13.10.14

A selva à volta do Machu Picchu



Apanhamos uma moto táxi, as malas atrás em equilibrio. No te preocupesNo te preocupes. Pagamos o preço que achamos justo, sem perguntarmos. Despachado, mas sorridente, o condutor aceita e vai-se embora, enquanto nos grita : Suerte ! Negociamos o colectivo para Ollantaytambo. Los ninos no pagan. Sentamo-nos. Esperamos sentados que quem conduz acabe de encenar uma luta com um amigo. Quantas vezes ja vi isto aqui? Alguém fecha a porta e seguimos viagem.
O meu filho prefere um lugar à janela longe de nos. Aguenta 5 minutos de sorrisinhos, elogios, festinhas nos cabelos e volta parao nosso colo. Ainda não esta pronto para o star system peruano. Uma mulher entra na carrinha em movimento. Um rapariga com uniforme da escola vai em pé ao pé da porta e sai alguns metros depois.
O rio Urubamba. A neve em cima das montanhas. Os campos cultivados aqui em baixo. Burros, porcos, galinhas na beira da estrada.

Ollantaytambo é, de uma certa forma, o sitio mais interessante do vale sagrado, o que tem o site arqueológico mais impressionante, o pueblo antigo assente sobre fundações incas, mais turistas e a ultima paragem de comboio que vem de Cusco, em direcção do Machu Picchu.
Subimos Ollantay até ao templo do sol, uma vila em forma de Lama com o seu filho, energias cósmicas, alinhamento do sol. Hierarquia bem dividida, que os Incas não eram a Santa Casa. O povo não entra.
Não entrava. Se o Inca nos visse agora.
Vamos atrás dos meus filhos e das muitas crianças de uniforme, que saem a correr da escola no pueblo antigo. Piões de madeira a rodar na estrada, carrinhos puxados por um fio, uma corda de saltar. Um grupo de meninas faz puchinhos a um menino, que foge assim que pode.
Sentamo-nos numa varanda no segundo piso, a apreciar o movimento na plaza de armas. E difícil distinguir entre os habitantes que se vestem de forma tradicional porque sim, dos outros que nos pedem para tirar fotos em troca de propinas, señor.

O comboio é pior do que imaginamos. Cheio de luxos que não precisamos, para justificar o preço exorbitante. Nenhum peruano a bordo. De repente estamos rodeados de grupos organizados, que estão dispostos a tudo para não se perderem uns dos outros qual criança que atropelei ? falam alto sobre as vidas que levam quando não estão ali, Sinto falta dos colectivos, dos habitantes do vale, calmos e atenciosos, que não podem pagar este comboio. Arrependo-me ainda mais de estar sentada neste assento ultra confortável, ao saber que o peru rail é uma companhia privatizada chilena. Nenhum deste dinheiro vais para o Peru. A população ficou privada deste meio de transporte e não ganha nada com isso.
A paisagem la fora transforma-se numa selva. Aproximamo-nos. O grupo organizado bebeu álcool, apesar de não estar habituado à altitude e eu quero sair deste comboio. Tenho demasiado espaço para as pernas e nenhum para o meu conforto moral.

Aguas calientes, o pueblo que serve Machu Picchu, é pior. Saímos do comboio para dentro de um supermercado de artesanato, não vemos o céu, perdemo-nos. 5 soles, bonita. A vila é um amontoado de prédios, mais ou menos acabados de construir, para alojar os que sonham com a cidade inca descoberta no meio da selva. Restaurantes italianos, Gelados. Estátuas kitsh de Incas. Fontes piores. Um grupo de franceses procura desesperados a padaria francesa, la nourriture péruvienne est dégueulasse. E eu, carnivora, a sonhar com alpaca. Alimentamos os pequenos o mais depressa possível. Tentamos evitar a multidão de bandeiras e fogo de artificio em apoio ao candidato a alcaide local e vamos para o quarto ver um documentario sobre o Machu Picchu. Esquecer tudo o que se faz à volta dele. Amanhã acordamos às 5 da manha, queremos ser dos primeiros a chegar la a cima. Os miúdos estão excitados. Eu fico ainda a pensar se tudo isto não foi um grande golpe de marketing em que fui cair.

2 comentários:

  1. tamb´´em já senti isso nas maiores cataratas da europa....puf sai de la a pensar que preferia uma quedazinha de água no gerez.....mas machu pichu é outra história ainda bem que valeu a pena não o tiraria assim da lista facilmente......mas ir ( o que interessa sempre é ir :)) mesmo que seja descobrindo o que não nos interessa faz parte....faz parte da caminhada seja ela qual for ...........continuação de muuuuuito boa viagem....

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Gostei muito de ter estado no Machu Picchu. Principalmente no final, quando quase toda a gente se tinha ido embora. Mas tudo o que o parasita é horrivel. Muito mais do que demasiado. Mas, se calhar, qualquer mina de ouro tem estas consequências...

      Eliminar

Pessoas

Nomadas e sedentarios