Começamos a andar pela Índia.
Por Tamil Nadu. De Chennai a Pondichery. A Thanjavur.
Aprendemos que os passeios para os peões são um conceito teórico, sobretudo de noite. Não são iluminados, têm buracos, cães a dormir. Ou simplesmente não existem. Andamos na rua como todos. Como as motos, as pessoas de varias castas que não sabemos identificar, as bicicletas, os ricshaws motorizados e os raros que ainda são a bicicleta, os carros, os autocarros, as vacas e as cabras. Todos juntos. Uns com buzinas, outros a ouvi-las.
Chegamos a Thanjavur no final do dia, saímos de 5 horas de um autocarro verde às riscas, mais antigo do que qualquer um de nos. No caminho vimos um lago onde procuravam um homem desaparecido depois de ter sido atacado por um crocodilo, vimos crianças de uniforme a escalar árvores à saída da escola, uma vaca que não queria sair do nosso caminho, um terminal de autocarros onde só havia uma casa de banho para os homens. Cartazes de prevenção rodoviária onde se vê uma foto com três pessoas com o sinal de errado e outra com dois com capacete com o sinal certo, no caminho devemos ter visto 5 pessoas com capacete, e umas trezentas motas com cinco pessoas em cima, incluindo bebés adormecidos, sem capacetes, evidentemente. As frases são escritas assim, sem folêgo, porque é também assim que o que conto tem sido vivido. Não é apenas falta de jeito, desta vez. E vimos templos multicolores com Shiva, Vishnu, Ganesh, Brahama, o famoso rei macaco e outros deuses que ainda não sabemos distinguir.
Apercebi-me hoje que os meus filhos pensavam que eram historias para crianças, porque no ano passado lhes li livros da biblioteca infantil onde se explicava a historia de alguns deuses hindus. O grande preferido é o Rei macaco que se torna em gigante, multiplica-se, pode dar um salto até ao céu. O super-herói por excelência. Querem ser abençoados por ele, agora que sabem que é assim que funciona. Adaptam-se, mesmo quando a realidade é mais surpreendente do que julgavam ser possivel. Ainda são jovens. Ainda vão sendo meus.
Mas até agora foi num templo de Ganesh que receberam a promessa de longa vida, sob a forma de uma marca branca na testa. Um homem com cabeça de elefante também pode ser. Adaptam-se outra e outra vez.
No final do dia olhamo-nos no espelho, caminhamos o dia inteiro com uma marca branca no meio da testa. Estes agora somos nos.
Habituam-se como podem à comida picante. Mesmo quando pedimos the not spicy one, vem sempre pelo menos levemente picante. Começam a gostar, perceberam que não vai ser como quando fazíamos testes gastronómicos em casa. Não há outra coisa no frigorífico.Não ha frigorifico.
O Francês diz que depois de ter provado a minha comida, tudo lhe parece normal. E eu ando a revisitar gostos e cheiros da infância e a acrescentar recordações gustativas para o meu futuro.
Tamil Nadur sabe e cheira bem, é o que vos digo.
O grande templo de Brihadeeswarar em Thanjavur é um dos lugares mais bonitos em que estivemos este ano. Talvez por ser tão calmo em comparação ao resto da cidade. Talvez por ser a primeira vez que entro num templo do império Chola. Talvez por ter sido o nosso primeiro grande templo aqui na Índia. Nunca menosprezar a importância das primeiras vezes.
Multidões de mulheres e homens vestidos de vermelho entram descalços ao nosso lado, passam pelo enorme touro negro de Shiva para ser benzidos, entram no Vimanan e fazem a fila como nos e depois espalham-se nos vários pequenos templos à volta.
Ficamos até depois de ser noite, a apreciar a mudança de luz, a iluminação do templo. O olhar e a ser olhados. A trocar frases curtas em inglês com quem nos vinha perguntar alguma coisa.
Não me lembro do que é que falamos, sentados na grande pedra à entrada, mas sei que nos sentimos bem. Falo por todos porque foi facil de se ver, não tomo riscos vãos. Foi um bom dia.
NanRi.
Gosto muito da foto: as três indianas a olhar para vocês. Noutro local, os olhares seriam trocados, porque os exóticos eram os outros.
ResponderEliminarÉ com o "Oh bai-me à loja" que o francês anda a passear na Índia? Oh pá, que bonito!
ResponderEliminarEstou a tentar não sentir muita inveja do que descreves e como escreves mas estás-me a dificultar um bocado a vida.