca cheguei a capotar completamente, passei apenas a ser um semi-reboque daqueles com placa a dizer 'veiculo longo'. Se tivesse mais filhos, tornava-me comboio de mercadorias.
    A questão é: o que interessa é conseguir reencontrar o equilíbrio quando lhe sentimos a falta. Mainada.

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  22. Já agora, uma questão importante. Quando tive a minha depressão pós-parto percebi como é ESSENCIAL para os filhos que as mães estejam bem. Nunca mais quero que eles tenham uma mãe esfrangalhada, merecem uma mãe de bem com a vida.
    (e qual era o mal do Duarte & Ca.???)

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  23. Desculpem, mas vou fazer um pequeno sermão:
    Hoje li um texto com o qual me identifiquei tanto que pus no meu blogue: "nada é só bom"
    http://conversa2.blogspot.com/2011/03/nada-e-so-bom.html

    Acho que é isso aí: a vida não é perfeita, e não vale a pena chorar a imperfeição como se isso fosse uma anormalidade. É o que temos, há que vivê-la.

    Olhem para o exemplo da Tânia: fez a experiência da maternidade sem ir ao fundo da experiência da maternidade, e sentiu que estava a perder alguma coisa. (Tânia: força! boa sorte! vai ser com certeza um capotamento lindo, porque nasce de um desejo de atravessar realmente essa fase.)

    Lembremo-nos que esta é a fase mais rica da nossa vida. Nunca mais seremos tão bonitas e saudáveis, nem teremos tanta energia para responder a todos os apelos que nos fazem. Nunca mais faremos tantas descobertas, nomeadamente a descoberta do melhor de nós próprias (eu acho que os filhos nos fazem renascer, com aquele seu olhar que nos atravessa e questiona: "quem és tu? porque estás a fazer isso?").
    Toca a aproveitar, que daqui a nada eles chegam à adolescência e nós vamo-nos tornar velhotas botas-de-elástico, feiosas, chatas, sem a menor ideia de como é a vida e sobretudo de como nos devemos comportar em público.

    Para o resto, o que nos faz infelizes: meio caminho andado é perceber o que se está a passar e o que nos incomoda (e esse é um dos grandes valores acrescentados deste blogue). Depois, ver como mudar.
    Sou grande adepta das "conferências familiares": pôr o problema na mesa, e tentar entre todos encontrar uma solução. Já funciona com crianças de um ano, desde que elas sintam que estão a participar na vida da família.

    Finalmente, um pequeno comentário sobre as mães terem o que merecem: não é verdade.
    Nem a brincar. Este é um jogo com demasiadas variáveis, não permite chegar a essa conclusão. E todas as que têm mais de um filho sabem isso: eles são tão diferentes, que a "culpa" da mãe deve ser um factor residual...

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  24. Lembrei-me de mim há pouco tempo. Aliás, estou a lembrar. Vou lembrando... Acordei. Ou não, ou não.

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  25. Cá volto eu à carga: outro dia, a minha filha de quase 17 anos disse-me que o que mais gosta, quando lhe dou roupa minha, é a roupa ter o meu cheiro.
    Fiquei tão comovida que até lhe perdoei aquela noite das barbies...
    Querem amor mais visceral, mais animal que isto?
    A propósito destes laços que se vão enraizando até ao mais fundo de nós-família enquanto passamos as noites acordadas e nos parece que estamos a ficar pelo caminho, ponho mais um link da Eliane Brum:
    http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI210923-15230,00-A+MELHOR+PIOR+PRAIA+DO+MUNDO.html
    Comoveu-me muito.

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  26. Se eu não tivesse capotado à primeira, não tinha seguido até ao quarto.
    Mas sim, gostava de me esquecer menos de mim.

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