21.11.25

Bode expiatório

De cada vez que arranjamos uma desculpa para não conseguir fazer algo estamos a autosabotar-nos. Não posso ser uma artista relevante porque comecei muito tarde. Não posso dar novamente a volta ao mundo porque já não tenho forças. Não posso e a culpa não é minha. E a vida fica mais pequena. Há quem chame a isso conforto, sabedoria, amadurecimento. Mas na realidade é covardia, falta de imaginação, ânimo. É uma morte lenta.


E é a uma morte lenta da sociedade que conheciamos, com as suas imperfeições, mas com alguma esperança, que estamos a assistir. A culpa agora é dos emigrantes. Num países de emigrantes, alguém conseguiu convencer demasiada gente, que a culpa é de pessoas como nós. Há algo de reconfortante em dizer que a responsabilidade não nos cabe, que não fomos nós que deixámos as coisas chegarem onde chegaram, que votamos nas pessoas que não souberam aproveitar as muitas ajudas que vieram da Europa, que deixamos que não se consiga comprar casa, nem ter bons hospitais, nem boas escolas. A culpa é dos outros. Onde é que se lava as mãos? 







Esta semana, o tema do colectivo de escrita Largo é Bode Expiatório. Já podem ler o da Rita Maria Dantas.

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