Já tive várias vidas nesta vida e já fui uma pessoa main vert quando vivia em Paris. Tudo crescia e floria. Foi um período que acabou. Deixei as plantas na casa francesa e espero que alguém esteja a tratar bem delas. Hoje, de volta a Portugal eu ou elas somos mais selectivas. Só as mais resilientes sobrevivem e crescem e acredito que sejam felizes. Estou a falar de cactos, evidentemente. Gosto de pensar que são as minhas plantas, assim como tenho as minhas pessoas, as que ficam e resistem aos meus humores e faltas. As que gostam de ficar por perto, malgré moi.
Tive, no entanto, já aqui nesta terra à beira mar plantada, uma experiência que me aproximou tanto de plantas que me tornei eu mesma numa, com raízes e verde nos melhores dias. Numa tarde, com uns amigos, tomei pela primeira vez cogumelos daqueles mágicos, e se a primeira vez é, em certos casos a melhor, este foi um bom exemplo disso. A certa altura, tive necessidade de me afastar do grupo e fui sentar-me "sozinha" numa sombra. Não seria um sítio que eu tivesse escolhido, não estava particularmente calor e estava, em circunstâncias normais - oh, o que é normal? - melhor ao sol e acompanhada por humanos de quem gosto. Mas fui chamada. Acredite quem quiser ou souber. Sentei-me em cima de uma ervas altas e pedi-lhes em voz alta desculpa por estar a pisar com o meu corpo pesado. Tão pesado, senti um a força a chamar-me para baixo, a forçar-me a sentar, a ganhar raízes e fazer parte da terra.
Tivemos uma conversa telepática onde me explicaram que todos e tudo está ligado. Muitos acontecimentos e relações foram-me explicados como se tivesse numa terapia em que o terapeuta já soubesse tudo sobre mim. Eu sei que pareço uma maluca a escrever e revelar isto aqui. Assim é a vida. Partilho apenas, em tom de fecho, uma frase que me ficou, e não me parece agora falta de pudor, disseram-me que eu não era uma árvore como sempre pensei, não era gigante nem majestosa, eu era uma erva como aquelas que me tinham chamado a si naquela tarde, uma erva que está bem ao pé de ervas suas semelhantes, uma erva que se dobra e não quebra, algo que pode não ter muita importância, deverei ser mais humilde, não sou uma jacaranda na 5 de Outubro, ninguém me tirará fotos, nem fará manifestações ou assinará petições por mim, sou uma erva apenas e danço com o vento e vivo a minha vidinha junto dos meus. E, se estiver atenta, Sou.
E está tudo bem.
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